Clóvis Bornay (In Memoriam)

No passado, quando os grandes concursos de fantasias eram um diferencial do carnaval do Rio de Janeiro, uma figura notabilizou-se nessa área, tendo tido atuação profissional como museólogo e também carnavalesco, Clóvis Bornay.

Nascido na cidade de Nova Friburgo, no ano de 1916, de família numerosa, Bornay era o caçula de uma família de doze filhos, com a peculiaridade de a mãe ser de origem espanhola e o pai proveniente da Suíça.

Clóvis Bornay foi o criador do baile de gala do Theatro Municipal do Rio de Janeiro com concurso de fantasias, no distante ano de 1937. A inspiração de Bornay para esses bailes eram as festividades carnavalescas acontecidas na cidade de Veneza. O baile de gala do Theatro Municipal resistiu até 1972.

No primeiro baile de gala, no ano de 1937 Clóvis Bornay apresentou-se para concorrer com a fantasia intitulada “Príncipe Hindu”, tendo já naquele primeiro ano obtido a primeira colocação. Essa sua primeira fantasia foi confeccionada por Josefina Pampuri e era de extremo bom gosto, feita com cristais lapidados. Quando entrou na passarela, logo de cara, Bornay foi ovacionado, aplaudido euforicamente por toda plateia, contam os relatos da época.

Dos concursos no Theatro Municipal, logo passou a desfilar como destaque nas escolas de samba cariocas. Nas comemorações do quarto centenário de fundação da cidade do Rio de Janeiro, durante o carnaval daquele ano, incorporou a figura de Estácio de Sá na avenida de desfiles.

Sua criatividade e riqueza das fantasias apresentadas, trouxe para Bornay muitos títulos nos concursos nos quais participava, tendo como seus rivais as figuras de Evandro de Castro Lima e Mauro Rosas. De tanto triunfar, Bornay acabou recebendo o título de “hors concours” no ano de 1961, o que traduzindo significa concorrente de honra, não sujeito à premiação.

Clóvis Bornay foi caso com uma amiga, com o objetivo de proteger as três filhas dessa pessoa e com estas mantinha um relacionamento verdadeiramente de pai, pois era ele mesmo o responsável pelas três meninas.

Profissionalmente laborou com museólogo no Museu Histórico Nacional, além de ter atuado também em outras entidades voltadas à causa da cultura.

Seu talento o levou a profissão de carnavalesco, tendo criado desfiles para o Acadêmicos do Salgueiro nos carnavais de 1966, Unidos de Lucas e Vila Santa Tereza no ano de 1967, Unidos de Lucas nos carnavais de 1968 e 1969, Portela em 1969 e 1970, Mocidade Independente de Padre Miguel em 1971 e 1972 e no ano de 1973 trabalhou na Unidos da Tijuca e na Viradouro.

Alcançou dois primeiros lugares como carnavalesco, primeiramente na Portela no carnaval de 1970 com o tema de enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia” e por fim com a Unidos do Viradouro no carnaval de 1973 com o enredo “Niterói – sua Origem e Evolução”, desfile este acontecido do outro lado da baía da Guanabara.

O desfile da Portela no carnaval de 1970 era muito esperado, já que o samba da escola para aquele ano, de autoria dos compositores Catoni, Jabolô e Valtenir, até hoje é avaliado por muitos como o melhor da história da agremiação. Assim a Portela conseguiu seu 19º título no carnaval, com um desfile extraordinário e Clóvis Bornay levou seu primeiro e único campeonato, o último sozinho da agremiação.

Atuando nas escolas de samba do Rio de Janeiro, Clóvis Bornay trouxe inovações para os desfiles, como por exemplo a figura do destaque. Sua marca era o luxo exuberante nas fantasias de destaques. Clóvis Bornay revolucionou a estética do carnaval carioca.

Importante de destacar também o fato de por muitos carnavais ter desfilado no carnaval paulistano, na Nenê de Vila Matilde.

No carnaval de 1971 Clóvis Bornay não participou do concurso de fantasias do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Conta a história e relatos da época, que Bornay foi enganado pelo profissional que deveria montar sua fantasia para aquele ano, que era denominada de “O Apocalipse dos Átomos”. Naquele mesmo ano desfilou pela Unidos de Vila Isabel como o Rei do Maracatu, tendo isso sido possível porque diretores da agremiação retiraram à força do ateliê de Aílton Ribeiro a fantasia, a qual foi finalizada praticamente na hora de entrada da escola na pista de desfiles.

Suas criações foram expostas em várias partes do mundo e também no Brasil, muitas delas hoje fazem parte do acervo de vários museus no exterior. Pelo significado de seu trabalho, Clóvis Bornay foi laureado com o título de cidadão honorário de Louisiana no ano de 1964.

Em 1966 foi laureado com a “Medalha Tiradentes” outorgada pela Assembleia Legislativa carioca às personalidades com relevante atuação no campo da cultura daquela cidade.

Além de carnavalesco e Museólogo, Clóvis Bornay também arriscou-se no campo da música, já que realizou a gravação de incontáveis marchinhas de carnaval, especialmente entre os anos de 1960 – 1970. Como intérprete participou de mais de dez coletâneas, sendo a primeira delas no ano de 1969, com “Dondoca (Boneca deslumbrada)”, de Antônio Almeida. Contudo, deixou mesmo seu nome gravado na história da música popular com o sucesso de 1972, “Paz e amor”, de João Roberto Kelly e Toninho.

No ano de 1967 chegou a ser ator no filme “Terra em Transe”, na condição de convidado pelo diretor Glauber Rocha. Em 1972 também atuou no filme “Independência ou Morte”.

Destacou-se também como jurado de programas de TV, como os de Chacrinha e Sílvio Santos.

Clóvis Bornay era morador de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Após 77 anos dedicados ao Carnaval, Bornay morreu em 2005, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

por Sidnei Louro Jorge Júnior

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