O APRENDIZ QUE VIROU MESTRE
Após formar-se em técnico em desenvolvimento mecânico, Alex de Souza durante quatorze anos trabalhou na Fábrica Bangu. A atuação no mencionado estabelecimento lhe possibilitou adquirir o conhecimento sobre materiais têxteis e aprender a trabalhar a utilização das cores. Quando ainda atuava na Fábrica, Alex ingressou no curso de moda, especializando-se na área de estilismo em confecção industrial.
No ano de 1990, o artista iniciou os seus primeiros passos no mundo do carnaval, quando foi trabalhar como assistente de figurino do carnavalesco Renato Lage, então atuando na Mocidade Independente de Padre Miguel. Durante o período (1990-1995) com que trabalhou com Lage, Alex aprendeu a desenvolver fantasias de destaque, composição e ala, e a roteirizar um enredo.
Sua primeira oportunidade de desenvolver um carnaval ocorreu no ano de 1996, quando foi convidado pela União de Jacarepaguá, então no grupo D, onde o artista pôde colocar em prática o aprendizado que recebeu durante os seis anos com que trabalhou com Renato.
Após essa experiência, Alex voltou a trabalhar com Renato Lage, criando os figurinos de destaque para o carnaval da Mocidade em 1998. nesse mesmo ano foi convidado a produzir o carnaval da Em Cima da Hora. Na agremiação de Cavalcante, despontou para o mundo do carnaval como um artista talentoso e criativo.
Depois foi para a Leão de Nova Iguaçu, no qual ficou de 2001 a 2003 e despertou o interesse de várias escolas.
No ano seguinte acertou com a Rocinha, e sua ida para a agremiação de São Conrado significou o momento de crescimento e amadurecimento do artista. Com o enredo “O Mago do Novo, João do Povo”, que na ocasião homenageava os 70 anos de Joãozinho Trinta, logo de cara em 2004, consegue o terceiro lugar.
Em 2005, chega o momento da ascensão de Alex de Souza ao Grupo Especial, ao conquistar o campeonato do Grupo de Acesso. O enredo “Um Mundo Sem Fronteiras”, fez seu trabalho ser reconhecido pelo público e pela crítica de forma definitiva.
Estreando no grupo especial, em 2006, Alex seguiu apostando num enredo com mensagem crítica. A Rocinha apresentou “Felicidade não tem preço”. Com uma abertura arrasadora, infelizmente a escola desfilou sob forte chuva, que fez com que as fantasias pesassem ainda mais e vários carros apresentaram problemas na parte mecânica. A escola estourou em seis minutos o tempo de desfile, e o prejuízo na quarta de cinzas custou a permanência da escola no Grupo Especial. A partir dali, Alex encerrava a parceria com a Rocinha.
No Carnaval de 2007, Alex de Souza voltou para a Mocidade, agora como carnavalesco, mas saiu devido as condições financeiras da escola.
Em 2008, Alex foi fazer carnaval da Vila Isabel, onde levou os enredos “Trabalhadores do Brasil”, “Teatro Municipal”, no qual dividiu com Paulo Barros e sobre a vida de “Noel Rosa”.
Para o carnaval de 2011, acertou para ser carnavalesco da União da Ilha, Mesmo após o incêndio na Cidade do Samba, onde perdeu uma alegoria e remontou depois junto com as fantasias, conseguiu fazer um desfile que se fosse julgada estaria nas campeãs. Para muitos talvez foi o melhor desfile do ano. Faturando inclusive o Estandarte de Ouro de Melhor Escola.
No carnaval de 2012, Alex de Souza permaneceu na União da Ilha e trouxe o enredo ‘De Londres ao Rio: Era uma vez uma… Ilha’, que estabeleceu conexões entre a Ilha do governador e outra ilha, a Inglaterra, em função dos Jogos de 2012, em Londres, e de 2016, no Rio. Alex levou para avenida personagens representando mitos, fábulas e tradições britânicas com reis, rainhas, a guarda inglesa, heróis errantes, cientistas e grandes nomes da música e do cinema. ingleses.
A literatura também foi lembrada, com alusões à obra de Shakespeare, e aos personagens Sherlock Holmes e os do livro Alice no País das Maravilhas. Um dos pontos altos do desfile foi a homenagem de Alex de Souza a ex-carnavalesca Maria Augusta, que veio representando a Rainha Elizabeth na comissão de frente da escola.
Já em 2013, a abertura do desfile que homenageou Vinícius de Moraes trouxe uma grande barca em estilo remetendo à que a agremiação já havia apresentado em 1982, no marcante desfile “É Hoje”. O desfile teve uma das maiores alegorias do desfile desse ano. tendo a Garota de Ipanema e companheiros de Vinicius.
Em 2014, Alex realizaria a apresentação mais marcante de sua carreira e da trajetória recente da União da Ilha.Com “É Brinquedo, é brincadeira. A Ilha vai levantar poeira!”,. Surpreendendo a todos, a escola conquistou um quarto lugar e voltou no sábado das campeãs após vinte anos.
No ano seguinte, o enredo “Beleza Pura?” passeou de maneira bem-humorado pelos padrões de beleza da história humana, brincando com os contos de fadas, o universo da moda, das academias e das celebridades. Um decepcionante nono lugar acabou dando fim ao feliz casamento entre a União da Ilha e o carnavalesco.
Para 2016, ele contou com auxílio de Martinho da Vila para a concepção do enredo “Memórias do ‘Pai Arraia’ – Um sonho pernambucano, um legado brasileiro”, em homenagem aos 100 anos de vida do político de esquerda Miguel Arraes, famoso por ser governador de Pernambuco. A narrativa trazia também referências evidentes ao estado do homenageado, como a literatura de cordel, na comissão de frente, e o carnaval nordestino, ao final do desfile. Ao final da apuração, a escola amargou a 8ª colocação, deixando a sensação para o grande público de que poderia ter voltado ao sábado das campeãs.
Seguindo o padrão temático da Vila Isabel, Alex de Souza trouxe “O Som da Cor” para o carnaval 2017. O enredo era uma ponte entre os estilos musicais da América, partindo da negrura dos tambores africanos. Problemática no pré-carnaval, a Vila enfrentou muitas dificuldades financeiras e de barracão para colocar seu carnaval na rua. O desfile tornou-se reflexo disso: muitos problemas de acabamento nas alegorias e reproduções aquém do esperado retiraram a escola do bairro de Noel da briga por uma melhor posição.
A Vila amargou a briga pelo rebaixamento, terminando em 10ª, acima apenas de Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti.
De mudança, Alex chegou ao Salgueiro após o fim do longo casamento do Salgueiro com Renato e Márcia Lage. Com a alta expectativa da escola retomar a temática negra, coube ao departamento cultural, junto ao carnavalesco, promover o enredo “Senhoras do Ventre do Mundo”, tema que fazia referência ao carnaval de 2007, “Candaces”. O carnavalesco soube trabalhar bem com as cores da escola, impactando pela grandiosidade do abre-alas da Academia. A última alegoria trouxe uma das mais belas imagens do carnaval de 2018, em que a figura da Pietà, escultura de Michelangelo, é retratada com escritos do livro “Quarto de Despejo”.
A escola terminou a apuração na terceira colocação, perdendo a primeira posição no último quesito. Um resultado injusto aos olhos dos salgueirenses.
Após mostrar que soube captar a alma da Vermelha e Branca da Tijuca, em 2019, Alex e a direção do salgueiro decidem trazer aquele que seria o enredo dos sonhos para os torcedores da escola, “Xangô”. Problemas internos e brigas pelo comando da escola, acabaram por ofuscar o período de felicidade pré-carnavalesca. Porem com todo os problemas, em questões plásticas a escola entrou e desfilou de forma digna. Muito graças ao talento de Alex de Souza que de quebra arrancou um quinto lugar e vaga para voltar no sábado.
Para o próximo ano, seguindo a alma negra da escola e a tendência atual de enredos que trazem reflexões sociais, o carnavalesco irá desenvolver o enredo sobre o primeiro palhaço negro do Brasil e afirma que chegou a hora de ele próprio que nunca alcançou o primeiro lugar, trazer o título para a tradicional Academia do Samba.
Por Waldir Tavares
Fotos Wigder Frota / Fotos Publicas Alex