“Quem não gosta de samba bom sujeito não é”, já dizia Dorival Caymmi, no Samba da Minha Terra.
O dia dois de dezembro é dedicado inteiramente a ele, que segundo estudiosos teria nascido na Bahia, no século XIX, mas foi no Rio de Janeiro que criou raízes e se desenvolveu, mesmo que tenha sido perseguido.
O samba poderia ser definido como um ritmo cultural, que se originou dos batuques dos tambores africanos.
O termo “semba”, que significa “umbigada”, era empregado para indicar a dança nas festas realizadas pelos escravos, abarrotadas de música.
Uma das grafias mais remotas do termo “Samba” foi noticiada por Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, em fevereiro do ano de 1838 na revista pernambucana “Carapuceiro”, não se referindo ao gênero musical, mas sim a um tipo de festa popular de negros daquela época.
Este ritmo é produto da miscigenação entre a música africana e européia, a polca, a valsa, a mazurca, o minueto, entre outros, nos campos e na cidade.
No Rio de Janeiro a partir do ano de 1850, mais notadamente nos arredores do Morro da Conceição, Pedra do Sal, Praça Mauá, Praça XI, Cidade Nova, Saúde e Zona Portuária foi crescendo a população negra e de mestiços vindos de diferentes partes do nosso país, sobretudo da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra de Canudos.
Numa dessas comunidades pobres destacou-se o músico e dançarino Hilário Jovino Ferreira (1855/1933), responsável pela fundação de diversos blocos de afoxés e ranchos carnavalescos. Muitas baianas, descendentes de negros escravos abrigaram-se nestes bairros, sendo notórias como as Tias Baianas, no final do século XIX também chamadas de Tias do Samba.
Tia Ciata, Hilária Batista de Almeida, foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba-carioca. Nos dizem os estudiosos que um samba para obter sucesso teria que passar pela casa de Tia Ciata e ser consagrado nas rodas de samba das festanças, que chegavam a perdurar por dias.
As primeiras rodas de samba apareceram, misturando-se os elementos do batuque africano com a polca e o maxixe.
O samba carioca que havia brotado no centro da cidade saltou para as encostas dos morros e se alastrou pelos subúrbios da cidade. Estes locais seriam o celeiro de novos talentos musicais e da consolidação moderna do samba urbano carioca surgido com as “tias baianas”.
Na virada do século XIX para o século XX, o samba foi se afirmando como gênero musical público dominante nos subúrbios e, depois, nos morros cariocas.
Inúmeras composições foram criadas e cantadas em improvisos, caso do samba “Pelo telefone”, que viria a ganhar a assinatura de Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos – 1890/1974) e Mauro de Almeida (jornalista conhecido como Peru dos Pés Frios – 1882/1956), samba para o qual também havia outras tantas versões. Este samba é avaliado como o primeiro a ser gravado, nos idos do ano de 1917.
No ano de 1927 foi fundada a primeira escola de samba, que recebeu o nome de “Deixa Falar”. Localizada no bairro do Estácio de Sá, inicialmente foi um Rancho Carnavalesco (1929,1930 e 1931), evoluindo para um Bloco Carnavalesco e finalmente transformada em Escola de Samba, tendo o compositor Ismael Silva como um de seus fundadores, dentre outros.
O samba com o transcorrer dos anos tem se apresentado com muitas variações rítmicas. Dentre estas, as mais são o samba-de-breque, samba-exaltação, samba-de-terreiro, samba-enredo, sambalanço, samba-de-quadra, sambalada, samba-chulado, samba-raiado, samba-coco, samba-choro, samba-canção, samba-batido, samba-de-partido-alto e samba de gafieira.
Para os estudiosos, o partido-alto, é considerado como a configuração de samba que mais se achega da origem do batuque angolano, do Congo e regiões adjacentes.
Durante a década de 1920, quem fosse pego dançando ou cantando samba corria um grande risco de ir batucar atrás das grades. Isso porque o samba era ligado à cultura negra que era malvista naquela época, assim como acontecia com a capoeira.
O samba foi adentrando os salões da elite e pouco a pouco foi se integrando ao Carnaval, que até aquela ocasião, tinha as marchinhas como trilha sonora.
O samba-enredo, uma dessas variações, ao lado das Escolas de Samba tornou-se um dos símbolos nacionais.
O presidente Getúlio Vargas ofereceu grande suporte a popularização e consolidação do samba carioca urbano, em prejuízo a outras variedades de samba cultivadas em outras regiões do país
“Samba mesmo é no passo curto, é drible de corpo, é ‘no faz que vai, mas não vai’, é no passo largo cheio de ginga, é no balançar dos braços, é no girar constante da cabeça, mostrando um sorriso contagiante, uma combinação improvisada de movimentos que ninguém do mundo consegue fazer igual ao brasileiro”.
Nessa música brasileiríssima, a harmonia é feita pelos instrumentos de corda, como o cavaquinho e o violão. Já o ritmo é dado, por exemplo, pelo surdo ou pelo pandeiro. Com o passar do tempo, outros instrumentos, como a flauta, piano e saxofone, também foram incorporados, dando origem a novos estilos de samba.
A chegada do rádio e o talento de cantores como Carmem Miranda, Aracy de Almeida e Francisco Alves, perpetraram o samba, cada vez mais popular em todo o país.
“Aquarela do Brasil”, de autoria de Ary Barroso, no ano de 1939 gravada por Francisco Alves se transformou no primeiro sucesso musical brasileiro no exterior.
O samba está presente em todas as regiões do Brasil e, em cada uma delas, são reunidos novos elementos ao ritmo, sem contudo, consumir sua cadência característica.
O samba da Bahia foi influenciado pelos batuques e canções indígenas, enquanto no do Rio, sente-se a presença do maxixe. Em São Paulo, as festas das colheitas de café nas fazendas seria a genealogia da influência da relevância dos sons mais graves da percussão no samba paulista.
O samba moderno urbano tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variável, com aproveitamento consciente das probabilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos quais seriam juntadas uma ou mais partes, ou instâncias, de versos declamatórios.
O mais importante é que o samba completa 103 anos, mais vivo do que nunca. Conquistando cada dia mais corações, fazendo perpetuar a raiz dos povos africanos, que buscavam na música e na dança um acalanto para seus fardos e sofrimentos.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior