Império Serrano – relembrando o desfile de 1991 – “É por aí que eu vou”

Na data em que se comemora o dia do motorista, acordei com o pensamento nas vezes em que este importante profissional foi retratado em desfiles de carnaval, especialmente na representação do profissional que conduz os caminhões pelas estradas de nosso país, não conseguindo, porém, vislumbrar um grande sucesso quando este profissional foi representado, com especial atenção ao carnaval do eixo Rio – São Paulo.

A história do carnaval brasileiro e cheia de desfiles inesquecíveis apresentados pelas agremiações carnavalescas de norte a sul do nosso país.

Cada desfile, para uma escola de samba, com certeza significa superação de muitos obstáculos que precisam ser transpostos até que a sirene toque e a agremiação transponha a faixa de início do desfile, colocando na passarela o resultado de um ano inteiro de trabalho.

Nem sempre o resultado de todo este trabalho tem como desfecho um desfile de sucesso, mas de qualquer forma sendo de sucesso ou não, esses momentos fazem parte da história de cada agremiação carnavalesca, trajetória esta que não é só composta de vitórias, mas também de momentos de superação de desafios, que tornam o carnaval uma festa tão apaixonante para milhares de pessoas.

Assim foi com o Império Serrano, no carnaval carioca de 1991, quando trouxe para a Marquês de Sapucaí o enredo “É por aí que eu vou” enredo de autoria e desenvolvimento do carnavalesco Ney Ayan, profissional este que já havia passado pelo Império Serrano no passado, fazendo grandes carnavais, ocasião inclusive onde a agremiação alcançou uma terceira colocação, como aconteceu no carnaval de 1988.

A tradicional agremiação da Serrinha já não vinha de bons resultados desde o carnaval carioca de 1989, quando Oscar Lino da Costa Filho assumiu como presidente da escola e os torcedores para 1991 esperavam uma escola reforçada, com o forte intuito de recuperar seu lugar de destaque dentro da folia carioca, como grande agremiação que é, por toda sua história e tradição.

Mas de fato o desfile apresentado pelo Império, não honrou com suas tradições no mundo do carnaval, levando a escola apenas à décima quinta colocação, penúltima colocada, o que a rebaixou para o grupo de acesso no carnaval de 1992, último ano de Oscar Lino como primeiro mandatário da escola, não conseguindo recolocar o Império no grupo de elite do carnaval do Rio para 1993.

Naquele carnaval carioca de 1991, quatro agremiações foram rebaixadas, São Clemente, Lins Imperial e Acadêmicos do Grande Rio, além do Império Serrano.

Talvez o maior pecado da escola foi o extremo realismo com que o tema foi apresentado, muito pouco carnavalizado aos olhos dos amantes do carnaval, com muito pouca fantasia, mesmo em setores chaves da escola, como baianas, comissão de frente, alas e casais de mestre-sala e porta-bandeira.

Nas fantasias de alas muitos materiais alternativos na composição destas fantasias como garrafas pet, peças e acessórios de carros, pneus, muito acetato e plástico.

Alegorias repletas de carcaças de carros e caminhões muito pouco impressionou a assistência presente na Sapucaí, que viu passar na pista de desfiles refinarias e postos de combustíveis visando ilustrar o tema, com muito pouca carnavalização, visto que os componentes de alegorias em sua grande maioria nem fantasias portavam, mas sim roupas de frentistas e de outros elementos ligados ao tema, sem apresentar elementos lúdicos que levassem a plateia a sonhar e impressionar-se, ao contrário trazendo grande desilusão, especialmente aos torcedores da escola.

Coube ao Império Serrano encerrar os desfiles do carnaval de 1991, tendo realizado uma apresentação que foi avaliada por muitos como um verdadeiro desastre, inclusive com o samba que embalou este desfile avaliado como de qualidade duvidosa. O samba da escola naquele ano era de autoria dos compositores Solidão, Ibraim, Beto Pernada, Valdir Sargento, Edu do Pagode e Elci, tendo sido interpretado por Tico do Gato.

“…Rodar, rodei
Desbravando estradas
Novo mundo encontrei
Cidade grande, que fascinação
Nos cabarés da vida há doce ilusão (bis)”
(Império Serrano – refrão do samba enredo do carnaval de 1991)

Já pela comissão de frente apresentada pela escola era possível observar-se o extremo realismo impresso ao desfile, já que um grupo de componentes, todos homens, traziam a representação de caminhoneiros, sem qualquer fantasia, carnavalescamente se falando.

Seguido à comissão de frente, vinha o carro abre alas com a representação da coroa imperial sendo sustentada por carcaças de caminhões tendo Sula Miranda, rainha dos caminhoneiros, no seu topo. Já no abre alas se podia observar muitas composições sem fantasias, apenas com roupas.

Império Serrano 1991 – detalhe do carro abre alas

Contrariamente ao estabelecido no regulamento daquele carnaval, a escola trouxe caminhões motorizados em vários pontos do desfile, situação esta que acabou tirando preciosos pontos da agremiação por ocasião da apuração das notas.

Seguindo a segunda alegoria, que representava uma refinaria, alegoria que como as demais sofria com problemas de concepção e acabamento, veio a ala de crianças da escola vestidos como anjinhos.

A tradicional ala de baianas da Serrinha também impactou pelo visual simples que apresentou, com saias feitas de retalhos, pano da costa de fuxicos e um lenço branco na cabeça, carregando todas um terço em suas mãos, sem brilhos ou plumas como tradicionalmente as baianas foram apresentadas em outras agremiações naquele carnaval.

Atrás da terceira alegoria, veio o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira do Império, Selminha Sorriso e Sérgio Jamelão, ambos estreando como primeiro casal da escola naquele ano e que não fugindo à regra vestiam uma fantasia totalmente fora dos parâmetros dos demais casais que pela Sapucaí passaram naquele carnaval.

Primeiro Casal de Porta Bandeira e Mestre Sala – Selminha Sorriso e Sérgio Jamelão – Império serrano 1991

Tião Fuleiro comandava os quatrocentos ritmistas da sinfônica imperial, ritmistas que vieram fantasiados simplesmente com um macacão branco e um boné amarelo.

A alegoria da borracharia era composta preponderantemente por um amontoado de pneus com composições vestindo figurinos compostos por itens bastante diferentes como pneus, volantes de carros e placas também de veículos, muito pouco impactando positivamente no resultado final ou agradando a plateia presente na Sapucaí.

No desenrolar do enredo as rodovias não poderiam ficar de fora e dentro do setor do desfile onde foram destacadas, as placas de sinalização de trânsito ganharam destaque nas fantasias de alas, assim como semáforos e representações da polícia rodoviária federal na alegoria que fechou este setor do desfile, apresentando motos da PRF e iluminação neon

Personalidades imperianas não deixaram de estar presentes a este desfile da escola como Roberto Ribeiro, Miriam Pérsia aliadas a presença de outras figuras como a modelo Enoli Lara, a cantora Sula Miranda, a modelo Josi Nunes, Jorge Lafond.

Lafond vinha na parte mais alta do carro que representava o ferro velho, outra alegoria cheia de peças inusitadas para utilização em decoração de uma alegoria carnavalesca, como pneus, partes de carcaças de automóveis e outras peças metálicas.

O carro das autopeças foi a penúltima alegoria, seguindo a linha das demais e fechando o desfile veio a alegoria da cidade grande.

Tendo sido o Império Serrano a última escola, encerrando os desfiles daquele ano, o tradicional bloco que sempre se forma com as pessoas que pulam das frisas e invadem a pista de desfile, teve como diferencial pessoas empunhando grandes bandeiras vermelhas com a logomarca da Rede Manchete, situação esta que foi de todas as formas desconsiderada pela Rede Globo.

Terminada a apuração das notas atribuídas pelos jurados daquele carnaval, depois do desfile das dezesseis escolas de samba daquele ano, a Mocidade Independente de Padre Miguel conquistou mais uma estrela para seu pavilhão, seguida do Acadêmicos do Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense, Beija Flor de Nilópolis e Estácio de Sá, agremiações que voltaram a desfilar na noite das campeãs.

Mocidade Independente de Padre Miguel – Carnaval de 1991 – Campeã
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