Quantos grandes nomes do carnaval jazem na poeira do esquecimento da nova geração? É o que acontece, incrivelmente, com o Mestre Marçal.
Filho do compositor Armando Vieira Marçal, Mestre Marçal cresceu com a presença quase onipresente do samba em sua casa. Inclusive, mais tarde o sambista gravou muitas composições do pai. Na década de 1940, inicia carreira como cantor, e apresenta-se em pequenas casas do Rio. Como instrumentista, participa do elenco de músicos de importantes gravadoras, como a Odeon, durante oito anos, e da Rádio Nacional, por mais de duas décadas.
Ganha o apelido de Mestre Marçal na década de 1960, quando exerce a função de mestre de bateria de escolas de samba. Inicia a carreira no Império Serrano. Nessa escola se torna responsável pela introdução de tímpanos – instrumento até então relacionado à música erudita –, que ele mesmo toca na bateria da escola. Torna-se precursor de inúmeras inovações e extrema eficiência, pois conhecia todos os instrumentos de ritmo e sabia orientar e corrigir os músicos com precisão e propriedade.
Em 1970, comanda a bateria da Portela na memorável execução do samba-enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”, que conquista o carnaval daquele ano. A escola repete o feito nos anos de 1980 e 1984, último título levantado pela agremiação de Madureira. Em 1985, saiu da Águia de Madureira problemas políticos, assim como outros portelenses ilustres. Seu destino seria a Unidos da Tijuca.
Em 1975, Mestre Marçal conseguiu juntar alguns dos principais artistas do país para fazer o coro do seu primeiro álbum. O coro tinha Chico Buarque, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Djavan, Clara Nunes, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Miúcha, Cristina Buarque, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Conjunto Nosso Samba e João Nogueira. Era o coro milionário”, contou em entrevista para o programa “Ensaio”, da TV Cultura, em 1990.
Também atuou como comentarista dos desfiles de Escolas de Samba, pela Rede Manchete.
Alguns de seus discos tinham a temática das Escolas de Samba, como A Fantástica Bateria de Mestre Marçal, e seu último trabalho, Sambas-Enredo de Todos os Tempos.
O sambista faleceu no dia 09 de Abril de 1994, aos 64 anos, no hospital Mário Kroeff, zona norte do Rio. Segundo parentes, Mestre Marçal sofria de câncer nos pulmões e problemas cardíacos. No hospital, ele sofreu uma parada cardíaca, mas os médicos o reanimaram. A equipe médica não conseguiu reverter o quadro após a segunda parada. O mestre está enterrado no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap (zona norte).
Como escreveu o jornalista Paulo Luna em 2015 para o recanto das letras “Seus discos deveriam estar sendo tocados constantemente em emissoras de Rádio e Televisão, e seu nome reverenciado a cada carnaval, assim como os nomes de tantos outros sambistas relegados ao esquecimento. Mestre Marçal é uma lenda a ser contada e recontada por todos até o dia em que sua obra brilhe e seja cultuada na intensidade que merece“.