Os dois universos são bem diferentes. A maneira de desfilar, o espaço físico e arquitetônico dos sambódromos, a proximidade do público e principalmente o tempo de montagem e desmontagem das alegorias. Temos que ver o Carnaval de São Paulo como Carnaval de São Paulo e não como uma tentativa de ser o Rio de Janeiro. São Paulo tem suas características que devem ser preservadas e respeitadas. São concepções artísticas distintas e igualmente lindas e importantes para a cultura Brasileira. (Mauro Quintaes em entrevista para o SRZD/SP sobre os carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo)
Nascido no Rio de Janeiro no ano de 1958, o carnavalesco Mauro Quintaes iniciou sua trajetória no mundo dos desfiles das escolas de samba como auxiliar de carnavalescos de renome como Max Lopes e o gênio Joãosinho Trinta no carnaval de 1994.
No tocante ao carnaval carioca, Mauro Quintaes já trabalhou com agremiações carnavalescas de diversos grupos e também com escolas de samba de outras cidades do interior do estado do Rio. Desde o carnaval de 2018 transferiu-se para o carnaval de São Paulo unicamente, desenvolvendo grandes desfiles que passam na passarela do Anhembi, tendo também apresentado trabalhos seus em escolas paulistas anteriormente.
No carnaval carioca do ano de 1995 estreou como carnavalesco em carreira solo, no grupo especial pela Caprichosos de Pilares e no grupo de acesso daquele ano pela Unidos do Porto da Pedra, sediada no município de São Gonçalo. Com esse desfile, onde apresentou o tema de enredo “Campo Cidade em busca da Felicidade”, a Porto da Pedra sagrou-se campeã, sendo promovida para desfilar no grupo especial das escolas de samba cariocas em 1996.
Pela Unidos do Porto da Pedra, desfilando no grupo especial do Rio de Janeiro, Mauro Quintaes ficou de 1996 a 1998, tendo obtido como melhor colocação um quinto lugar no desfile da agremiação de 1997, quando foi apresentado o tema “No Reino da Folia, cada Louco com sua Mania”, levando a escola ao desfile das campeãs, um feito inédito até hoje. No carnaval de 1998 a escola acabou rebaixada de volta para o grupo de acesso.
No carnaval de 1997 Mauro Quintaes ainda idealizou o desfile da Acadêmicos do Sossego, naquela época desfilando pelo grupo D, tendo s escola sido campeã com o enredo “Olha o Passarinho”.
No período de 1999 a 2002 atuou como carnavalesco da Acadêmicos do Salgueiro, tendo alcançado o quarto lugar no carnaval de 2001 com o tema de enredo “Salgueiro no Mar de Xaráyés, é Pantanal, é Carnaval”.
No carnaval de 2001 Mauro Quintaes também foi carnavalesco da extinta Unidos do Valéria, na época desfilando no grupo D do Rio.
Mudou-se para a Unidos do Viradouro, sediada em Niterói, no carnaval de 2003 e na agremiação permaneceu até os desfiles do ano de 2005.
No enredo de 2003 o tema da Viradouro foi uma homenagem a cantora Bibi Ferreira, desfile este muito elogiado pela crítica da época.
O luxuoso abre-alas dourado representou o musical “O Avarento”, que apesar do barroco, não perdeu a limpeza sem excessos, característica do traço do artista nas alegorias. A alegoria em si marca uma boa síntese do estilo desenvolvido por Mauro nesse momento da festa, que ainda vivia os ecos do embate entre Rosa Magalhães e Renato Lage nos anos 90, onde os estilos batizados genericamente de “rococó” e “high-tech” se enfrentavam. Nessa dicotomia posta, Mauro foi um dos grandes nomes a misturar as duas vertentes de maneira inteligente, mesmo que às vezes ficasse uma nítida afinidade maior ao estilo do ex-carnavalesco da Mocidade. Quintaes sabia dosar um estética mais barroca quando o enredo pedia, sem perder a mão, como foi no caso do carro que abriu a apresentação daquele ano.
Foi exatamente essa capacidade de mesclar os dois artistas mais importante da década passada que fez de Mauro um dos principais carnavalescos em atividade naquela início de século, se mantendo atualíssimo e original. Além disso, a Viradouro ainda contava com um super time, formado pelo grande Dominguinhos do Estácio, que defendeu muito bem o belo e poético samba daquele ano, e a bateria excelente de Mestre Ciça, já se destacando pelas bossas originais. Com tantos atributos, a Viradouro fez uma das grandes e memoráveis apresentações do ano, merecendo bem mais que o sexto lugar conquistado no resultado final. (http://www.carnavalize.com/2018/06/seriecarnavalescos-o-estilo-arrojado.html)
Em 2004 com tema de enredo abordando o Círio de Nazaré, Quintaes levou a Viradouro à quarta colocação, melhor classificação da escola sob a batuta do carnavalesco. No carnaval de 2005 a escola amargou um oitavo lugar com o enredo “A Viradouro é só Sorriso!”. Nesse último carnaval na Viradouro, falhas mecânicas impediram a segunda alegoria de entrar na pista de desfile, subtraindo sua apresentação e afetando o julgamento de outros quesitos.
No carnaval de 2004 Mauro Quintaes ainda desenvolveu o enredo da Leão de Nova Iguaçu em conjunto com Gilberto Muniz, quando as escola estava no grupo de acesso A, tendo alcançado o décimo primeiro lugar.
No carnaval de 2006 Mauro Quintaes teve uma passagem pela Mocidade Independente de Padre Miguel, onde desenvolveu o enredo “A Vida que pedi à Deus” alcançando um décimo lugar.
Nos carnavais de 2006 e 2007 Quintaes apresentou projetos que foram campeões no carnaval da cidade de Rio Claro, pela escola de samba SAMUCA.
No carnaval de 2007 Mauro Quintaes não teve trabalho seu apresentado no grupo especial das escolas de samba do Rio, tendo realizado apenas a Acadêmicos da Rocinha, na época no grupo A.
Nos três próximos anos Quintaes esteve pela São Clemente, a escola da zona sul carioca, onde desenvolveu os enredos “O Clemente João VI no Rio: A redescoberta do Brasil…” em 2008 fazendo parte de uma comissão de carnaval, “O Beijo Muleque da São Clemente” em 2009 e “Choque de Ordem na Folia” para o carnaval de 2010, estes últimos quando a escola desfilou no grupo de acesso A. A São Clemente foi campeã em 2010, sendo promovida para o grupo especial, mas Quintaes não permaneceu na agremiação.
No carnaval de 2008 mauro Quintaes também atuou como carnavalesco da Gaviões da Fiel, primeira oportunidade que teve para atuar como carnavalesco numa agremiação carnavalesca de São Paulo. Para esse desfile apresentou o tema de enredo “Nas asas dos Gaviões, rumo ao portal dos Sertões – Santana de Parnaíba, berço de Bandeirantes”, tendo alcançado em décimo lugar.
Em 2008 e 2009, pela SAMUCA, foi campeão do carnaval de Rio Claro, tendo no carnaval de 2010 ficado com a quarta colocação com o tema “.Balança, Balança Deixa Marejar a Onda Agora é Samuquear…”.
Para o carnaval do Rio de 2011 formou-se uma dupla com Quintaes e Wagner Gonçalves e coube a eles desenvolver o tema de enredo para a tradicional verde e rosa, Estação Primeira de Mangueira, onde o tema de enredo “O Filho Fiel, sem Mangueira”, cuja colocação final deixou a escola com o terceiro lugar. Com este desfile a Mangueira homenageou um de seus grandes compositores, Nelson Cavaquinho.
Para 2012 Mauro Quintaes volta ao grupo de acesso da Cidade Maravilhosa assumindo o Império Serrano e idealizou um enredo sobre Dona Ivone Lara, desfile marcado pela emoção do imperiano do início ao fim tendo como trilha sonora um samba com assinatura da parceria de Arlindo Cruz, Tico do Império e Arlindo Neto. A escola ficou com o vice campeonato, tendo faltado muito pouco para ascender ao grupo especial no carnaval seguinte.
Na época em uma entrevista para o SRZD Carnaval, Mauro deu a seguinte declaração, sobre a preparação do enredo sobre Dona Ivone Lara: “Minha intenção era que ela dissesse tudo o que queria ver no desfile. Porque não basta você homenagear uma pessoa e não agradá-la”.
“…A rainha da casa, mãe esposa de fé
Diz que o dom de compor é coisa de mulher
Com o mestre venceu o desafio ôôô
Nos cinco bailes da história do meu Rio…”
(Refrão do Samba do Império Serrano 2012)
Ainda no carnaval de 2012 foi campeão pela SAMUCA, na cidade de Rio Claro.
A excelente colocação serviu para que Quintaes ficasse no Império Serrano em 2013, onde desta vez desenvolveu o enredo “Caxambu – O Milagre das Águas na Fonte do Samba”, conquistando desta vez a terceira colocação ainda no grupo de acesso A.
Na cidade de Rio Claro, trocou de agremiação e desta vez trabalhou na Grasifs, alcançando o 3º lugar.
O carnaval de 2014 foi um completo desafio para o carnavalesco que assumiu três agremiações carnavalescas, com distâncias bastante expressivas entre a sede de cada uma delas. Voltou ao Anhembi, em São Paulo, desta vez com a Tom Maior, onde trabalhou também, no carnaval seguinte. No Rio de Janeiro fez a União do Parque Curicica, na série A e em Rio Claro, desta vez inovou com a Vila Alemã, onde permaneceu para 2015.
Retornou à passarela da Marquês de Sapucaí em 2015, 2016 e 2017 pela Unidos da Tijuca, participando da comissão de carnaval formada, depois da saída de Paulo Barros da escola, onde havia sido campeão em 2014. Alcançaram um vice campeonato no carnaval de 2016, tendo sido a melhor colocação nesses anos de Tijuca.
No desfile de 2017, a Unidos da Tijuca, se viu protagonista de uma das mais lastimáveis cenas do carnaval do Rio em todos os seus anos: uma alegoria desmoronou em plena pista de desfile e alguns desfilantes ficaram machucados. O desfile, inacreditavelmente, continuou depois da prestação de socorro e a escola se viu desorientada, permanecendo no grupo especial pelo motivo no regulamento não ter sido seguido à regra naquele ano.
A partir do carnaval de 2018, Quintaes definitivamente transferiu-se para o carnaval paulistano, primeiramente pela Unidos do Peruche, onde desenvolveu enredo homenageando o cantor Martinho da vila, pelos seus 80 anos de idade e desde 2019 instalou-se na Dragões da Real, já no primeiro ano conquistando um vice campeonato, depois de um desfile tecnicamente perfeito na pista do Anhembi.
Para o próximo carnaval paulista a proposta de Mauro Quintaes para a Dragões da Real é o tema de enredo “A Revolução do Riso: A Arte de Subverter o Mundo pelo Divino Poder da Alegria”.
Mesmo afastado do carnaval carioca, desde 2018, Quintaes não deixou de manifestar-se em suas redes sociais sobre o corte profundo na subvenção das escolas de samba cariocas, efetuado nos últimos anos especialmente pelo atual Prefeito da cidade.
…“É difícil expressar o sentimento. Porque as promessas foram feitas na base da campanha. Certamente o prefeito mobilizou o povo do samba que se rendeu as promessas. Estava muito claro que mais cedo ou mais tarde aconteceria isso, desde o primeiro ano que o prefeito se posicionou. As escolas deveriam ter se munido com alguma ação que garantisse o repasse de verba. Os artistas do carnaval do Rio tem que criar uma mobilização independente de viés político. Tem que afastar o medo de se posicionar, porque política se faz com coragem. Carnaval não é só quesito, existe a emoção do momento. As crises acabam alavancando carnavais belíssimos e carregados desse sentimento. Acredito que o carnaval vá acontecer sem dúvida. O quesito alegoria, que é mais prejudicado, tem que ser substituído pelo canto, pelo samba, pelo conjunto da obra. Talvez o momento possa oxigenar a festa e fazer com que tenhamos um excelente trabalho”. (http://sasp.com.br/mauro-quintaes-usa-redes-sociais-para-se-posicionar-sobre-corte-da-subvencao-do-carnaval-carioca/)
O carnavalesco, que está prestes a completar 36 carnavais em seu currículo, ainda tem um programa de entrevistas, especialmente com profissionais do carnaval, chamado de “Quintas com Quintaes”, onde consegue mostrar ao tele-espectador os bastidores da maior festa popular brasileira.
Por Sidnei Louro Jorge júnior