Paulo Barros, é um nome que dispensa apresentações no mundo do samba. Considerado um dos carnavalescos mais inovadores e criativos da história do carnaval carioca, Barros revolucionou a forma de se fazer desfiles com sua ousadia e talento. No entanto, nem sempre suas inovações foram bem-sucedidas, e alguns de seus desfiles ficaram marcados por deslizes e controvérsias.
Em 1994, estreou na Vizinha Faladeira. Dez anos depois, em 2004, alcançou reconhecimento nacional com o inesquecível carro do DNA na Unidos da Tijuca. Em sua busca incessante por inovação, Barros também experimentou maus momentos. Principalmente ao tentar inovar em quesitos alheios à sua expertise, nem sempre obteve o sucesso esperado.
Gênio Inspirador ou Artista Irresponsável? O debate em torno das inovações de Paulo Barros
Após o sucesso no início dos anos 2000 e dois vice-campeonatos com a Unidos da Tijuca, o carnavalesco foi contratado pela Unidos do Viradouro em 2007. Optando por um enredo que abordava os jogos e com o título “A Viradouro vira o jogo”, ele incluiu uma alegoria literalmente “virada para baixo” na avenida. No entanto, a inovação não agradou aos julgadores do quesito alegorias e adereços, resultando em duas notas 9,8, um 9,5 e apenas uma nota máxima.
E não parou por aí! A bateria da escola de Niterói foi um dos assuntos mais comentados daquele carnaval devido à decisão do carnavalesco de colocar os ritmistas em cima de uma alegoria representando um tabuleiro de xadrez. A ousadia foi notada por um dos julgadores, que penalizou a bateria de Mestre Ciça com a perda de dois décimos.
Ainda em 2007, a interferência do artista no quesito Mestre-sala e Porta-bandeira refletiu nas notas do casal Julinho Nascimento e Simone Pereira: 9.7, 10, 9.8, 9.8. A fantasia da dupla, ele um “crupiê” e ela uma “roleta” que soltava fogos, foi um dos ingredientes para tantos décimos perdidos.
No pré-carnaval de 2008, ainda na Viradouro, Paulo causou grande polêmica ao anunciar que retrataria a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O carro alegórico “O Holocausto” incluía uma imagem de Adolf Hitler.
A pedido da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, a Justiça estadual concedeu uma liminar que proibiu o desfile da alegoria. Paulo precisou modificar o elemento alegórico, o que prejudicou a escola, que obteve as seguintes notas no quesito: 9.6, 9.9, 9.8 e 9.9.
Em 2015 Paulo Barros assina, na Mocidade Independente de Padre Miguel, o enredo sobre o fim do mundo baseado na famosa musica de Paulinho Moska e Billy Brandão. Mais uma vez, ele causa polêmica ao interferir no quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira, utilizando fogo na fantasia do casal Diogo Jesus e Lucinha Nobre. A ousadia se reflete nas notas dos jurados: 9,9, 9,8, 9,7 e 9,8, culminando na sétima colocação da escola. A Comissão de Frente também apresenta fogo e recebe três notas 9,9 e um 9,8.
Em 2016, na Portela, o uso excessivo de água jogada na pista na abertura do desfile prejudicou o desempenho do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Alex Marcellino e Danielle Nascimento. Na época, muitos especialistas mencionaram que a dupla desfilou com receio de escorregar. Apesar do contratempo, o talentoso casal recebeu duas notas máximas e dois 9.9, sendo um descartado.
Em 2018, o carnavalesco assinou o enredo “Corra que o futuro vem aí” na Vila Isabel, que resultou no 8º lugar da escola. Mais uma vez, ele optou por uma fantasia fora do padrão para o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Raphael Rodrigues e Denadir Garcia representavam o fogo em um figurino com efeito de 20 mil lâmpadas de LED “em chamas”. Apesar da novidade, todos os quatro julgadores alegaram que o peso da fantasia atrapalhou a dança do casal, que foi penalizado com as notas: 9,9, 9,9, 9,8 e 9,8.
Ainda na escola do bairro de Noel, Barros realizou um belo desfile alcançando a sexta colocação em 2023. Mais uma vez, ele inovou na apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira: Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas trocavam de roupa antes da apresentação nas cabines dos julgadores. A dupla faturou duas notas máximas e duas de 9.9. No entanto, os avaliadores pontuaram que a falta de confiança no figurino atrapalhou a performance do casal.
No Carnaval de 2024, Paulo Barros e a Vila Isabel optaram por fazer uma reedição do enredo “Gbalá“, originalmente apresentado em 1993. Apesar da sexta colocação e do retorno no desfile das campeãs, a polêmica novamente ficou por conta do quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira. A apresentação do casal, que teve show de laser e lâmpadas de LED em contraste com as luzes da Sapucaí apagadas, gerou diferentes avaliações. As notas recebidas foram: 9,8, 9,9, 9,8 e 9,8.
Um dos julgadores, João Wlamir, citou que “está havendo um excesso de criações” e que, segundo ele, o tradicionalismo do pavilhão está perdendo espaço. É importante destacar que a performance do casal dividiu opiniões, com alguns apreciando a inovação e outros defendendo a tradição do quesito.
A capacidade de Paulo Barros em surpreender é indiscutível. Tanto que ele ostenta quatro títulos no Grupo Especial e um no Acesso, tendo um dos salários mais altos da atualidade. Como artista incrível que é, cabe a ele explorar ideias e novidades. O bom senso e a definição de limites são de total responsabilidade da agremiação que o contrata.