Coreógrafos da Comissão de Frente da Portela, a dupla Leonardo Senna e Kelly Siqueira foram os responsáveis por quebrar o jejum de notas máximas, necessárias para gabaritar o quesito no ultimo carnaval. Feito que Majestade do Samba não alcançava desde o carnaval de 2001. Kelly conta sobre a responsabilidade de fazer parte do projeto que levou para a avenida o centenário da escola.
“Esse ano a expectativa era enorme! Todos queriam estar no desfile do centenário da Portela! Apesar da satisfação de ter gabaritado no nosso quesito, a escola teve problemas técnicos e perdemos pontos preciosos, o que não nos deixou espaço para a comemoração, porque o Carnaval é muito coletivo. Cada um se esforça em seu quesito, mas somos um único corpo, uma única escola!” explica.
No ultimo carnaval a Portela teve problemas de pista, caso de uma alegoria que quebrou, causando buracos durante o cortejo azul e branco. O desempenho ruim fez com que, durante a apuração, a Águia de Madureira ficasse próxima ao rebaixamento. No final obteve a décima colocação. Sendo este o segundo pior resultado em sua história.
“Quando ainda na avenida, vimos que a escola estava com problemas, um silêncio aterrador começou a tomar conta de todos. Como se estivéssemos vivendo um luto, uma grande perda, um vazio. Esse sentimento continuou nos dias seguintes ao desfile, ninguém esperava por aquele resultado e a tristeza e frustração tomou conta“
“Hoje resilientes, o clima está melhor e estamos conseguindo virar a página. Fica a experiência obtida e o aprendizado conquistado. Sinto que ainda tem muita dor quando falamos sobre o desfile, mas na Portela tem muita paixão envolvida“
Identidade com os Portelenses
A dupla estreou na escola em 2017, ano do último campeonato da Portela, e se despediram no ano seguinte. Após cinco anos, Leo e Kelly retornaram e assinaram as comissões de frente portelense nos carnavais de 2022 e 2023.
“É uma Escola muito importante e com uma torcida intensa e apaixonada, portanto trabalhar na Portela é caso de muita responsabilidade. Quando recebemos o convite para nossa primeira Comissão de Frente, eu e Léo, já estávamos fazendo Carnaval há anos, mas não nos atentávamos a alguns detalhes, que fez toda a diferença na nossa história dentro da agremiação. Havia 33 anos que a Portela não era campeã, além do longo tempo sem receber notas máximas“.
“Naquele ano, 2017, conseguimos o campeonato, a Comissão foi bem, mas não gabaritou. Voltamos para a escola em 2022 e a situação ainda não tinha mudado. A pressão já estava instaurada. Não era pessoal, mas era uma sombra entorno do quesito. Todos sempre nos lembravam que a comissão precisava trazer as notas. Fizemos uma boa apresentação, trouxemos notas 10, mas não gabaritamos. Entramos em 2023, buscando mais do que nunca, acabar com esse jejum. Aí a causa já era nossa! Os portelenses contavam com isso! Todos os departamentos estavam na torcida pela gente! Era quase uma competição paralela”
Carnaval de 2024
O ator e coreógrafo Leo e a professora e bailarina Kelly estão de contrato renovado para mais uma temporada na Portela. A coreógrafa fala sobre seu orgulho de trabalhar três anos consecutivos defendendo o manto azul e branco.
“Cada vez mais sentimos a gratidão e confiança da comunidade e da direção em nosso trabalho. A Portela nos dá muita liberdade, e está sempre muito aberta a ouvir e a troca é muito rica. Esse último projeto, especialmente, que pegamos no início, os carnavalescos, Renato e Márcia Lage, sempre ressaltaram que tínhamos autonomia total na criação, desde a concepção até a escolha para formação das equipes. Quando falo de trabalhar com liberdade, falo também da abertura que temos com todos os profissionais, que estão acessíveis a qualquer momento para ajudar“.
Em 2024, a Portela vai levar para a Sapucaí o romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves. O enredo traz uma outra perspectiva da história, sob o imaginário de Luisa Mahim, mãe do poeta e abolicionista Luís Gama. Luisa foi ex-escrava e teve papel fundamental nas revoltas dos negros que aconteceram na Bahia do século XIX, sendo a Revolta dos Malês, de 1835, a principal delas. O enredo esta sendo desenvolvido pela dupla de carnavalescos recém contratados, Antônio Gonzaga e André Rodrigues. Kelly Siqueira e Léo Senna já trabalham nas pesquisas, idéias e propostas.
“Estávamos na Portela quando ela foi campeã, depois de 33 anos, e dirigimos a Comissão que gabaritou depois de 22 anos! Estamos muito felizes mas a comemoração desse feito, que ainda não aconteceu por completo. Foi adiada para 2024! O desafio agora é gabaritar e também conquistar o campeonato, para que toda a escola celebre junto. Estamos com foco e um projeto lindo já está sendo estruturado pela escola, para que em 2024, possamos escrever um novo final”, finaliza Kelly Siqueira.
Edição Waldir Tavares