Fundado em março de 1947, o tradicional Império Serrano, uma cisão da Prazer da Serrinha, já iniciou com o pé direito no carnaval carioca, uma vez que já nos primeiros quatro anos de desfile da agremiação, conquistou nada mais nada menos do que um tetracampeonato nos carnavais de 1948, 1949, 1950 e 1951.
Numa época em que os enredos das escolas de samba no geral eram sobre passagens de nossa história oficial ou homenagens à vultos que participaram de grandes acontecimentos históricos nacionais, no carnaval de 1949 a escola da Serrinha trouxe o enredo “Exaltação à Tiradentes”, desfile arquitetado pelo carnavalesco Antonio Caetano.
A vitória da Serrinha nesse carnaval de 1949 veio para consolidar o Império Serrano como a terceira força do carnaval do Rio de Janeiro na época e talvez a principal escola de samba dos anos 50.
Nesse ano o Império Serrano foi a 24ª. escola a entrar a pista de desfile, tendo obtido o primeiro lugar ao somar um total de 150 pontos dados pelo corpo de jurados da época.
Quem não lembra dos versos do samba que ilustrou este enredo, de autoria dos compositores Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado, que se perpetuaram no tempo e não deixam de povoar a memória dos apaixonados pelo carnaval carioca?
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de Abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado
Pela nossa liberdade
Este grande herói
Para sempre há de ser lembrado
A letra desde samba imortal foi escrita para exaltar a figura de Tiradentes, o herói que nos libertaria do jugo opressor, participante do movimento emancipacionista que se denominou de Inconfidência Mineira.
Esse samba mais contemporaneamente foi gravado em 1955 pelo sambista Roberto Ribeiro, mas com o título “Tiradentes”, tendo sido o primeiro samba-enredo a ser gravado em disco. Posteriormente houveram regravações desta obra prima popular nas vozes de Elis Regina, Cauby Peixoto, Chico Buarque e também por Jorge Goulart.
O carnaval do Rio de Janeiro no ano de 1949 contou com dois desfiles. No desfile promovido pela Federação Brasileira de Escolas de Samba (fundada em 1947, existiu somente até o ano de 1952) teve como escola vencedora o Império Serrano e no desfile organizado pela União Geral das Escolas de Samba do Brasil (fundada em 1934) teve como grande campeã a Estação Primeira de Mangueira.
A vitória da escola da Serrinha incomodou as demais agremiações nesse carnaval e contra as críticas provenientes dos descontentes, Aniceto do Império acabou compondo o samba intitulado “Título Comprado”, que entre outros versos dizia o seguinte:
“Se o título é comprado, alguém tem para vender
Será que eu fiz o que já fez você?”
Em outras oportunidades a figura de Tiradentes também foi recorrente nos desfiles do carnaval brasileiro, exemplo disso Unidos do Viradouro 2008.
Mas no 21 de abril outra grande data também é comemorada, a fundação de Brasília, nossa capital federal, fundada no ano de 1960 pelo então Presidente Juscelino Kubitschek, tornando-se então formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro.
Brasília, que ostenta o título de Patrimônio da Humanidade, foi construída no meio do cerrado, em menos de quatro anos, a partir de uma concepção modernista de urbanismo e arquitetura. A cidade foi o ápice do projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), conhecido pelo lema “Cinquenta anos em cinco”.
O plano urbanístico original de Brasília, conhecido como “Plano Piloto”, foi elaborado pelo urbanista e arquiteto Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956 por Lúcio Costa, pelo também arquiteto Oscar Niemeyer e pelo engenheiro estrutural Joaquim Cardozo.
No desfile das escolas de samba Brasília passou aos olhos da platéia presente na Marquês de Sapucaí no desfile do carnaval de 2010 por iniciativa da Beija Flor de Nilópolis, que presentou naquele ano o enredo “Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília: do sonho à realidade, a capital da esperança”, em comemoração aos 50 anos de fundação da cidade.
Esse desfile foi concebido pela Comissão de Carnaval da escola, sendo de Alexandre Louzada a autoria do enredo.
Na época, Louzada deixou bem claro que seu desejo era mostrar um lado de Brasília que as pessoas não conheciam, tendo se inspirado nos poemas de Clarice Lispector sobre Brasília.
“A ideia de levar a capital para o interior já era antiga, começou com os inconfidentes. José Bonifácio, logo após a independência, batizou de Brasília o nome da futura capital do país. Floriano Peixoto mandou a expedição Louis Cruls, que demarcou o território que hoje se conhece do Distrito Federal. Só anos depois que Juscelino Kubitschek realizou o antigo sonho”. (Alexandre Louzada – 2010)
A escola apresentou na Sapucaí oito carros alegóricos e 40 alas, num total de 3.700 integrantes.
O desfile apresentado pela escola nilopolitana, que encerrou a primeira noite de desfiles, no final levou a agremiação ao terceiro lugar no carnaval carioca daquele ano, com um total de 299 pontos.
O samba que embalou este desfile era de autoria do grupo de compositores formado por Picolé da Beija Flor, Serginho Sumaré, Samir Trindade, Serginho Aguiar, Dilson Marimba e André do Cavaco, com a interpretação do insubstituível Neguinho da Beija Flor.
O refrão deste samba era forte e dizia o seguinte:
“…Sou candango, calango e Beija-Flor!
Traçando o destino ainda criança
A luz da alvorada anuncia!
Brasília capital da esperança…”
O desfile da Beija-Flor, na primeira noite de desfiles daquele ano foi como que uma viagem pela história da capital do Brasil, tendo sido escolha da agremiação privilegiar a ousadia dos pioneiros e a esperança no amanhã da cidade.
O beija-flor, símbolo da escola surgiu na comissão de frente, coreografada pela bailarina e coreógrafa Ghislayne Cavalcanti.
Foi um desfile onde o tamanho das alegorias apresentadas, nível de acabamento e efeitos de iluminação chamaram a atenção do público assistente deste desfile.
A azul e branco de Nilópolis esquivou-se das representações mais simples da capital federal e criou carros dedicados a mitos, aos bandeirantes e até mesmo ao Egito, ressaltando alguma ligação deles com a capital.
Nesse carnaval as mais de 120 baianas foram divididas em duas alas para o desfile, já que desse total, 60 baianas desfilam vestidas de índias para ajudar a contar a história de Brasília.
Nesse mesmo ano, mas no carnaval de São Paulo, a Tom Maior também trouxe Brasília como enredo, desfile este sob responsabilidade do carnavalesco Roberto Szaniecki, com a proposta de mostrar a história da cidade desde sua fundação, a chegada dos candangos (como ficaram conhecidos os trabalhadores que atuaram na construção da capital federal) e citando o trabalho dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Em 2010 Brasília ainda foi mostrada nos desfiles da Mocidade Unida da Glória, do espírito Santo e a escola de samba Presidente Vargas de Manaus, que apostou no enredo “No Planalto Central nasce a nova capital, Brasília 50 anos de Glória”, mas no fim acabou impedida de desfilar, situação esta que fez a escola repetir o enredo no carnaval de 2011, mas desta vez sob o título “Uma homenagem amazônica aos 50 anos da Capital do Brasil”.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior