Acesso RJ – União do Parque Curicica apresenta SINOPSE do Enredo para 2020

GRES UNIÃO DO PARQUE CURICICA
CARNAVAL 2020
“Fulô de Maria”
SINOPSE
Abertura
“Mandacaru quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração”
Compositores: Jose De Souza Dantas Filho / Luiz Gonzaga Assunção
 “O xote das meninas”
Foi na Serra do Umbuzerio, que vista de longe parece um vulcão, conhecida como Peito de Moça, entre mandacarus, facheiros e xiquexiques que Dona Déa pariu Maria Gomes de Oliveira, menina esquálida que mais tarde se tornaria Maria de Déa, em referência à mãe.
A monotonia dos dias sem fim no sertão e o exílio voluntário da casa dos pais seriam trocados aos quinze anos pelo casamento com Zé de Neném. Um primo distante, que deixaria seu coração mais espinhoso que os mandacarus das catingueiras que cercavam a casa onde nascera e crescera. Mas como todo período de seca tem seu fim, quem diria que o encontro com um autêntico cabra da peste faria Maria “fulorar”.
Setor 1
“Ole mulher rendeira
Ole mulher renda
A pequena vai no bolso, a maior vai no embornal
Se chora por mim não fica, só se eu não puder levar”
Lampião
Assunte bem porque essa história é uma aventura pra lá de arretada! Maria era uma cabrita que sabia bordar e não arredava para “homi” nenhum. Sentiu seu coração desabrochar quando espiou aquele cabra da peste, com cabeleira de cavaleiro medieval que apesar dos cambitos arrochava aquelas bandas do sertão.
Era o paladino das caatingas, que estava em busca de um lugar para fundar o Reino do Sertão, para que junto dos seus escudeiros pudessem deitar nas redes e aproveitar das riquezas conquistadas durante a empreitada pelo cangaço. Encontrou naquela figura forte, cuja a robustez se podia antever pelos tornozelos rotundos que os vestidos cortados abaixo dos joelhos deixavam à mostra a possível companheira até o fim dos seus dias. Precisava tirar a teima: pediu para bordar lenços de seda e que dali a duas semanas iria buscar. Quando voltou não só os pegou como partiu com a moça. Logo percebera que de frágil Maria não tinha nada, afinal não era comum largar um casamento para partir para uma aventura no cangaço.
Aquela moça mostraria ser a fortaleza do cavaleiro. Seguiu em seu burrico velocípede deixando para trás seu passado monótono na Malhada da Caiçara. Logo se embrenhara no mato junto ao bando de Lampião. O primeiro destino era encontrar o Santo na Terra para abençoar a caminhada e que iria dizer o local exato da fundação do reino. Iniciou-se a jornada. As noites eram repletas de orações e cantorias: Maria de Déa pegava seu bandolim e Lampião acompanhava com sua sanfona, olhavam para o céu e cantavam para a Estrela Dalva, dizia a lenda ser uma moça perdida e que não deveria ouvir música.
Setor 2
“Meu Padim Pade Ciço
Me Clareie a inspiração
Pra falar de uma mulé
Arretada feito o cão”
Soraia da Brasa, Cordel Maria Bonita
Foi chegando em Juazeiro do Norte, recebido em plena Folia de Reis que o cavaleiro Virgulino encontrou quem tanto precisava: era Cícero Romão Batista, o Padim Pade Ciço. A festa pára. Todos reverenciam Maria e os heróis do povo, Lampião vai em direção ao padre, pede sua benção e um favor: que Padre Cícero abençoasse sua união com Maria de Déa. Uma festa digna de um império foi preparada. Das melhores iguarias do sertão, sem faltar aquela birita para comemorar o casamento. Aquela bênção era mais que um simples matrimônio, Ciço, com sua fé, fechou o corpo dos dois num ritual mágico e agora nada nem o cramunhão os deteriam. Ainda profetizou que para alcançar a terra prometida os cavaleiros precisariam passar por três provações. E assim foi feito. A caravana de bandoleiros partiu em busca do Reino do Sertão.
Marcharam com os seus cavalos e burricos levando os tesouros e a esperança do descanso. Foi quando toparam com o primeiro desafio: a longa seca e o sol de rachar o quengo. O bando andou por dias sob o sol e o chão rachado. Não se avexaram e venceram a seca e a fome. Resistiram. Aviaram-se às margens do velho Chico e para atravessá-lo era preciso vencer sua guardiã: a Serpente de fogo. A peleja entre a água do rio e o fogo da cobra grande foi dura, até que Maria deu uma cipoada e arredou aquela fila duma égua para os cafundós do fundo do Rio.
Por fim, a batalha mais difícil, quando ao sol do meio-dia, o bando se aprochegou do tinhoso que bulia com uma dama toda emperiquitada.  Foi um bafafá. O bando queria passar, mas o cão não deixou.  As artimanhas do coisa-ruim colocaram o bando em perigo, mas arretada que só, Maria acabou com a raça do cramunhão. Foi nessa batalha vitoriosa que Maria de Déa passou a ser chamada de Maria Bonita: a bela cavaleira de Lampião que venceu a morte.
O caminho estava livre. Os bandoleiros haviam chegado em Poço Redondo e ali fundaram o Reino do Sertão. A Rainha do Cangaço, de fala brava, não tão rebuscada assim porém dura e justa, vestia-se com o encarnado do sertão, “muié” porreta, tinha tanto poder de liderança quanto o próprio imperador, o Lampião, pais do pobres, o primeiro homem do nordeste oprimido pela injustiça dos poderosos  a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade, um símbolo de resistência, que tirava dos ricos para  dividir com os mais necessitados, de fala mansa, apesar da dureza de seus atos e que gostava de uma birita, caíram em uma cilada. Foram deixados levar por um amigo ex-capitão das forças volantes, tipicamente trajadas de verde e amarelo que através de um golpe bem armado tomou-lhes o poder, transformando o paraíso da caatinga num lugar de domínio dos poderosos e opressores.
Setor 3
“Acorda, Maria Bonita
Levanta, vai fazer o café
Que o dia já vem raiando
E a polícia já está de pé”
Antônio dos Santos
Como era de se esperar, o império do Sertão, dominado pelo ex-capitão que não sabia muito bem o que estava fazendo e nem gostava dos nordestinos, só querendo saber do poder acabou afundando em uma crise. Foi aí que os bandoleiros expulsos, liderados por aquela mulher de fibra, que fora tirada o reinado de maneira injustificável, convocou seus arautos a tocar por todo o reino, ao som de um xaxado de guerra e acordar todas as Marias, Josés e Joãos para que o “acorda-povo” chegasse a todos. Unidos aos cavaleiros de Maria Bonita e Lampião, armaram um contragolpe, uma emboscada para expulsar os capitães e tenentes e assim retomar o poder no Reino do Sertão.
Com o povo unido, liderado por aquela mulher e com suas armas de guerra: pediram ajuda aos professores empunhando livros e cadernos, armaram a tocaia numa gruta. Foi nessa batalha em que os milicos foram derrotados pelo conhecimento do povo e o capitão vestido de verde e amarelo enfim foi tirado do poder.
Assim termina esse causo. A Rainha do sertão retoma o poder e reina junto de Lampião. Todo o povo nordestino contra as maldades e o preconceito. Foi desse jeito que aquela menina arretada, chamada Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, Basé, que depois de derrotar o coisa-ruim virou Maria Bonita, a flor de mandacaru que desabrochou e se tornou a mulher mais importante do cangaço, a que punha cabresto em Lampião, a flor mais linda do sertão, a Fulô de Maria.
Rio de Janeiro,Outubro de 2019.
Autor, pesquisa e sinopse
Renato Esteves
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