Na história do carnaval carioca, a inspiração de se ter desfiles competitivos veio de uma ideia do jornalista Mário Filho, tendo o primeiro desfile acontecido no ano de 1932, mas foi o desfile acontecido no ano de 1935 que é considerado o primeiro oficial, pois naquele ano a Prefeitura do Rio de Janeiro efetuou o pagamento de uma pequena subvenção às escolas participantes do desfile daquele ano.
Diferentes avenidas e pontos da região central da capital fluminense, como por exemplo, a Praça XI, Presidente Vargas, Presidente Antônio Carlos, Rio Branco, e até mesmo o estádio de São Januário abrigaram os desfiles das escolas de samba cariocas, sempre com estruturas que necessitavam ser montadas e desmontadas todos os anos.
Foi no ano de 1978 que as apresentações das escolas de samba mudaram-se para seu local definitivo, a Avenida Marquês de Sapucaí, ainda sem o Sambódromo, inaugurado em 1984.
No ano de 1983 a efetivação de um sonho antigo das escolas ficou aos cuidados do vice-governador da época Darcy Ribeiro e do arquiteto Oscar Niemeyer, sonho este que era um lugar definitivo e com estrutura permanente para o desfile das escolas de samba. A pista foi construída em pouco mais de quatro meses.
Finalmente no carnaval de 1984 foi inaugurado o atual sambódromo do Rio de Janeiro, pista definitiva de desfiles com arquibancadas de concreto, projeto do mestre em obras de concreto armado e suas curvas sinuosas.
Além da abertura da Passarela do Samba, outra novidade desse carnaval de 1984 foi a divisão dos desfiles em dois dias.
Nesse carnaval de 1984, dez agremiações fundaram a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a atual LIESA que a partir de 1985 passou a coordenar os desfiles .
Os desfiles de 1984 não foram transmitidos pela TV Globo, tendo sido a transmissão realizada pela novata TV Manchete, que ganhou de disparada em termos de audiência a TV Globo, pelo menos no grande Rio.
Para o primeiro desfile nesta nova casa do carnaval carioca, na época ficou estabelecido que naquele ano haveriam duas campeãs, uma do desfile do domingo e outro do desfile de segunda-feira e que as melhores colocadas dos dois dias com as primeiras colocadas do grupo de acesso daquele carnaval, disputariam um supercampeonato.
Nesse desfile de 1984 a Estácio de Sá realizou seu primeiro desfile com este nome, deixando de ser a Unidos de São Carlos.
No desfile de domingo a Portela sagrou-se campeã, assim como aconteceu com a Estação Primeira de Mangueira na segunda-feira.
Com samba de enredo da dupla Dedé da Portela e Norival Reis, a escola fez uma homenagem a três grandes figuras da história da escola, Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes, falecida no ano anterior.
Portela apresentou-se com o enredo “Contos de Areia” dos carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo e a Mangueira apresentou o tema “Yes, nós temos Braguinha” do carnavalesco Max Lopes.
O enredo da Estação Primeira de Mangueira, naquele carnaval inaugural do sambódromo carioca, homenageava o cantor e compositor João de Barro, tendo sido apresentado com três setores distintos que retratavam as fases da vida do artista: “A Bela Época”, “Festa Junina” e o “Carnaval”.
Apresentou a verde e rosa alegorias menores, mas bastante relacionadas ao enredo e muito bem realizadas, com fantasias de notória leveza e bom gosto.
Além dos carros alegóricos a verde e rosa utilizou dezenas de tripés, representando canções do homenageado.
O chão da escola foi perfeito, sucesso este advindo do samba de autoria de Jurandir, Hélio Turco, Arroz, Comprido e Jajá conduzido pelo inesquecível Jamelão e pela bateria que foi firme e com cadência perfeita.
Como que inebriados pelo samba entoado por Jamelão e parceiros, o público invadiu a pista quando os portões do início foram abertos e a escola já estava na Apoteose. Daí em diante foi como se um novo desfile tivesse iniciado … mas dessa vez no sentido contrário ao da pista de desfiles.
“Apoteose é a Mangueira, o Carnaval do povo”, dizia uma faixa levada por uma das alas da agremiação.
O desfile da volta surgiu de um fato curioso. A escola não tinha dinheiro pra pagar os empurradores e eles ameaçaram largar os carros no meio da rua. Então, surgiu a ideia de voltar por dentro porque aí voltaríamos para o barracão, que ficava na Praça Onze, perto da concentração. Só que o povo entendeu que era pra descer junto e veio todo atrás, relato este do carnavalesco Max Lopes, que com este desfile adquiriu o título de “Mago das Cores”.
Para a competição do supercampeonato, não houve o julgamento dos quesitos alegorias e adereços, fantasias e enredo.
A fórmula do supercampeonato jamais se repetiu nos anos seguintes.
Na apuração das notas de segunda-feira, a Mangueira dominou sempre, tendo tido apenas duas notas diferentes de dez, tendo ficado na frente da Mocidade Independente e da Beija-Flor.
Concorrendo ao supercampeonato desfilaram no sábado seguinte Acadêmicos de Santa Cruz e Unidos do Cabuçu, além de Caprichosos de Pilares, Beija-Flor de Nilópolis, Império Serrano, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela e Estação Primeira de Mangueira.
A tradicional verde e rosa, ainda empolgada com a catarse promovida pelo desfile de segunda-feira, adentrou a pista de desfile levando uma faixa dizendo: “Agradecemos ao povão que não desanimou durante 10 anos esperando a grande vitória. O carnaval é de vocês! Mangueira”.
No desfile do supercampeonato, mais uma vez sendo a última a desfilar, a Mangueira igualmente fez o retorno e saiu da pista de desfile nos braços do povo.
Apurados os resultados depois do desfile do supercampeonato, Mangueira obteve o primeiro lugar e o título de Supercampeã, seguida da Portela, Mocidade Independente, Império Serrano, Beija Flor, Caprichosos, Cabuçu e Santa Cruz.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior