Desfile das escolas de samba chega aos 88 anos em 2020

Primeiro título foi da Estação Primeira de Mangueira, em 1932. Competição nasceu com apenas quatro agremiações e sem os carros alegóricos

Foi em 1932 que um jornal carioca, o Mundo Sportivo, decidiu criar uma competição entre os sambistas do morro para preencher suas páginas nos meses de janeiro e fevereiro, fora da temporada esportiva. Naquele tempo, as escolas de samba e o próprio samba eram meros coadjuvantes no carnaval da cidade, então protagonizado pelos ranchos, corsos e grandes sociedades.

Os ranchos eram a principal atração do carnaval carioca, seguidos pelas grandes sociedades, dotadas de prestígio e popularidade, e, por fim, dos corsos, que eram voltados à elite. Só anos mais tarde o samba ganharia status, sendo saudado como a verdadeira música brasileira. O gênero foi alçado à condição de símbolo nacional com ajuda do governo federal, em meio ao projeto político do Estado Novo de Getúlio Vargas.

O júri de 1932* era formado por Orestes Barbosa, Eugênia Moreira, Álvaro Moreira, Raimundo Magalhães Júnior (pai da carnavalesca Rosa Magalhães), José Lira e Fernando Costa.

Apenas quatro agremiações, com contingentes de aproximadamente 100 pessoas cada, participaram do torneio de 1932, na antiga Praça Onze: Estação Primeira de Mangueira, Vai Como Pode (atual Portela), Para o Ano Sai Melhor e Unidos da Tijuca. O desfile era simples, bem diferente dos de hoje. Não havia sequer a obrigatoriedade de um enredo – o que, consequentemente, inviabiliza o uso do termo “samba-enredo” nesse período. A Mangueira, que acabou sendo a grande campeã, foi a única a optar por um tema – na verdade, dois: A Floresta e Sorrindo. Um dos sambas, aliás, era da dupla Carlos Cachaça e Cartola.

Os carros alegóricos, característicos das grandes sociedades e dos corsos, também só seriam incorporados mais tarde aos desfiles das escolas de samba. A primeira alegoria surge em 1935, quando a Portela apresenta um globo terrestre para ilustrar o enredo O samba dominando o mundo. A consagração desse elemento cênico como parte do desfile, no entanto, se dá apenas na década de 1970.

De lá para cá, as escolas de samba se reinventaram diversas vezes, apoderando-se muitas vezes de elementos externos. Uma das maiores transformações aconteceu a partir do início da década de 1960, com os desfiles do Salgueiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, Fernando Pamplona havia sido jurado em 1959, e aceitou o convite para se tornar carnavalesco do Salgueiro no ano seguinte. Foi campeão com um enredo sobre Zumbi dos Palmares, retratando pela primeira vez num desfile a história de um personagem não-oficial da história do Brasil. A ele se juntou Arlindo Rodrigues, cenógrafo do Theatro Municipal.

As mudanças implementadas por Pamplona e Arlindo atingiram a temática, mas sobretudo a estética dos desfiles. Era a linguagem da academia invadindo a festa do povo, num casamento que se revelaria perfeito. E ele fez escola, deixando discípulos que foram determinantes para a história das escolas de samba nas décadas seguintes. Entre seus assistentes, figuram nomes como Maria Augusta, Rosa Magalhães, Max Lopes, Renato Lage e Joãosinho Trinta.

Hoje, as escolas de samba ainda enfrentam o velho desafio de terem que se reinventar, respeitando as tradições. Na Avenida, os carnavalescos travam suas batalhas estéticas e conceituais, sob o julgamento do público e dos jurados. No fim das contas, são esses dois júris – o popular e o oficial – que determinam as mudanças que realmente merecem ser incorporadas ao espetáculo.

Por Redaçao

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp