Relembrando o Carnaval 2017: Alegria manchada por tragédias na Sapucaí e polêmicas na apuração

O Carnaval de 2017 no Rio de Janeiro foi marcado por diversos eventos que o tornaram um dos mais controversos da história recente. Acidentes graves, virada de mesa e apuração polêmica foram alguns dos ingredientes que transformaram a festa em um verdadeiro show de horrores.

O prenúncio do horror na Série A

A tragédia que pairava sobre o Carnaval de 2017 já dava seus sinais na Série A, realizado nos dias 24 e 25 de fevereiro. No desfile da Unidos de Padre Miguel, a porta-bandeira Jéssica sofreu uma queda grave durante sua apresentação, precisando sair da avenida de maca direto para o hospital.

Foto: Reprodução/TV Globo

Apesar do desfile impecável e superior ao das demais agremiações, a Padre Miguel terminou apenas em quarto lugar, com muitos pontos perdidos no quesito.

Um Domingo que deixou a Sapucaí em choque

Campeã da Série A no ano anterior, a Paraíso do Tuiuti teve a missão de abrir os desfiles do Grupo Especial no dia 26 de fevereiro. Uma leve chuva insistia em cair naquela noite. A escola de São Cristóvão realizava um bom desfile até que a última alegoria entrou desgovernada na pista molhada após bater em um dos muros da área de armação. Descontrolado, o carro imprensou dezenas de pessoas, deixando um saldo de vinte feridos.

Entre os feridos, a radialista Elizabeth Jofre, conhecida como Liza Carioca, teve um destino cruel. Liza lutou pela vida por quase dois meses, passando por sete cirurgias, mas faleceu no dia 29 de abril. Sua morte causou profunda comoção no mundo do samba e na sociedade em geral.

Quatro pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil: o engenheiro Edson Gaspar, os diretores da escola Leandro Azevedo e Jaime Benevides, e o motorista Francisco de Assis, que alegou dificuldades em enxergar a pista.

Dupla Tragédia: Mais um Acidente Abate o Carnaval de 2017

Na Segunda feira, outra tragédia. A noite que prometia ser de alegria para a Unidos da Tijuca se transformou em mais um capítulo de horror naquele carnaval. Com menos de dez minutos de desfile, a segunda alegoria sofreu um colapso na segunda plataforma e desabou, deixando 12 pessoas feridas, algumas em estado de choque.

O acidente gerou pânico entre os componentes da escola e no público presente na Sapucaí. Os bombeiros entraram na avenida e ordenaram a parada da alegoria para o atendimento aos feridos. a escola encerrou sua apresentação com 76 minutos, apenas um acima do limite permitido.

A Bruxa estava solta naquele carnaval:

Diversas escolas enfrentaram dificuldades com seus carros alegóricos, comprometendo a fluidez e o espetáculo da festa.

Reprodução Rede Globo

A quinta alegoria da União da Ilha teve problemas na caixa de marchas, passando desgovernado durante todo o desfile e no final bate na cabine da TV Globo para dar tempo do restante da escola passar. O abre-alas da Vila Isabel quebrou na dispersão, dificultando a evolução das últimas alas.

Reprodução Rede Globo

A plataforma de uma das alegorias da Mocidade Independente quebrou, causando a queda de uma componente. Felizmente, a queda foi de apenas um metro e meio e a integrante não se machucou gravemente. A Mangueira sofreu com uma alegoria que teve o pneu furado, obrigando a um esforço extra para conduzi-la pela pista e comprometendo a fluidez do desfile. 

Repercussão e Apuração polemica

Os lamentáveis acidentes nos desfiles geraram grande comoção na comunidade do samba e no público em geral. Em meio ao luto e à indignação, representantes das escolas se reuniram e chegaram a um acordo para que não houvesse rebaixamento no ano, gerando revolta na comunidade do samba, que considerou a medida injusta e desrespeitosa com a tradição carnavalesca.

A apuração se seguiu e a Portela finalmente quebrou seu jejum de títulos após 33 anos. A Mocidade Independente de Padre Miguel ficou em segundo lugar, seguida por Salgueiro, Mangueira, Grande Rio e Beija-Flor. Sem a sombra do rebaixamento, a Unidos da Tijuca terminou em penúltimo lugar, e a Paraíso do Tuiuti em ultimo.

Inconsistência nas notas e a disputa pelo título decidida em Abril:

Após a apuração, as justificativas dos jurados geraram polêmica. O julgador de Enredo, Valmir Aleixo justificou a perda de um décimo da Mocidade pela falta de um destaque de chão, baseando-se na primeira edição do roteiro enviado à Liesa. A Mocidade, porém, alegou ter enviado uma atualização do caderno sem o destaque, que inexplicavelmente não teria sido recebida por Aleixo. Se tivesse recebido a nota máxima, a Mocidade empataria com a Portela e seria campeã pelo desempate em Comissão de Frente.

A Mocidade recorreu à Liesa pedindo a divisão do campeonato. Em uma reunião extraordinária da Liesa realizada em Abril, sete escolas votaram a favor da divisão do título, quatro se abstiveram e apenas a Portela votou contra. A divisão do título foi confirmada, gerando debates acalorados entre as torcidas das duas escolas e dividindo opiniões na comunidade do samba.

Matriarcas. Jane Carla, da Portela, e Tia Nilda, da Mocidade, celebram a amizade Foto: Fernando Lemos 

Apesar das tragédias e polemicas, a festa também mostrou a força do samba e a capacidade das escolas de se superarem diante das adversidades. A morte da jornalista Liza Carioca no desfile da Paraíso do Tuiuti e o acidente com a alegoria da Unidos da Tijuca mancharam a festa e até hoje geram debates importantes sobre segurança nos desfiles.

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