André Vaz justifica voto da vermelho e branco na polêmica da virada de mesa e culpa presidente da Liesa pelo impasse
RIO — Na queda de braço que virou e pode desvirar a mesa no carnaval carioca , o Acadêmicos doSalgueiro é um voto de peso a favor da permanência daImperatriz Leopoldinense noGrupo Especial . E, pela primeira vez, o presidente da vermelho e branco, André Vaz, apresenta os argumentos que sustentam sua decisão. O dirigente afirma quenão se pode dar “as costas” aLuizinho Drummond , patrono da agremiação de Ramos e um dos fundadores da Liga Independente das Escolas de Samba ( Liesa ).
Nesta terça-feira, a Imperatriz entrou na Justiça para tentar impedir a desvirada de mesa, o que a rebaixaria para a Série A em 2020. A plenária que, inicialmente, manteve a escola na elite do samba tinha ocorrido no último dia 3 de junho, e não salvava a outra rebaixada do último carnaval, o Império Serrano.
“Por que a Tuiuti e a Tijuca tiveram esse direito e a Imperatriz não tem? O erro foi lá atrás. Temos que acertar o presente e o futuro”
ANDRÉ VAZ
André Vaz afirma que todo o impasse começou em 2017 (quando ocorreu a primeira virada de mesa dos últimos três carnavais), pelo que culpa o presidente da liga, Jorge Castanheira.
— O grande erro foi do presidente da Liesa, que aceitou isso ( a virada de mesa de 2017 ) e gerou o que viria pela frente. O Salgueiro votou na Imperatriz pela importância que a escola tem. Seu presidente é um dos fundadores ( da Liesa ). O Grupo de Acesso estava tendo uma briga, ia rachar. Não sabia nem se teria Acesso. Vai largar uma escola fundadora? A gente se reuniu, e eu achei que o Salgueiro tinha que dar o braço à Imperatriz — defende Vaz.
O dirigente afirma não se arrepender do posicionamento do Salgueiro. E sugere mudanças no regulamento das escolas de samba para definir o rebaixamento.
— Antes de assinar, pensei. Não me arrependo. A Imperatriz é uma escola importantíssima — reitera André Vaz. — Por que a Tuiuti e a Tijuca tiveram esse direito ( em 2017 ) e a Imperatriz não tem? O erro foi lá atrás. Temos que acertar o presente e o futuro. Tem que criar um regulamento e colocar no estatuto da Liesa que nunca mais isso pode entrar em pauta ( a virada de mesa ). Pode criar um ranking de pontos, como no futebol argentino, para definir o rebaixamento — defende ele.
A manobra repercutiu mal. E o Ministério Público do Rio (MPRJ)ameaçou cobrar uma multa de R$ 750 mil da Liesa por rasgar o regulamento, descumprindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado em 2018. Na semana passada, Unidos da Tijuca, Paraíso do Tuiuti e União da Ilha, que tinham defendido a manuntenção da Imperatriz, decidiram mudar seus votos. Uma nova plenária está marcada para o próximo dia 10 de julho, quando se baterá o martelo sobre o assunto.
Sucessão na Liesa
Do lado da Imperatriz, pelo menos por enquanto, continuam Mocidade Independente, Grande Rio, Estácio de Sá, São Clemente e o próprio Salgueiro. Enquanto isso, o planejamento do carnaval 2020 segue em compasso de espera das definições políticas. E surgem especulações de possíveis nomes para a sucessão de Jorge Castanheira, que comunicou a sua renúncia. Entre os nomes cotados, está o do vice-presidente da Mocidade Independente, Rodrigo Pacheco. Para André Vaz, a assembleia geral convocada para o dia 10 de julho definirá os rumos da liga, fundada em 1984.
— Tenho carinho especial pelo Jorginho, que é um batalhador. Quando ele oficializar a renúncia dele, surgirão outros nomes porque a Liesa tem que continuar. Vejo o Rodrigo um bom nome. É um administrador inteligente, tem o dom da palavra, sabe se expressar, mas vamos aguardar o dia 10. Com certeza haverá uma solução no dia 10. Toda empresa passa por crises. Temos que resolver dentro da empresa mesmo. A vida continua — defende Vaz.
Planejamento do Salgueiro continua
Apesar da paralisia na organização da festa na Marquês de Sapucaí (sem dias e ordem de desfile definidas, por exemplo), o planejamento do carnaval continua na escola nove vezes campeã. Os protótipos das fantasias devem ficar prontas até agosto. A partir do dia 27 de julho, a quadra da Vermelho e Branco receberá as escolas de samba do Grupo Especial e da Série A do Rio, além de agremiações do carnaval de São Paulo, em mais uma edição do Salgueiro Convida — e o mandatário salgueirense garante que não há clima ruim com outras agremiações e que todas as escolas já confirmaram presença.
Em paralelo, o Salgueiro vai reformular o programa de sócio-torcedor e busca, com o apoio de uma empresa de marketing, possíveis patrocínios. A gestão salgueirense aguarda ainda a conclusão de uma auditoria para o dia 15 de julho que deverá mostrar a dimensão das dívidas acumuladas pela agremiação nos últimos anos.
— Salgueiro não está parado. Está buscando viabilizar o enredo (“O Rei negro do picadeiro”), procurando honrar os compromissos. Não dá para ficar parado. Estamos buscando parceiros que possam emprestar dinheiro. Semana que vem (essa semana) vamos demolir o puxadinho da Vila Olímpica que a antiga administração fez, e que resultou na interdição do espaço. Isso na minha gestão é prioridade. Vila Olímpica é o futuro do Salgueiro. A maioria das empresas hoje quer patrocinar projetos sociais. Se você fizer um projeto social, consequentemente, traz (recursos) para a escola. O futuro do Salgueiro depende de conseguirmos fazer esse projeto — conclui o presidente.
Fonte: O Globo