José Bispo Clementino dos Santos …Nascido no bairro de São Cristóvão/RJ, teve que trabalhar desde cedo para sustentar a família. Foi engraxate na infância, mas demorou pouco para que sua voz fosse descoberta: ainda jovem, tornou-se referência entre os jornaleiros da região. “Dizem que meu avô já tinha essa potência na voz, que vendia jornais gritando e isso foi o primeiro approach dele antes de virar cantor profissional”, disse seu neto uma vez ao Jornal do Commercio.
O apelido, do fruto preto e duro, não se sabe de onde veio. O que se sabe, por outro lado, é que sua voz foi descoberta e apresentada para o sambista Lauro Santos, o Gradim, que o apresentou pessoalmente para a Mangueira, nos anos 30. Com apenas 15 anos, Jamelão não pensava em cantar, mas viu nas garotas e no bloco de bateria da escola motivação suficiente para se juntar ao grupo. Enquanto estudava tamborim e cavaquinho, passou a participar das rodas de samba que aconteciam depois de cada desfile, e daí surgiu o contato com o canto.
Em 1949, torna-se intérprete da Mangueira, mas só assume o posto principal em 1952, quando substitui Xangô da Mangueira, influenciado fortemente pelo estilo do sambista Cyro Monteiro. Antes disso, porém, seu talento natural para o canto já ganhara visibilidade, em 1945, quando se tornou conhecido pelo programa Calouros em Desfile, da então Rádio Tupi RJ.
Sua carreira trilhou atividades paralelas: enquanto dava voz à comunidade do Morro da Mangueira, por pura paixão, Jamelão ganhava o mundo com suas gravações pela Continental, primeiro, e depois pela Odeon, pela Companhia Brasileira de Discos e pela Philips. Com os prêmios regionais que acumulou, conseguiu projeção internacional, e nos anos 70 chegou a se apresentar no castelo de Coberville, na França, na festa de Assis Chateaubriand e do estilista francês Jacques Fath.
Já na década de 1990, além de atuar na Mangueira, também participa da escola de samba Unidos do Peruche, de São Paulo, onde interpreta de 1991 a 1993. Em 1999, é eleito o intérprete do século do Carnaval carioca, prêmio concedido pelo jornal Folha de S.Paulo.
Já consolidado como intérprete de samba, dividiu sua atenção entre o samba-canção, com atenção especial para as composições de Lupicínio Rodrigues, Dorival Caymi e Ary Barroso, e o samba-enredo, anualmente recriado pela Mangueira. Integrou a comissão de compositores da escola em 1968, e assim ocupou os próximos 35 de sua vida. Nunca deixou de ser ativo. Em 2003, lançou o disco “Cada Vez Melhor”, que receberia diversas premiações nos anos seguintes. Em 2005, em plenos 92 anos de idade, o músico serviu de modelo na 19ª São Paulo Fashion Week, para a grife Poko Pano, causando surpresa e clamor entre os presentes.
Em janeiro de 2001, recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
O eterno presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira, morreu no dia 14 de junho de 2008, aos 95 anos. Diabético e hipertenso, Jamelão teve problemas pulmonares e, desde 2006, sofreu dois derrames. Ele morreu por falência múltipla dos órgãos.
Por Waldir Tavares