A mineira, Maria da Penha Ferreira Ayoub, criada no Rio de Janeiro desde os dez anos de idade e hoje moradora de São Paulo, conhecida popularmente por Pinah, dedicou-se aos estudos para ser contadora, mas acabou mudando de ideia e fez curso de modelo, tendo sido modelo de Jésus Henrique nos idos dos anos 70.
Mas é no carnaval carioca que ela empolga a multidão há anos. Conhecida como a Cinderela Negra que encantou o príncipe, já que no ano de 1978 sambou com o príncipe Charles durante uma visita do herdeiro real britânico ao Brasil.
“Eu não dancei com o príncipe; ele veio dançar comigo”, relata Pinah até hoje. Na época, ela diz que nem fazia ideia de quem era o gringo que vinha em sua direção com passos de charleston. “Só no dia seguinte fiquei sabendo que era o futuro rei da Inglaterra”. Dentre as poucas coisas que guarda de sua época áurea como destaque da Beija Flor está o adereço de cabeça que usou quando dançou com o príncipe britânico.
O ano de 1989 marcou a despedida de Pinah da Marquês de Sapucaí como destaque da Beija Flor de Nilópolis, naquele ano a escola com “Ratos e Urubus, larguem minha Fantasia” deixou a pista de desfiles ovacionada pelo público presente. Na tarefa de destaque da Beija Flor foi sucedida pela sua única filha Cláudia, filha nascida da união com o libanês Elias Emile Ayoub. Hoje desfila na Beija Flor, mas como integrante da diretoria da agremiação. Atualmente sua participação na Beija Flor se dá como conselheira da escola, mas, como mora em São Paulo, acompanha as decisões do comitê de longe.
Sua entrada no mundo do samba se deu graças aos grandes concursos de fantasia. “Na década de 70, 80 os concursos de fantasia eram famosos, e o Luis Carlos Ribeiro, um estilista famoso da época, sempre me chamava para desfilar as peças dele nos concursos do Teatro Municipal e do Hotel Glória. Um dia, ele tinha uma fantasia que se chamava a escrava de Xangô e perguntou se eu tinha coragem de raspar a cabeça para combinar mais com a peça. Coragem eu não tinha, mas fui lá e raspei. Virou uma marca”, diz ela, lembrando a origem de sua famosa careca, mantida até hoje.
O visual exótico, o rebolado abusado, nunca promoveu Pinah ao posto de rainha de bateria, posto este que na sua época áurea como destaque da escola nilopolitana era ocupado por Sônia Capeta, mas Pinah sempre declarou nunca ter almejado esse posto a frente da bateria da escola.
No carnaval de 1983 Pinah acabou sendo uma das figuras negras homenageadas no desfile da Beija Flor, que com o tema de enredo “A Grande Constelação das Estrelas Negras” alcançou o campeonato naquele carnaval. O samba de enredo que embalou aquele desfile nos seus versos dizia: “Pinah êêêê Pinah, a cinderela negra que ao príncipe encantou, no Carnaval com seu esplendor”.
Sempre foi categórica ao assegurar que existe o Carnaval pré e pós Joãosinho Trinta, seu amigo, gênio e mentor, pois segundo ela, antes era muito mais gostoso, tinha uma emoção diferente. Segundo sua percepção atualmente as pessoas vão desfile para verem e serem vistos.
Pinah chegou a morar fora do Brasil, já que residiu em Paris por cerca de seis meses, mas logo retornou ao país.
Atualmente, passa boa parte de seu tempo às voltas com sua empresa, o Palácio das Plumas, que fornece aviamentos para fantasias com sede na capital paulistana. A loja paulistana é um supermercado de fantasias de 450 metros quadrados que funciona o ano todo.
Como reside em São Paulo, Pinah seguidamente é questionada sobre o carnaval carioca e paulistano, mas nunca foi de comparar essas duas manifestações, já que segundo ela mesma cada qual tem suas belezas.
Os 70 anos da Beija-Flor foram comemorados na Marquês de Sapucaí no último carnaval e claro que Pinah não poderia ficar de fora desse momento inesquecível para todo torcedor da Deusa da Passarela. Fugindo à regra que tem seguido nos últimos carnavais, mais precisamente desde o carnaval carioca de 1990, veio como destaque de chão, em frente a uma ala da escola com 35 integrantes, todas com sua cabeça raspada, como homenagem à Pinah, eterna destaque da Beija Flor de Nilópolis.
Para o carnaval de 2020, na Intendente Magalhães, no subúrbio carioca, Pinah cruzará a pista de desfiles como enredo da escola de samba Lins Imperial, que trará o tema de enredo “Pinah, a Soberana”, dos carnavalescos Eduardo Minucci e Raí Menezes.
por Sidnei Louro Jorge Júnior