Para os apreciadores do mundo do samba, o onze de abril tem um significado muito especial, pois além de se estar comemorando os 97 anos de fundação da Portela, a maior campeã do carnaval carioca de todos os tempos, nesta mesma data comemora-se o dia da Escola de Samba.
Muitas são as definições para este organismo vivo que é a escola de samba, mas talvez uma das melhores conceituações seria aquela que diz que a escola de samba é um tipo de agremiação de cunho popular que se caracteriza pelo canto e dança do samba, quase sempre com intuito competitivo. Seria um tipo de associação originária da cidade do Rio de Janeiro, sendo agremiações que se apresentam em espetáculos públicos, em forma de cortejo, onde representam um enredo, ao som de um samba-enredo, acompanhado por uma bateria e seus componentes (que podem ser algumas centenas ou até milhares) usam fantasias alusivas ao tema proposto, sendo que a maioria destes desfila a pé e uma minoria desfila sobre “carros”, onde também são colocadas esculturas, além de outros adereços. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_samba)
Rio de Janeiro e posteriormente São Paulo na atualidade são os dois grandes carnavais com maior visibilidade no Brasil, quando se fala em desfiles de escolas de samba, com desfiles organizados por grupos de agremiações carnavalescas, mas nos quatro cantos de nosso país há escolas de samba estabelecidas e em pleno funcionamento.
O carnaval apresentado pelas escolas de samba é fonte de trabalho para muitas pessoas, além do que trazem para nosso país uma quantidade bastante expressiva de turistas de todas as partes do mundo, trazendo muitos dividendos aos locais onde os maiores desfiles acontecem.
Num passado distante as pistas de desfile eram temporárias, sendo montadas e desmontadas tão logo passava o carnaval, mas a relevância desses desfiles como manifestação cultural que são, sensibilizou os governantes para a construção de pistas definitivas, pistas estas existentes também por todo o Brasil, destacando-se o sambódromo da Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro e a pista de desfile do Anhembi em São Paulo.
Foi-se o tempo em que a escola de samba tinha como única preocupação a preparação e o desfile na época do carnaval, já que como organização viva, atualmente o ápice de cada agremiação é sim o desfile que apresenta no carnaval, mas durante todo o ano estão de portas abertas para festividades, promoções, ações sociais focadas em sua comunidade, muitas sediam cursos profissionalizantes, possuem profissionais médicos, enfermeiros e odontólogos para atendimento e tantas outras propiciam atividades na área dos esportes e do lazer.
Teria sido o rancho carnavalesco “Rei de Ouros”, fundado em 1893 pelo pernambucano Hilário Jovino Ferreira, o primeiro rancho de carnaval, responsável por apresentar novidades como o enredo, personagens como o casal de mestre-sala e porta-bandeira e o uso de instrumentos de cordas e de sopro.
Já remonta aos sambistas do morro do Estácio, no Rio de Janeiro que fundaram a “Deixa Falar” no ano de 1928, quem organizaram as bases das atuais escolas de samba, visto que a ideia de Ismael Silva era a de fundar um bloco carnavalesco distinto, onde pudessem dançar e evoluir ao som do samba.
No ano de 1929 aconteceu o primeiro concurso de sambas, realizado na casa de Zé Espinguela, de onde saiu vencedor o Conjunto Oswaldo Cruz, e do qual também participaram a Estação Primeira de Mangueira e a Deixa Falar. Muitos consideram este como sendo o marco da criação das escolas de samba.
No ano de 1932 o periódico Mundo Esportivo, de propriedade do jornalista Mário Filho (irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues), resolveu organizar o primeiro desfile de escolas de samba, o qual acabou sendo realizado na Praça Onze. O jornal, inaugurado no ano anterior por Mário Filho, com o término do campeonato de futebol, estava sem assunto e perdia leitores; por este motivo, o jornalista Carlos Pimentel, muito ligado ao mundo do samba, teve a ideia de realizar na Praça Onze um desfile de escolas de samba.
A convite do jornal, dezenove escolas compareceram. O jornal estabeleceu critérios para o julgamento das escolas participantes, sendo a tradicional “ala das baianas” um dos pré-requisitos para concorrer, sendo que as escolas, todas com mais de cem componentes, deveriam apresentar sambas inéditos e não usar instrumento de sopro, entre outras exigências.
