Falamos de Viviane Araújo, Sabrina Sato, Evelyn Bastos, Luma de Oliveira, Luiza Brunet, Monique Evans e tantas outras Rainhas de Bateria pelo carnaval do Brasil, e poucos sabem que uma das consideradas pioneiras neste cargo foi uma famosa “transformista” dos palcos cariocas e famosos shows das boates cariocas nos anos 70. Eloína, atriz trans, consagrada pelo “Show dos Leopardos” nos anos 80 e 90, é considerada a pioneira entre todas.
O ano era 1975, ela havia acabado de voltar de uma temporada em Hong Kong, como uma das estrelas da lendária boate “Le Carrousel de Paris“, onde se apresentavam os mais belos travestis do mundo, e foi vista em um baile de carnaval por Viriato Ferreira, grande parceiro de Joãosinho Trinta.
Em 1976, Joãosinho Trinta, que estreava como carnavalesco da Beija-Flor, estava atrás de uma grande figura para desfilar no enredo “Sonhar com Rei da Leão“. Foi quando Viriato lembrou de Eloína e foi atrás da estrela, que aceitou o desafio. No dia do desfile, João a colocou na frente da bateria da escola, iniciando ali uma posição que até hoje é a glória, entre as mulheres no carnaval brasileiro.
O sucesso foi tamanho, que Eloína, na época com 31 anos, continuou a frente da Bateria da Beija-flor de Nilópolis entre 1976 a 1978. Se mostrando pé-quente, a azul e branco venceu o carnaval pela primeira vez em 76, se tornando tri campeã neste período.
ELOÍNA, UMA DIVINA DIVA
Nascida em 13 de janeiro de 1937, Eloína foi criada no bairro do Catumbi, região próxima ao centro do Rio de Janeiro. Desde de criança já deixava seu lado feminino aflorar, quando ainda se chamava Edson.
Aos 14 anos, Eloína arrumou o primeiro emprego como camareira no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes. Em 1966, aos 21 anos, passou em um teste promovido pelo produtor Carlos Machado para se apresentar nas boates de Copacabana. Logo virou atração do espetáculo Boas em Liquidação, no Teatro Rival, ao lado da famosa vedete Luz Del Fuego.
Em tempos de ditadura e fora do Brasil desde 1969, já era estrela dos palcos de Paris, de toda Europa e tambem jo continente asiático. Eloína voltou ao país no meio dos anos 80 e teve a ideia de criar um show de strip-tease masculino com homens, nascia “A Noite dos Leopardos“.
A primeira apresentação foi em 1987. A própria distribuiu panfletos pelo Rio, anunciando a atração. O show foi um sucesso e partir daí, Eloína ficou conhecida como “Eloína dos Leopardos“. A Noite dos Leopardos fez história durante 12 anos , onde a presença da cantora Liza Minelli e Madonna na plateia, entre outros famosos da época.
Em 2016, a atriz e diretora Leandra Leal, filmou o documentário Divinas Divas, em que Eloína aparece ao lado de Rogéria, Valéria, Jane di Castro, Camille K., Fujica de Holliday, Marquesa e Brigitte de Búzios, consideradas a primeira geração de artistas travestis do Brasil.
Hoje, aos 77 anos, Eloína mora em São Paulo, longe da agitação da capital paulistana, mas antenada nas causas e luta, sendo um dos nomes mais importantes da cena LGTQIA+ no Brasil.
CONTROVÉRSIAS
Muitos consideram Adele Fátima como a primeira rainha de bateria, na Mocidade em 1981. Outros preferem afirmar que o saudoso apresentor Chacrinha inventou este título para Monique Evans, também na Mocidade, em 1984. Os saudosistas defendem que Nãnãna da Mangueira, mãe do cantor Ivo Meirelhes, foi a primeira Rainha de bateria da história do carnaval, quando desfilou no carnaval de São Paulo, em 1973, à frente da bateria da Mocidade Alegre de biquíni e tocando tamborim.