MILTON CUNHA

 

Como carnavalesco de escolas de samba do Rio de Janeiro, tanto do grupo principal como do grupo de acesso, muitos trabalhos de sua autoria, que obtiveram destaque, cruzaram a pista da Marquês de Sapucaí, inclusive tendo frequentado o desfile das campeãs, mas Milton Cunha nunca foi campeão do carnaval carioca. Como carnavalesco também teve passagem pela Leandro de Itaquera, agremiação do carnaval paulista no ano de 2001.

Milton Reis da Cunha Júnior, conhecido pelo grande público unicamente como Milton Cunha, é natural do estado do Pará, mais especificamente de Soure, na Ilha de Marajó onde nasceu no ano de 1962.

Psicólogo por formação, Mestre, Doutor e Pós-Doutor pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Milton Cunha sempre se destacou pela forma clara e simples de comunicar-se com as massas, especialmente com o povo amante do carnaval.

“A minha intelectualidade não me afasta do povo, na verdade ela me aproxima. Ela só me serve se for abrir minha cabeça. Se for me enclausurar, me manter distante, não me interessa. Quero viver” (Milton Cunha)

Como comentarista do desfile das escolas de samba já atuou em várias emissoras de televisão, mas também desenvolveu trabalhos na área de cenografia, não só no Brasil, como também realizou trabalhos bastante expressivos a nível internacional.

Desde cedo, em função de sua opção sexual, já que Milton Cunha se reconheceu gay muito cedo, teve muito embates, especialmente com o pai.

Aos 20 anos, já formado em Psicologia, Milton Cunha rumou em direção ao Rio de Janeiro, tendo nos primeiros anos morado no bairro de Copacabana, onde aliás mora até hoje. A carreira como psicólogo nunca foi exercida por ele.

Nos primeiros tempos na capital fluminense Milton Cunha realizou atividades como assistente de produção de moda, passador de roupa e até engraxate, mas suas reais intenções era sustentar-se e aprender, além de ver gente, fazer contatos, obter conhecimentos.

Somente depois de onze na os morando no Rio de Janeiro, época em que já era conhecido na indústria da moda é que adquiriu seu primeiro apartamento. Nessa ocasião também mudou radicalmente de profissão, quando lhe foram abertas as portas do carnaval carioca.

Milton Cunha, na época melhor amigo da modelo Fabiola Oliveira, foi o responsável por apresentar a modelo ao patrono da Beija Flor de Nilópolis Aniz Abrahão David, tendo ao final os dois casado, união que perdura até hoje. À Fabiola coube a tarefa de apresentar Milton Cunha ao carnaval.

Milton Cunha estreou na Marquês de Sapucaí no carnaval de 1994, como carnavalesco da Beija Flor de Nilópolis, com o enredo “Margaret Mee, a Dama das Bromélias”, tendo conquistado já nesse primeiro desfile a quinta colocação para a escola nilopolitana.

Na Beija Flor Milton Cunha ainda foi o responsável pelos desfiles de 1995 a 1997, tendo desenvolvido para a escola os enredos “Bidu Sayão e o Canto de Cristal” para 1995, “Aurora do Povo Brasileiro” em 1996 e finalmente “A Beija-Flor é Festa na Sapucaí!” para 1997. Suas melhores colocações na Deusa da Passarela foram nos anos de 1995 e 1996, quando conquistou o terceiro lugar nestes carnavais.

Saindo da Beija Flor de Nilópolis, Milton Cunha no carnaval de 1998 atuou na União da Ilha do Governador, formatando o tema de enredo “Fatumbi, Ilha de Todos Os Santos”, desfile este que lhe rendeu o primeiro Estandarte de Ouro da carreira como carnavalesco.

Permaneceu na União da Ilha para o carnaval de 1999 e para esse desfile planejou o enredo “Barbosa Lima, 102 anos do Sobrinho Do Brasil”, mas a ocorrência de um incêndio quarenta dias antes do desfile queimou fantasias e alegorias, mas assim, depois de um trabalho de reconstrução a escola insula conquistou o décimo lugar.

Para o carnaval de 2000 Milton Cunha não pisou na Sapucaí

Retornando a pista de desfiles no carnaval de 2001, Milton Cunha nesse carnaval dedicou-se a Leandro de Itaquera, juntamente com dois outros carnavalescos, escola de samba paulista, tendo apresentado o enredo “Os seis segredos do Ariaú”, ficando com o oitavo lugar. Essa foi a primeira e única experiência de Milton Cunha como carnavalesco, fora do Rio de Janeiro.

Retornando à capital fluminense, nos carnavais de 2002 e 2003 Milton Cunha deu expediente na Unidos da Tijuca, com os enredos “O Sol brilha eternamente sobre o Mundo da Língua Portuguesa”, tendo ganho seu segundo Estandarte de Ouro com este carnaval e para 2003 planejou e apresentou o desfile da escola do Borel com o enredo “Agudás: Os que levaram a África no coração e trouxeram para o Coração da África, o Brasil”.

Nos anos de 2004 e 2005, Milton Cunha esteve na escola da zona sul São Clemente. No primeiro ano a escola desfilou no grupo especial, mas a péssima colocação a levou para o grupo de acesso no carnaval de 2005, primeira experiência de Milton Cunha como carnavalesco fora do grupo especial.

De 2006 a 2009 Milton Cunha voltou a trabalhar em agremiações cariocas que estavam no grupo especial. Nesse período atuou como carnavalesco na Unidos do Viradouro nos carnavais de 2006 e 2009, Unidos do Porto da Pedra 2007 e esteve de volta a São Clemente com o desfile de 2008. Sua melhor colocação nesses anos foi o terceiro lugar no carnaval de 2006, com a Unidos do Viradouro, que apresentou o tema de enredo “Arquitetando Folias”, carnaval no qual Milton Cunha dividiu o posto de carnavalesco da agremiação com os colegas Mário e Kaká Monteiro.

Milton Cunha despediu-se da Sapucaí como carnavalesco no carnaval de 2010 com a Unidos do Cubango, originária da cidade de Niterói, nesse ano no grupo de acesso A.

No ano de 2007 teve início sua carreira internacional com participação no Brazilian Ball do Canadá, em Toronto, no Canadá. Em 2010 tornou-se o carnavalesco da primeira escola de samba de San Luis, na Argentina, a Sierras Del Carnaval realizando os desfiles da agremiação de 2010 a 2013.

Milton Cunha também atuou em trabalhos relacionados ao carnaval em nas cidades de Estocolmo, Londres, Buenos Aires, Tóquio, Lausanne e Johanesburgo.

No mês de fevereiro de 2015, lançou pela Editora Senac de São Paulo o livro “Carnaval é Cultura, poética e técnica no fazer Escola de Samba”. Para essa publicação Milton Cunha escolheu mais de 500 imagens que, além de captar os momentos de delírio na avenida, revelam o trabalho de dez meses antes nos barracões, nas quadras, nos ensaios: como o desfile do ano seguinte é pensado, planejado e executado, como os materiais são reaproveitados, como a festa gera trabalho e desenvolve artesãos.

Muitos trabalhos como comentarista do carnaval carioca, tanto do grupo especial como do grupo de acesso foram e são realizados por Milton Cunha até hoje, além de realizar matérias atuando também como repórter, especialmente no período pré-carnavalesco.

Pela Rede Bandeirantes Milton Cunha inclusive atuou no festival folclórico de Parintins, que acontece anualmente no mês de junho nos confins da Amazônia.

“Milton Cunha é o sopro de loucura nesta terra de gente careta, que quer enquadrar o carnaval com uma série de regras, como se ele fosse ciência, e não arte; como se fosse receita de bolo, e não imprevisibilidade; como se fosse estático, e não movimento.” (jornalista Leonardo Bruno – 2014)

Atualmente Milton Cunha é professor universitário, ministrando aulas de Produção de Carnaval.

Divide seu tempo com o segundo pós-doutorado na Escola de Belas Artes da UFRJ da UFRJ, estando estudando a história do Boi de Parintins.

Como curiosidade, Milton Cunha possui mais de 300 ternos, todos muito coloridos, dezenas produzidos a cada temporada:

O tempo de Milton Cunha também é direcionado na atualidade para a conclusão de seu segundo livro, que tem o título de “Signos, significados e significantes na Sapucaí’’.

Por Sidnei Louro Jorge Júnior

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