A escola vencedora foi a Estação Primeira de Mangueira, enquanto o segundo lugar coube ao grupo carnavalesco de Osvaldo Cruz, hoje Portela.
E de lá para cá, vários grandes momentos foram protagonizados nos desfiles carnavalescos pelas escolas de samba, momentos que ficaram imortalizados na memória dos amantes do carnaval, assim como sambas imortais até hoje são cantados pelas novas gerações de sambistas.
Quem não se lembra de “Quilombo dos Palmares” apresentado pelo Salgueiro em 1960, já que até aquele ano a história dos negros e da resistência à escravidão jamais tinha sido contada em um desfile de escola de samba. Fernando Pamplona foi pioneiro com este desfile.
“Iemanjá” no desfile do Império Serrano e da São Clemente no carnaval de 1966, já que por muitos anos falar em candomblé ou orixás era proibido em um desfile. A primeira vez que um orixá foi citado em um samba-enredo foi somente em 1966, mais de 30 anos depois dos primeiros desfiles.
“Heróis da Liberdade” apresentado pelo Império Serrano no desfile de 1969 foi uma clara posição crítica ao regime da época. Por essa razão o samba precisou ser alterado – a palavra “revolução” teve de ser trocada, por exemplo, por “evolução”. O samba de Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira tornou-se um hino de celebração à liberdade e de homenagem a outros sambistas.
“Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia” apresentado pela Beija Flor de Nilópolis no carnaval carioca de 1989, quando o gênio Joãosinho Trinta decidiu não só abrir mão de seu luxo peculiar, como colocar um Cristo Redentor vestido de mendigo, rodeado também de mendigos, em meio à miséria para desfilar.
“Xingu – o clamor que vem da floresta” da Imperatriz Leopoldinense no carnaval do Rio de Janeiro do ano de 2017, desfile com o qual a agremiação trazia justas críticas às investidas do poder e das elites contra a demarcação de terras indígenas e os direitos das populações indígenas no Brasil, além de fortes críticas ao agro-negócio.
No carnaval carioca de 2018 a Paraíso do Tuiuti protagonizou outro grande desfile com o enredo “Meu deus, meu deus, está extinta a escravidão?”, mostrando como a escravidão e seus efeitos permanecem até hoje.
E a Estação Primeira de Mangueira com seu desfile também em 2018 com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, forte crítica sobre o corte de verbas para as escolas de samba decretado pelo prefeito Marcelo Crivella, mandatário do Rio de Janeiro, que resolveu cortar as verbas públicas recebidas pelas escolas de samba cariocas, num claro desconhecimento de ser o carnaval manifestação cultural e que como produto muito auxilia no incremento dos impostos recebidos pelos governantes na época dos desfiles, pelo grande incremento que trás, especialmente no setor turístico.
Mas nem só de desfiles felizes o carnaval das escolas de samba alimenta-se, visto o caos que se estabeleceu no desfile da Unidos do Viradouro de 1992 com o enredo “E a Magia da Sorte Chegou”, quando ainda na pista de desfile iniciou um incêndio em uma das alegorias da agremiação, situação que gerou um completo caos, fazendo inclusive com que a escola perdesse preciosos pontos em diversos quesitos, inclusive cronometragem, já que o tempo máximo de desfile acabou sendo ultrapassado.
Posteriormente chegamos à fundação de escolas de samba mirins, geralmente entidades ligadas à uma escola mãe, dando chances à que crianças e adolescentes possam iniciar-se no mundo dos desfiles e mais modernamente inclusive existem escolas de samba virtuais e escolas de samba de maquetes, que utilizam o mundo digital para apresentarem seus desfiles anualmente.
No atual momento pelo qual estamos passando de pandemia mundial da COVID19, muitos são os exemplos de solidariedade e preocupação com o próximo que estão originando ações desenvolvidas pelas escolas de samba em prol de suas comunidades e por aquelas pessoas com menor poder econômico, atitudes que merecem todos os aplausos, como se fossem aplausos vindos de uma platéia aguerrida, como aqueles que se observa vindos da platéia que lota as arquibancadas e demais espaços existentes nas pistas de desfile durante o carnaval.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior