A Literatura Inspira o Samba: Uma Nova Tradição para o Carnaval Carioca?

O Carnaval de 2024 foi um marco histórico para a relação entre samba e literatura. Diversas escolas de samba basearam seus enredos em obras literárias contemporâneas, consolidando um matrimônio entre as duas formas de arte. Quatro das seis melhores colocadas Grupo Especial buscaram inspiração na literatura para seus desfiles. Mas será que essa união é apenas uma tendência passageira ou tem potencial para se tornar uma nova tradição no carnaval carioca?

Davi Kopenawa entre o mestre-sala Sidclei e a porta-bandeira Marcella em visita ao Salgueiro Foto: Lucas Landau / ISA

O que diferenciou este ano foi a profundidade da simbiose entre literatura e samba. Escolas como Grande Rio (“Meu Destino é Ser Onça“, de Alberto Mussa), Portela (“Um Defeito de Cor“, de Ana Maria Gonçalves) e Salgueiro (“Hutukara: A Queda do Céu“, de Davi Kopenawa e Bruce Albert) não apenas homenagearam autores e obras, mas beberam diretamente das tramas, personagens e simbolismos dos livros para criar desfiles inovadores e emocionantes.

Foto: David Normando

A força da literatura também se fez presente em outros enredos. A Porto da Pedra explorou a sabedoria popular com o “Lunário Perpétuo“, enquanto a Imperatriz Leopoldinense, vice-campeã do carnaval, encantou com a história da “Cigana Esmeralda”, baseada em um cordel centenário de Leandro Gomes de Barros.

Foto: David Normando

Exemplos Históricos:

Embora a homenagem a autores e obras literárias não seja novidade no samba, a prática de adaptar uma narrativa ficcional completa para o carnaval é inovadora. Homenagens a grandes nomes das letras como Monteiro Lobato já aconteceram, mas a diferença reside na exploração de uma história específica e seus elementos.

 Foto: Vítor Melo

Uma Celebração ou Apropriação Cultural?

A ausência de pagamento aos autores pela utilização de suas obras pelas escolas de samba é um ponto crucial que gera debates acalorados. De um lado, há quem defenda a gratuidade da cessão dos direitos autorais, alegando que o desfile representa uma grande homenagem ao autor e contribui para a divulgação de sua obra. Do outro lado, argumenta-se que o autor é um profissional que deve ser remunerado pelo seu trabalho, assim como outros profissionais envolvidos no carnaval.

Quando as Histórias Ganham Vida na Avenida – O sucesso de “Um Defeito de Cor”

Foto Rio Carnaval

Por outro lado, o caso de “Um Defeito de Cor” demonstra que a utilização da obra literária em um desfile de samba pode gerar um aumento significativo nas vendas do livro. Ainda é cedo para determinar se a união entre samba e literatura se tornará uma nova tradição no carnaval carioca. No entanto, o sucesso dos enredos baseados em livros em 2024 indica que essa tendência tem potencial para ser duradoura e trazer benefícios para ambas as formas de arte.

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