Neste mês de Junho de 2020 o destino do histórico Hotel Glória foi decretado. O edifício será transformado em um residencial. O fundo de investimento imobiliário Opportunity fechou um acordo para adquirir o imóvel do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, que recebeu o edifício num pacote de ativos do antigo Grupo EBX , de Eike Batista (ex dono), como pagamento de dívidas.
O Hotel Glória, aberto em 15 de agosto de 1922, com uma bênção realizada pelo arcebispo D. Sebastião Leme, foi o primeiro cinco estrelas do Brasil e também o primeiro prédio em concreto armado da América do Sul.
Ao que conta a História, esta casa onde hoje ficava o Hotel foi adquirida em 1857 pelo inglês John Frederick Russel, o primeiro empresário a propor um sistema de tratamento de esgotos eficiente para a cidade do Rio de Janeiro. Sua construção, motivada pelas festas do primeiro centenário da Independência do Brasil, foi uma iniciativa da firma Rocha Miranda & Filhos. A proximidade com o centro cultural, financeiro e político da cidade do Rio de Janeiro (que na época era capital do Brasil) fez com que o estabelecimento caísse nas graças dos grandes artistas do cinema, cantores, políticos e chefes de Estado.
Em estilo clássico, o Hotel Glória abrigava um cassino, um teatro, diversos salões de festas, além de 150 quartos. Seu arquiteto foi o francês Joseph Gire ( 1872 – 1933), responsável por outros importantes prédios cariocas como o do Hotel Copacabana Palace, do Edifício Joseph Gire, mais conhecido como A Noite, e do Palácio das Laranjeiras, em parceria com Armando Silva Telles, dentre outros. Gire, formado pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris, desembarcou no Rio de Janeiro a convite de Octávio Guinle (1886 – 1968), em sua época, um dos homens mais ricos do Brasil.
O Hotel ficou famoso pelos eventos que eram realizados lá. Entre eles, convenções, congressos e bailes de formaturas de grande porte. Uma de suas marcas foi o concurso de fantasias de carnaval, que teve 34 edições até o ano de 2008. Nesses eventos, Clóvis Bornay e Evandro de Castro Lima protagonizaram duelos históricos.
Em 2008 (oito anos após o fechamento), o Hotel, que pertencia à família Tapajós, foi vendido por R$ 80 milhões ao empresário Eike Batista, que anunciou uma grande reforma que o tornaria um seis estrelas, um marco na história da hotelaria do Rio.
Seria reaberto como Gloria Palace para a Copa do Mundo de 2014. Porém, com a crise no Grupo EBX, de Eike, a reforma foi paralisada, em 2013. Seis painéis pintados para o Hotel em 1960, pelo ceramista português João Martins, foram destruídos pelo grupo EBX, durante a reforma do prédio.
O abajur estilo D. João V não está mais lá, nem a vitrine exibe mais joias caras. Sinônimos dos tempos áureos do Hotel Glória, que chegou a receber 19 presidentes da República, objetos que compunham quartos e salões do maravilhoso ex cinco estrelas do Rio, estão apenas na memória de muitos. Um leilão realizado em 2015 colocou à venda cerca de 80 peças do gigante branco, símbolo de uma lista de empreendimentos fracassados do empresário Eike Batista. Parte do acervo do Glória somavam R$ 37.900 em lances iniciais.
Um sofá no estilo Império Francês forrado com tecido brocado foi ofertado por R$ 3.700. Foi vendido após lance único, de valor desconhecido. Entre as pechinchas, um tapete chinês, com furos e rasgos, a R$ 50. Recordista de lances, um par de luminárias em cristal com valor inicial de R$ 340.
No início de 2016, o hotel passou às mãos do fundo árabe de Abu Dhabi que agora vendeu para o fundo de investimento imobiliário do empresário Daniel Dantas, o Opportunity.
Assim se encerra uma era de glamour, grandes eventos e um importante marco no carnaval carioca. Os famosos concursos que consagrou além de Clóvis e Evandro, nomes como Paulo Robbert e Nelcimar Pires, últimos hors-concours nos concursos transmitidos em horário nobre para todo país, dentro deste templo sagrado.
Por Waldir Tavares