Há 37 anos nascia a TV Manchete, emissora que viria marcar toda uma geração de sambistas

Há 37 anos entrava no ar a Rede Manchete de Televisão, que viria a se transformar numa das principais redes de TV do país, ultrapassando a Rede Globo em audiência em vários momentos, com uma trajetória marcada por muitos sucessos e também por crises e polêmicas, que a levariam a um final melancólico dezesseis anos depois.

Dois anos antes da estreia, Adolpho Bloch ganhara do governo as concessões dos cinco canais (Rio, SP, BH, Fortaleza e Recife), numa concorrência que tinha grupos de peso como Jornal do Brasil e o Grupo Abril.

Adolpho Bloch, o criador

A família Bloch, que levou dois anos até equipar a rede e quase perder o prazo legal para colocar a emissora no ar, desembolsou 50 milhões de dólares para o desenvolvimento inicial da rede, sendo 27 milhões para a compra de equipamentos, 12 milhões para compra de filmes e o restante em pessoal e demais despesas. O investimento em filmes representava o maior lote de superproduções já adquirido pela televisão brasileira até aquela data. Eram filmes que só poderiam ser exibidos três vezes no espaço de dois anos.

O Teatro Adolpho Bloch foi desativado para transformar-se em auditório da televisão. O show inaugural seria realizado ali, com direção do cineasta Nelson Pereira dos Santos. A Manchete firmou alguns acordos na ocasião, fechando parcerias com as principais agências de notícias internacionais para reforçar seu telejornalismo.

Icônica logomarca da emissora, o “M” de Manchete era composto de cinco esferas e quatro cilindros, cada esfera significando uma das cinco emissoras da rede. TV Manchete entrou no ar, oficialmente, em 5 de junho de 1983, às 19 horas. Entrou o top de 8 segundos e surgiu Adolpho Bloch, sem áudio. Sua imagem saiu do ar, dando lugar ao primeiro comercial da emissora.

O Carnaval foi algo pelo qual Adolpho Bloch sempre teve um especial cuidado. Sua paixão pelo Carnaval ficava evidente quando, após os quatro dias de folia, chegavam às bancas suas revistas repletas de reportagens sobre o espetáculo. Fatos & Fotos, Manchete e Amiga chegavam até o leitor, recheadas de fotos do carnaval por todo o país. Com a Rede Manchete não poderia ser diferente. Sua programação era inteiramente dedicada ao espetáculo, durante os quatro dias de folia. Durante os preparativos, a emissora sempre exibia seus tradicionais boletins “Feras do Carnaval” e “Esquentando os Tamborins“, mostrando os preparativos para o Desfile das Escolas de Samba do Rio. E entre os quatro dias, vários programas iam ao ar, entre eles, “Botequim do Samba”, “Debates de Carnaval” e “Jornal do Carnaval”.

As transmissões começaram já em 1984. Naquela época, a representatividade dos desfiles na Marquês Sapucaí era intensa, e as únicas formas de consumir a festa de casa era justamente por meio da revista Manchete, do mesmo grupo da TV.

O primeiro ano repercutiu positivamente entre o público. Surpreendeu, inclusive, a Globo, que não acreditava no sucesso daquele carnaval.  Tudo começou quando houve um descontentamento da Globo com o novo formato do carnaval. O sambódromo foi construído naquele ano e o desfile passaria a ser realizado aos domingos e às segundas-feiras.

A Globo decidiu não transmitir os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro quebrando uma tradição de nove anos. Problemas internos, falta de interesse pelo Sambódromo e até questões políticas foram cogitadas. Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então superintendente da Globo, explicou em sua autobiografia que em 1983, o governador do Rio, Leonel Brizola e o sociólogo Darcy Ribeiro (então vice-governador) inventaram duas coisas malucas no carnaval: Uma foi a Praça da Apoteose, projetada inicialmente para que cada escola desse uma volta no final; A outra invenção citada seria o Super Campeonato, que só existiu uma vez. Nas reuniões preliminares, Boni foi contra estas inovações e a coisa foi engrossando e, pressionado, o executivo achou uma saída: “Combinei com o Moisés Weltman, da TV Manchete, que ele compraria o carnaval sozinho e depois repassaria a minha parte. Ficamos fora do carnaval. No Rio, a Manchete deitou e rolou na audiência, mas no resto do Brasil, sem carnaval, a programação da Globo cresceu em relação aos anos anteriores. Essa é a verdade completa da história“.

A também carioca TV Manchete, que completava um ano de vida em 1984, saiu à frente e exibiu os desfiles da Sapucaí. Com direção de Maurício Sherman e comentários de Paulo Stein e Fernando Pamplona, as transmissões daquele Carnaval pela emissora de Adolpho Bloch chegaram ao primeiro lugar no Ibope, alcançando uma média no Ibope de 70% na audiência. A Estação Primeira de Mangueira, com o enredo “Yes, Nós Temos Braguinha“, e a Portela, com o enredo “Contos de Areia“, sagraram-se as campeãs do Carnaval de 1984. Foi a primeira vez, em onze anos de existência, que o “Fantástico” (seguido do então inédito filme “Bonnie e Clyde, uma Rajada de Balas“) – no domingo – perdia no Ibope. Na segunda e terça-feira foi a vez da novela das oito também perder feio. Era “Champagne“, de Cassiano Gabus Mendes, com direção geral de Wolf Maya.

A partir do ano seguinte, a Manchete começou a dividir a transmissão com a Globo, perdendo sempre em audiência, mas registrando médias que só a toda poderosa atingia. O então diretor de programação da emissora, Rubens Furtado, dizia que o Carnaval era a chance que a Manchete tinha de mostrar que era maior e melhor que a Globo. Ele disse ainda que “Carnaval não dava lucro, mas trazia prestígio”.

Em 1987 a disputa entre as emissoras se acirrava. Um confronto de logotipos marcava a entrada do sambódromo. Neste ano, a Manchete disponibilizou mil funcionários na passarela do Samba e trouxe novidades como a câmera-robô, que dispensava a presença de um câmera nos lugares onde isso era impossível, e um helicóptero para fornecer imagens aéreas da Avenida.

Em 1991, Adolpho Bloch e suas empresas eram homenageados pela Escola de Samba Unidos do Cabuçu.

Nos ano de 1988 a emissora ficou sem exibir o desfile por falta de verbas, se restringiu à transmissão do Carnaval pelo país. Volta transmitir em 89 e pelos dois anos seguintes. Em 1993 novo hiato nas coberturas. Já era um prenuncio do que viria em alguns anos. Em 1994 a Manchete retorna cobrindo apenas o Grupo Especial do Rio, e no ano seguinte a cobertura voltava com força total.

https://www.youtube.com/watch?v=SsEKYnykMgA

Em 1997, com o slogan: Rede Manchete, Estação Primeira do Carnaval, a emissora tentava deixar claro a superioridade na cobertura. Os preparativos já eram mostrados desde outubro de 96, quando começaram a ir ao ar os boletins “Esquentando os Tamborins“e “Feras do Carnaval“. E ainda, uma eleição deveria escolher qual seria a Musa do Carnaval naquele ano. O telespectador telefonaria e optaria entre uma mulata, uma morena e uma loira, e ainda concorria a vários carros 0Km do modelo “Palio” e um importado na final. A vencedora foi a loira Marcela Leite. Além da escolha da musa, a emissora trazia como novidade também o Desfile das Escolas de Samba de São Paulo.

Nesta época a emissora já era referencia para os amantes dos bailes e concursos dos badalados clubes Sírio Libanês Metropolitano, além do histórico Hotel Glória. Os eventos na maioria das vezes eram organizados pela dupla Belino Mello e Arnaldo Montel, e com apresentação do saudoso carnavalesco Oswaldo Jardim e  Anna Bentes Bloch, segunda esposa do dono da emissora.

Em 1999, por falta de recursos e devido à crise iniciada no final de 1998, a Manchete não teve recursos para transmitir o Carnaval. Nenhuma região foi coberta.

A “TV do ano 2000”, como anunciava seu slogan de estreia, sairia do ar ironicamente nove meses antes da virada do milênio. A concorrência forte que a Manchete representava era um grande catapulta para que ela, juntamente com a Rede Globo aperfeiçoassem cada vez mais suas coberturas e assim pudessem oferecer um show cada vez melhor para todos os telespectadores.
Ao logo de sua trajetória, a Manchete protagonizou momentos que marcaram todos na indústria de TV no país. Quem não se lembra de Pantanal? A novela foi um sucesso de audiência e superou a poderosa Globo, até então, apontada pelo mercado como imbatível. Assim como as apresentadores infantis loiras, Xuxa e Angélica e os seriados japoneses que na emissora marcaram a infância daquela geração.
 
Por Waldir Tavares
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