Há 26 anos falecia Nilton Delfino Marçal, mais conhecido como Mestre Marçal
Quantos grandes nomes do carnaval jazem na poeira do esquecimento da nova geração? É o que acontece, incrivelmente, com o Mestre Marçal.
Mestre Marçal cresceu com a presença quase onipresente do samba em sua casa. Filho do compositor Armando Vieira Marçal, o sambista gravou muitas composições do pai – em especial, as letras em parceria com Alcebíades Barcelos, o famoso Bide.
Nascido no subúrbio carioca de Ramos, aos 7 anos, vai tocar tamborim na Escola de Samba Recreio de Ramos, agremiação que dá origem à Imperatriz Leopoldinense. No mesmo período, além da cuíca do pai, toca outros instrumentos de ritmo, como surdo, agogô, pandeiro, ganzá e caixa. Com pouca formação escolar, cresce no meio musical, convivendo com compositores como Paulo da Portela, Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia e Carlos Cachaça.
Na década de 1940, inicia carreira como cantor, e apresenta-se em pequenas casas do Rio, como Palestrina, Líder e Fogão. Como instrumentista, participa do elenco de músicos de importantes gravadoras, como a Odeon, durante oito anos, e da Rádio Nacional, por mais de duas décadas.
Ganha o apelido de Mestre Marçal na década de 1960, quando exerce a função de mestre de bateria de escolas de samba. Inicia a carreira no Império Serrano. Nessa escola, desenvolve uma de suas maiores contribuições para a sonoridade dos desfiles carnavalescos: a introdução de tímpanos – instrumento até então relacionado à música erudita –, que ele mesmo toca na bateria da escola. Torna-se precursor de inúmeras inovações que outros mestres tentam acrescentar às suas baterias com extrema eficiência, pois conhecia todos os instrumentos de ritmo e sabia orientar e corrigir os músicos com precisão e propriedade.
Em 1970, comanda a bateria da Portela na memorável execução do samba-enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”, que conquista o carnaval daquele ano. A escola repete o feito nos anos de 1980 e 1984, último título levantado pela agremiação de Madureira, onde ficou por mais de 20 anos, saindo depois de desentendimentos com o presidente da escola. Apos isso, passou alguns meses na Viradouro.
Em 1975, Mestre Marçal conseguiu juntar alguns dos principais artistas do país para fazer o coro do seu primeiro álbum. O coro tinha Chico Buarque, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Djavan, Clara Nunes, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Miúcha, Cristina Buarque, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Conjunto Nosso Samba e João Nogueira. Era o coro milionário”, contou em entrevista para o programa “Ensaio”, da TV Cultura, em 1990.
Também atuou como comentarista dos desfiles de Escolas de Samba, pela Rede Manchete.
Fora do universo das escolas de samba, foi presença constante em estúdios de gravação. Participou de todos os discos de Beth Carvalho, tocou com Chico Buarque, Alcione e praticamente todos os grandes nomes da MPB. Gravou oito discos individuais, onde, além de percussionista e compositor, atuava também como cantor, emprestando à voz suas habilidades rítmicas por meio de inusitadas e criativas divisões.
Alguns de seus discos tinham a temática das Escolas de Samba, como A Fantástica Bateria de Mestre Marçal, e seu último trabalho, Sambas-Enredo de Todos os Tempos.
O sambista faleceu no dia 09 de Abril de 1994, aos 64 anos, no hospital Mário Kroeff, zona norte do Rio. Segundo parentes, Mestre Marçal sofria de câncer nos pulmões e problemas cardíacos. No hospital, ele sofreu uma parada cardíaca, mas os médicos o reanimaram. A equipe médica não conseguiu reverter o quadro após a segunda parada. O mestre está enterrado no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap (zona norte).
Como escreveu o jornalista Paulo Luna em 2015 para o recanto das letras “Seus discos deveriam estar sendo tocados constantemente em emissoras de Rádio e Televisão, e seu nome reverenciado a cada carnaval, assim como os nomes de tantos outros sambistas relegados ao esquecimento. Mestre Marçal é uma lenda a ser contada e recontada por todos até o dia em que sua obra brilhe e seja cultuada na intensidade que merece“.
Por Waldir Tavares