O sagrado carnaval censurado pela profana hipocrisia nacional
Que a fé do povo da Mangueira supere o Chicote da Censura Religiosa e Intolerante.
Considerada uma festa profana, o carnaval tem sua origem em antigas celebrações de caráter religioso. No início era possível reconhecer o orixá de cada agremiação pelo ritmo do toque da bateria.
As tradições as transformaram em resistência da cultura africana, mas elas sempre se mantiveram abertas a outros credos.
Porém NÃO existe uma via de mão dupla nesta relação.
O tumultuado relacionamento entre as escolas de samba e a Igreja Católica teve como auge a proibição do Cristo Mendigo de Joãosinho Trinta, no desfile da Beija-Flor, em 1989. Naquele ano, o carnavalesco cobriu a escultura com sacos pretos e ela foi à avenida com a inscrição: “Mesmo proibido, olhai por nós”.
No carnaval de 2000 o carnavalesco Chico Spinoza chegou a ser preso horas antes do desfile pois se atreveu a colocar a imagem da Nossa Senhora dos Navegantes em uma alegoria. Ele foi liberado do xadrez, mas a escultura não desfilou pois a sua liberação só saiu no dia seguinte.
Em meio a censuras, o samba tem vencido a batalha contra a Igreja. Porém algumas citações não passam pelo crivo da censura e preconceito contra o carnaval.
No belo enredo sobre o tabaco, a Gaviões da Fiel em 2019 trouxe na comissão de frente a disputa entre Jesus e forças do mal, incluindo o diabo. Fato que causou repúdio na Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados, que disse em nota oficial divulgada “manifestar profunda indignação e repúdio ao espetáculo apresentado”.
Na noite de ontem, Jornal O Globo acabou por divulgar que a Estação Primeira de Mangueira traz para 2020 um enredo sobre a luta contra a intolerância e que terá a figura de Jesus Cristo como o personagem principal.
Pelo bem ou pelo mal a escolha é o assunto do momento.
O curioso é que ondas de reprovação já se fazem presentes e levam direto ao ponto que o carnavalesco Leandro Vieira quer atingir.
No que toca à liberdade religiosa, a tarefa do Estado Brasileiro é manter a neutralidade exigida pela Constituição, que consagra um Estado laico.
A histórica vinculação entre Estado e Igreja foi superada no papel, mas jamais passou por uma iniciativa oficial de transformação.
Não é, portanto, à toa que o Carnaval vem ocupar esse papel promocional que o Direito exige, em vão, que o Estado exerça. Se as instituições jurídicas não atuam nesse sentido, o “grande poder transformador” continuará a se manifestar diretamente pelo povo.
De fato diante de tantas mazelas, o Carnaval tem se mostrado mais sagrado do que a política profana.
Desde que o samba é samba é assim.
Mais uma vez ….
Que a fé do povo de Mangueira supere o Chicote da Censura Religiosa que também se faz Intolerante.
Por Waldir Tavares
Imagens portal UOL e O Globo