Festivais de samba enredo na modalidade virtual encurtam distâncias e promovem a igualdade

Nestes tempos pelos quais estamos passando, onde as redes sociais aparecem com destaque, frente às recomendações dos órgãos de saúde, de isolamento social e não realização de aglomerações de pessoas, o mundo do carnaval está dando claras demonstrações de superação e utilização das mídias digitais para continuarem em seu processo de planejamento rumo ao próximo carnaval, já que a escola de samba é um organismo vivo, que se oxigena e tem todas as condições de se renovar e adaptar-se ao momento presente.

Exemplo disso é o recorde de composições inscritas para disputa no festival de sambas enredo da tradicional Império da Tijuca, agremiação carioca que desfila no grupo de acesso, que recebeu ao todo 55 composições, quantidade esta muito superior ao recorde que a escola tinha anteriormente que era de 25 sambas na disputa realizada no ano de 2014. O valor das inscrições foi revertido em mais de uma tonelada de alimentos para comunidades carentes.

A utilização dos ambientes virtuais para divulgação do enredo da escola, inscrição de composições, regulamento que será seguido no festival da escola, a recepção das obras através da internet e a realização de audições das obras através de lives até se chegar a grande final do certame, facilitaram e muito à que parcerias de compositores que residem distantes do Rio de Janeiro, pudessem aventura-se nesse mundo do carnaval carioca, antes inacessível pelos muitos quilômetros de distância.

Esse foi o caso da parceria formada por Pedro Rosa, William Machado e JR. Gaúcho, que diretamente da cidade de Caxias, localizada na região serrana do Rio Grande do Sul, acabaram inscrevendo uma obra para competirem no festival de samba enredo da Império da Tijuca.

Pedro Rosa é professor de Arte na rede estadual de ensino do RS e pesquisador de carnaval e, juntamente com o amigo William Machado, com quem teve contato no campus da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e o primo JR. Gaúcho – estes dois últimos músicos atuantes na cidade –, acabaram compondo um samba para participarem no festival da agremiação carioca.

Pedro já tem experiência como compositor já que a cerca de 15 anos a agremiação “Amigos do Cruzeiro”, no carnaval de Caxias realizou desfile com composição de sua autoria.

A possibilidade ofertada pelo edital aberto lançado pela Unidos da Tijuca para seu festival de samba enredo com vistas ao próximo carnaval encorajou os amigos com vistas à participação no certame da escola.

O trio acredita que esta forma de disputa, com este novo formato torna o processo mais democrático, visto que da forma como foi organizada o peso da torcida presente na quadra diluiu-se, como que desaparecendo, deixando a disputa mais equilibrada, além de outros aspectos presenciais.

Como competição é a primeira experiência do trio de compositores, que contou com a colaboração de amigos cariocas, como que um termômetro, numa avaliação informal da obra, no tocante à forma geral de composições apresentadas na Marquês de Sapucaí.

Como uma obra de arte o samba teve várias conformações, até que depois de sucessivas mudanças, finalmente a obra em sua versão final foi encaminhada para inscrição no festival da escola do Morro da Formiga.

Na obra do trio de compositores grandes apostas são feitas no refrão do meio da obra, que na concepção dos compositores seria um refrão de contágio e ainda como característica própria, não usual no carnaval carioca, a obra conta ainda com dois refrões na sequência, com a narração bem construída do enredo que vai ser apresentado pela escola. Outra característica da letra é elevar a autoestima de negros e negras, pontuando o que queria o manifesto de Candeia na construção da Escola Quilombo, junto a outros baluartes da cultura negra. A obra também cita o “valeu, Zumbi” (da obra Kizomba, festa da raça, de autoria de Martinho da Vila) mas traz junto o “valeu, Dandara” para indicar tanto homens como mulheres na construção da cultura negra.

A gravação da obra em estúdio contou com a participação, além do trio de compositores, de Thayse Cabral, aluna de Pedro que muito bem fez o alusivo da obra no clipe produzido e Jean Cleber da Silva, responsável pelos arranjos musicais. O grupo pretende no futuro participar de outros projetos no campo musical.

Trio de compositores, cavaco e intérprete do alusivo da obra

O que há de certo é que as eliminatórias acontecerão a partir de 15 de agosto através de live e que a final do samba vai contar com apenas quatro composições, a serem apresentadas no dia 6 de setembro na voz do intérprete oficial da agremiação, Daniel Silva.

LETRA DO SAMBA:

O Samba Tem Raiz

Herança Preta Que A Minha Pele Evoca

O Partideiro Cria Escola

Mas, Quando “Invadem”, É A Hora

De Compositores Quilombolas

Manterem Sua Tradição

O Argumento Da “Nova Escola” Do Quilombo

É Resgatar

Samba No Prato, Samba Na Casa, Samba Na Rua

A Arte Negra Tem A Sua Identidade

Samba Na Praça, Samba No Rádio, Samba Na Lua

A Arte Negra… Ancestralidade (Bis)

Cortejo De Maracatu

Tem Afoxé E Lundu

O Jongo Se Joga

Tem Capoeira E Macumba

Com Ponto Cantado

Até Romper a Aurora

 Valeu, Zumbi! Valeu, Dandara!

 Este Enredo Do Quilombo

 É Mais Um Pra Coroar A Raça (Bis)

 Candeia, Filho De Odé *

 No Império Tão Querido De Oxum

 Morro Da Formiga É o Meu Quilombo

 Um Por Todos E Todos Por Um (Bis)

Para o próximo carnaval a Império da Tijuca vai levar para a pista da Sapucaí o enredo “Samba de Quilombo – A resistência pela raiz” do carnavalesco Guilherme Estevão que está na escola desde o carnaval de 2020 quando a agremiação conquistou o sexto lugar.

Império da Tijuca – Carnaval RJ 2021
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