No dia 28 de março, manifestei publicamente a minha vontade de não continuar na presidência da Lierj. Naquele momento, apesar de ter a total convicção na realização de um bom trabalho, achei por bem encerrar o meu ciclo na administração da entidade. Como sempre deixei muito claro, não me preocupo com cargos ou escalões. Por isso, ao tomar ciência da insatisfação de algumas escolas de samba, achei por bem tomar aquela atitude, justamente para não atrapalhar o crescimento que tanto batalhamos para viabilizar na Série A.
Desde aquele anúncio, porém, acabou sendo revelado um cenário completamente diferente daquele que imaginávamos. Antes mesmo que pudéssemos iniciar os trâmites burocráticos para que eu e minha diretoria deixássemos oficialmente a Liga e encaminhássemos uma transição salutar para um novo gestor, começou uma leviana busca pela cadeira, com tentativas ilegítimas de tomada do poder. Em vez de serem seguidas todas as etapas legais, foram realizados atos que buscavam atropelar a lei, a ética e o bom senso. No lugar em que deveriam estar ideias e projetos para que a Série A continuasse a evoluir, como vínhamos promovendo ano a ano, pudemos observar discursos vazios, carregados apenas por ofensas pessoais e, principalmente, por críticas e acusações infundadas, plantadas de maneira irresponsável em veículos de comunicação regionais.
Foi quando percebi que não se tratava da insatisfação de agremiações com o modelo de gestão em vigor, mas sim de uma ambição pessoal para ascensão ao comando. Ficou muito claro que os objetivos eram puramente individuais e nem de longe contemplariam as escolas de samba e seus segmentos, enfraquecendo aquele produto cultural que vem sendo lapidado com tanto carinho e alcançou resultados tão expressivos nos últimos anos.
Essa mesma percepção vem sendo incessantemente compartilhada por sambistas, desfilantes, espectadores, trabalhadores e militantes do Carnaval. Seja em eventos de samba, nas quadras das agremiações ou através das redes sociais, todos começaram a expressar o mesmo receio com o futuro da Série A.
Diante de todos os fatos, não posso ignorar a preocupação de milhares de foliões que seriam diretamente afetados por ações precipitadas que certamente causariam um retrocesso no espetáculo. Corre em minhas veias o sangue de um sambista na mais pura essência, cria de comunidade, apaixonado por Carnaval. Não posso virar as costas diante de tantos pedidos sinceros de pessoas apreensivas por conta de anseios isolados que poderiam, inclusive, colocar em risco a realização dos desfiles de sexta-feira e de sábado. Por isso, em prol de uma Lierj que foi construída na base da honestidade, da competência e do coletivo, com o objetivo de fortalecer as escolas de samba, aproximando o público de um produto atrativo, recheado de beleza, criatividade e samba no pé, informo que, por ora, não protocolarei a carta de renúncia e retomarei as atividades como presidente da Liga, buscando a união entre aqueles que realmente têm boas intenções para o grupo.
Vale ressaltar que eu e minha equipe seguiremos trabalhando naquilo em que sempre fomos pautados, com total transparência e conformidade com o que rege o estatuto, devidamente corroborado e assinado pelas escolas de samba. Esse lema será sempre levado em conta, até que chegue o dia em que o ciclo esteja completo e o Carnaval da Série A bem encaminhado para seguir na trilha do sucesso.
Atenciosamente,
Renato Thor
Presidente
Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro