Paula do Salgueiro, por ela criou-se o termo “Passista”

“Quando se diz Paula da Silva Campos, ninguém sabe quem é, mas quando se diz Paula do salgueiro, não há dúvidas possíveis”, dizia assim a manchete do Correio da Manhã de 1968\Edição 22974.

Nascida em Cantagalo, Estado do Rio de janeiro e criada em Niterói, Paula do Salgueiro, era da época em que as escolas de samba traziam da própria quadra, dentro da corda (única e respeitada barreira entre a agremiação em desfile e a plateia em plena rua), sua maior atração feminina, a passista. Paula talvez tenha sido a maior das passistas; certamente foi a mais famosa. Começou a encantar o público numa pequena escola de Niterói, a Combinado do Amor, nos anos 40.Paula era até então empregada doméstica.

No carnaval de 1954, ano que as Escolas de Samba “Azul e Branco”, “Depois eu digo” e “Unidos do Salgueiro” se unificaram para criar o Acadêmicos do Salgueiro, Paula ficou seduzida pelas cores vermelha e branca e relata: ‘‘Foi amor à primeira vista, mesmo, tão intenso mesmo que já no sábado de Aleluia após aquele carnaval, saí de Niterói para assistir ao desfile comunitário da Acadêmicos da Praça Saenz Pena. Quando os ritmistas fizeram o primeiro aquecimento nas peças, já me encontraram rebolando na praça… Logo fui convidada para desfilar num carro alegórico… Mais tarde fui convidada para uma festa no Salgueiro e tive a maior surpresa… Esperavam-me com flores e me saudaram a mais nova pastora do Salgueiro”. (Rego, 1994 p. 16)

Responsável pelo surgimento do termo passista, os requebros sedutores de Paula da Silva Campos conquistaram todo o Brasil de maneira tão avassaladora que se tornou necessário um nome para batizar a dança da mulata salgueirense. A forma de Paula de dançar era tão característica e envolvente, que os jornalistas inicialmente passaram a chamá-la de malabarista. Até surgir o nome “passista”, que daria nome aos dançarinos do samba.

Na época Fernando Pamplona declarou, “Sem ela a Acadêmicos do Salgueiro está incompleta”.

No Salgueiro, impôs-se pelos passos. “A passista dança sem nunca afastar os pés do chão, e pelo porte”, esclareceu uma vez.

Participou do grupo folclórico “A Brasiliana” e marcou presença nos corpos de dança de Felitícia, Mercedes Baptista e no Teatro Folclórico Brasileiro, de Solano Trindade. Inspiradora da imagem da mulata farta de cadeiras e seios, imortalizada nos quadros de Di Cavalcanti. Do tempo em que os terreiros do samba não designavam as solistas com a expressão passista (eram chamadas de pastoras ou cabrochas), Paula notabilizou-se pelo seu estilo, fascinante jogo de braços,

Logo iniciaria uma carreira paralela, de 30 anos, de modelo nos estúdios da Escola Nacional de Belas-Artes. Foi também bailarina dos conjuntos folclóricos de Mercedes Batista e do poeta Solano Trindade, e do grupo Brasiliana. Com este último viajou por muitos países: Alemanha, França, Portugal e Suíça.

Expectadora de caxambu, folia-de-Reis, dedicou grande parte de sua vida aquela fantasia norteadora da indumentária de toda a sua carreira: torso branco na cabeça, os ombros nus e o decote ousado, colares e pulseiras e grandes tamancos – à imagem de Carmem Miranda

Paula do Salgueiro não foi destaque apenas de sua escola. Ela é mais do que isso, porque simbolizou o carnaval e em sentido mais largo, o próprio espírito do povo carioca. Com a sua alegria, vestida de rendas, com a sua pele feita de noite, a famosa passista não precisa vencer para ser ela própria, uma vitória do morro humilde que fabrica o samba, e um momento de glória para a sua raça. Ninguém precisa saber quanto custou a sua requintada fantasia, ou o muito suor que exigiu a maestria de seus passos. Paula e o Salgueiro, o samba e o Rio, unidos num ritmo de cor e de som, alma aberta à alegria, corpo-oferenda ao amor

Durante cerca de três décadas, Paula foi uma das maiores atrações do desfile principal do Carnaval, até que os médicos decretaram, devido a uma artrose, o fim de sua carreira. Dois compositores consagrados, Nei Lopes e Dauro do Salgueiro, fizeram no fim dos anos 70, quando o desfile das escolas já ganhava outros rumos, um samba para homenageá-la em vida: “Paula é uma das poucas/ Que ainda nos deixam/ Com água na boca/ No bom miudinho/ No Machucadinho/ No dengo, meu bem”.

Atravessou a avenida até o final da década de 1980, quando participou da fundação da Tradição. Falecendo em 2001.

Apesar de na sua época o Salgueiro ter no seu fortíssimo elenco ícones como Narcisa, Roxinha e o trio das irmãs Marinho. O segmento passista de escola de Samba deve muito a Paula do salgueiro.

Por Waldir Tavares
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