As viradas de mesa e o Carnaval de cabeça pra baixo

Ontem para a alegria dos sambistas, se valeu o que estava escrito.
Mas ao longo da história no carnaval, nem sempre foi assim.
“Joga pedra na Geni” (Imperatriz)?
Todos os barracões possuem seus telhados de vidro.

Em 1960 ocorreu um dos primeiros registros que se tem do chamado “resultado no tapetão”.
A Portela se saiu vencedora com a velha Manga em segundo. Só que ambas perderam pontos por atraso e o título ficaria com o Salgueiro.
Natal da Portela, sabendo que o título estava perdido, se aproximou e deferiu um soco na cara do policial que trabalhava na apuração. O que gerou uma confusão que anulou o evento.
No dia seguinte a prefeitura assume o erro pelos atrasos e declara cinco campeãs que foram a própria Portela, Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e Unidos da Capela.

Em 1971 Mocidade e UPM terminaram nas duas últimas colocações e caíram para o segundo grupo, mas um convite da Secretaria de Cultura, com o intuito de realizar um “superdesfile” em 1972, em comemoração aos 150 anos da Independência, permitiu que ambas desfilassem no grupo principal.

Após o resultado do desfile de 1974, a Riotur anunciou a manutenção das duas últimas escolas na elite (Vila Isabel e U. São Carlos). Especula-se que o fator a contribuir para que as duas últimas colocadas não tenham sido rebaixadas, tenha sido a oportunidade da ditadura promover uma espécie de compensação à Vila, que sofreu interferência direta da censura no período pré-carnavalesco. O enredo “Aruanã-açu”, sobre a tribos de índios do Alto Xingu, tinha um tom crítico que desagradou o governo, e a Vila foi obrigada a mudar a sua abordagem, passando a exaltar a Transamazônica. A escola havia sido forçada a retirar de sua disputa o samba de Martinho da Vila, cuja letra foi considerada subversiva.

Em 1975 apesar do regulamento prever a queda de quatro escolas para o segundo grupo, a Riotur estabeleceu no dia da apuração que nenhuma escola seria rebaixada. Assim, as últimas colocadas (Ilha, São Carlos, Em Cima da Hora e Lucas) se livravam da degola.

No carnaval de 1981, Império e Vila Isabel terminaram a apuração rebaixadas, mas a Associação das Escolas de Samba e a Riotur resolveram mantê-las na elite.
“O carnaval é a maior verdade da cultura popular. A Império Serrano é uma escola tradicional e a Vila tem feito lindos carnavais. Não acho que mereçam a frieza de um regulamento. As duas estão à altura do primeiro grupo e eu não me conformo que desçam”, declarou o presidente da Riotur João Roberto Kelly.

Ao final do carnaval do centenário da abolição (1988) a Imperatriz Leopoldinense e a Unidos do Cabuçu terminaram nas últimas colocações mas se mantiveram na elite graças à Liesa.
A entidade responsabilizou-se pelo atraso da verde e branco, causado pela queda de um fio de alta tensão durante a passagem da escola anterior, a União da Ilha, e optou pelo não rebaixamento da agremiação, junto com a Cabuçu.

1993, Caprichosos e Unidos da Ponte foram beneficiadas sob a justificativa de que os desfiles com sete escolas por dia terminariam muito cedo, a Liesa, reunida em plenária, anunciou decisão favorável à manutenção na elite das duas últimas colocadas.

Denúncias de fraude no julgamento do segundo grupo de 1993, que a princípio impediriam a ascensão de São Clemente e Villa Rica (obtida na justiça), levaram a Liesa a decidir antecipadamente pela manutenção do grupo especial das rebaixadas de 1994, Império Serrano e Unidos da Ponte, esta última tinha no seu comando do presidente da Liesa Paulo de Almeida.

2017 para muitos talvez seja o carnaval mais trágico da história do Sambódromo. Os acidentes com as alegorias da Paraíso do Tuiuti e da Unidos da Tijuca, que ocasionaram a morte da jornalista Elizabeth Ferreira Jofre e deixaram dezenas de feridos, fez com que a Liesa anunciasse antes mesmo da apuração a suspensão do rebaixamento da última colocada. A maior beneficiada, na prática, foi a escola de São Cristóvão, que terminou em último lugar. Porém muitos especialistas argumentaram, no entanto, que a decisão fora motivada com o intuito de proteger a Unidos da Tijuca, que cujo desfile fora mais seriamente comprometido pelos acidentes e corria mais riscos na apuração. Na abertura dos envelopes, notas inesperadas aumentaram os rumores sobre a “blindagem” da escola do Borel comandada pelo empresário Fernando Horta, um dos nomes mais influentes na cúpula da Liesa.

Em 2018 Imediatamente após o rebaixamento da Grande Rio, penúltima colocada no desfile, as escolas de samba, iniciaram um movimento para livrar da degola a agremiação de Caxias.
Sob a justificativa de que a todas as escolas enfrentaram dificuldades com a crise econômica e o corte de verbas da prefeitura para o carnaval, e também de que o rebaixamento da Grande Rio teria ocorrido por uma penalização indevida motivada pela quebra de um de seus carros alegóricos.
A manobra beneficiou por tabela, o Império Serrano, que terminou em último lugar.

Por Waldir Tavares
Fonte : Arquivos O Globo
Fotos: Equipe de Artes Carnaval N1

 

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