RJ – 1993 – Peguei um Ita no Norte – Acadêmicos do Salgueiro quebra um jejum de 18 anos

 

Antes do carnaval de 1993, o Acadêmicos do Salgueiro havia sido campeão pela última vez em 1975, ainda sob a batuta do genial carnavalesco Joãosinho Trinta, com o enredo “O Segredo das Minas do Rei Salomão”.

De 1976 a 1992 a melhor colocação do Salgueiro foi um vice campeonato no carnaval carioca de 1991, quando a carnavalesca Rosa Magalhães apresentou o enredo “Me Masso se não Passo pela Rua do Ouvidor”.

Então, para o carnaval de 1993 a escola tijucana marchava para seu 18° ano sem título, sofrendo ainda com graves crises política e financeira. Messe carnaval 14 agremiações participaram do grupo especial das escolas de samba do Rio de Janeiro. O número máximo de alegorias seria de doze, em vez de quinze, e a quantidade mínima seria nove.

Depois de muitos anos, no carnaval de 1993 não se teria trabalho do carnavalesco Joãosinho Trinta na pista de desfile, já que havia sido substituído na Beija Flor de Nilópolis, depois do carnaval anterior, por Maria Augusta Rodrigues.

A campeã do carnaval de 1992, a Estácio de Sá, veio para esse carnaval com o enredo “A Dança da Lua”, tendo ao final ficado com a sexta colocação, passada a apuração.

O carnavalesco Mário Borrielo iniciou na Academia no carnaval de 1992, tendo conquistado uma quarta colocação, situação esta que lhe credenciou para permanecer na escola para o carnaval seguinte, quando apresentou um enredo que tinha a pretensão de mostrar na avenida a viagem de um imigrante, que, embarcado no navio Ita, deixou o porto de Belém, no Pará, passando por toda a costa do nordeste e sudeste do país, até chegar a Cidade Maravilhosa. Esse enredo recebeu o título de “Peguei um Ita no Norte”.

O samba para embalar esse desfile foi de autoria dos compositores Demá Chagas, Arizão, Bala, Guaracy e Celso Trindade, considerado pela crítica carnavalesca como um dos mais belos sambas de enredo que já passaram pela Sapucaí. Esse samba composto foi inspirado na canção “Peguei um Ita no Norte” (1945) de Dorival Caymmi, que narra a viagem costeira a bordo do vapor “Itapé”.

 

“…Explode coração, na maior felicidade

é lindo meu Salgueiro

contagiando e sacudindo esta cidade…”

(Acadêmicos do Salgueiro 1993)

 

Naquele carnaval, o desfile do domingo foi quase todo debaixo de chuva, o que muito prejudicou as agremiações daquela noite, com destaque para a Unidos de Vila Isabel e a Mocidade Independente de Padre Miguel.

O Salgueiro foi a terceira escola a entrar na pista da Sapucaí naquela segunda-feira de carnaval, sendo que a Estação Primeira de Mangueira encerraria os desfiles daquele segundo dia.

O que se viu com este desfile, é que o Salgueiro foi verdadeiramente consagrado pela assistência presente na Marquês de Sapucaí mesmo antes de iniciar sua apresentação. Já nos primeiros setores todos aplaudiam e cantavam o samba da agremiação, antes mesmo de ser dada a largada do desfile naquele 22 de fevereiro.

O desfile, em sua narrativa poética e visual iniciava pelo Círio de Nazaré, em Belém, passando pelo Nordeste, onde estavam simulados nas alegorias os azulejos de São Luis do Maranhão, as areias do Rio Grande do Norte, a cultura pernambucana (frevo e maracatu), a culinária baiana, até a chegada ao carnaval carioca.

A comissão de frente era composta por oficiais da marinha empunhando bandeiras nas cores da agremiação, executando uma coreografia simples e vistosa ao mesmo tempo.

As alegorias concebidas pelo carnavalesco e apresentadas pela escola eram bem acabadas e descreviam muito bem o enredo do ponto de vista estético e de interpretação. Em resumo, esteticamente, não havia nada muito impressionante nem tão luxuoso, mas tudo muito adequado ao enredo proposto pela escola e seu carnavalesco. Na avaliação de estudiosos do carnaval carioca, o conjunto de fantasias da escola era superior em qualidade às alegorias apresentadas, mas no conjunto houve uma integração perfeita.

A ala de baianas veio vestida integralmente de renda branca, num estilo bem tradicional. A bateria veio toda predominantemente em branco, com seus integrantes fantasiados de marinheiros e o mestre Louro, diretor da “Furiosa”, era seu comandante.

Mas como em todo espetáculo ao vivo, imprevistos vieram a ocorrer durante o desfile do Salgueiro, como a queda da porta-bandeira Taninha bem em frente a cabine dos jurados e problemas com evolução no final do desfile, já que eram muitos desfilantes para cumprirem o tempo máximo de desfile com tranqüilidade.

A agremiação chegou à Apoteose embalada pelos aplausos e gritos entusiasmados de “é campeã” de uma platéia enlouquecida presente à Sapucaí, tendo terminado sua apresentação três minutos antes de completar o tempo máximo, que na época era de 80 minutos.

Importantes personalidades assumidamente salgueirenses, como o cantor Jorge Bem Jor, a triatleta Fernanda Keller e o ator Eri Johnson, desfilaram por sua escola do coração, sendo muito aplaudidos pelos presentes.

Em muitos momentos do desfile a voz do intérprete Quinho foi abafada pelo canto forte da escola e da platéia da Sapucaí.

Com o Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, o Salgueiro foi premiado nas categorias de melhor escola, melhor bateria (comandada por Mestre Louro), ala de crianças e melhor enredo.

Passada a apuração das notas dadas pelos jurados, o Salgueiro foi aclamado como campeão do carnaval de 1993, 2,5 pontos a frente da segunda colocada Imperatriz Leopoldinense, tendo a Beija Flor de Nilópolis ficado com a terceira colocação.

No dia da apuração a jurada de mestre-sala e porta-bandeira que estava na cabine onde Taninha tropeçou e caiu, acabou não sendo sorteada para que tivesse suas notas válidas.

Como foram comprovadas tentativas de manipulação de resultados nesse carnaval de 1993, não houve rebaixamento de escolas para o carnaval seguinte, sendo por isso que as duas últimas colocadas, Caprichosos de Pilares e Unidos da Ponte, foram salvas, permanecendo no grupo especial para o carnaval seguinte. Subiram para o grupo especial, para desfile em 1994 Tradição e Império Serrano.

Passado esse sucesso salgueirense em 1993, a escola só voltou a vencer no carnaval de 2009 com “Tambor” do carnavalesco Renato Lage, que estreou na escola no carnaval de 2003.

 

Por Sidnei Louro Jorge Júnior

 

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