RJ – Em 1972 Salgueiro se vestiu de verde de rosa e leva até hoje a tristeza de “Tengo, Tengo”

Tengo-Tengo, Santo Antônio, Chalé,
Minha gente, É muito samba no pé!”

Em 1972 Acadêmicos do Salgueiro, que havia revolucionado os anos 60, sinalizava com outra novidade. A escola apresentaria o enredo “Mangueira: Minha madrinha querida”.

“Ô-ô-ô, ó meu Senhor,
Foi Mangueira, Estação Primeira que me batizou”

Nunca uma escola de samba havia homenageado uma co-irmã. Sempre pioneiro, o Salgueiro seria o primeiro a fazer tal homenagem a sua madrinha, e na época a ideia não foi tão bem aceita assim pela comunidade. Reza a lenda que os Salgueirenses inflamados pelas glorias de alguns anos antes, se revoltaram com o carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues.

Para bancar a ideia, os carnavalescos argumentarem, as diversas vezes em que a Mangueira ajudou o Salgueiro. Mas o clima entre as agremiações jé era desagradável.

A intenção do tema era reviver os gloriosos carnavais da verde e rosa, porém boatos também se formavam também entre os mangueirenses, como o que alegava que “seria um modo de Arlindo Rodrigues ensinar a Júlio Mattos, carnavalesco da escola, a como fazer um belo desfile com as cores verde e rosa” ou que “os integrantes da comissão de frente salgueirense seriam travestis”

Passado os problemas internos e o morro convencido, o Salgueiro escolheria novamente um samba de Zuzuca para repetir o sucesso de 1971.

Porém no desfile, como um castigo, a agremiação vermelha e branca protagonizou uma das maiores “atravessadas” de samba que a carnaval carioca já assistiu.

Com um conjunto visual de ótima qualidade, o Salgueiro, fez um bom começo de desfile. O setor  “O guri do Mundo de Zinco”, fazia referencia à infância no morro de Mangueira com sombrinhas, pipas, cata-ventos e piões.

Apesar da boa entrada, conforme as alas se distanciavam da bateria, a escola ia perdendo crescentemente sua cadência. O Salgueiro continuou passeando pelas tradições de sua madrinha ao aludir a locais renomados do morro de Mangueira, como Buraco Quente, Tengo-tengo, Chalé, Catedral e Santo Antônio, além de homenagear Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Jamelão, Clementina de Jesus, entre outros.

Infelizmente, o carro de som quebra na concentração e, embora uma Kombi com caixas de som tenha sido trazida por Osmar Valença, não foi o suficiente para conter a tragédia. Enquanto a escola enaltecia os carnavais gloriosos da verde-rosa, como Reminiscências do Rio AntigoCasa grande e senzalaExaltação a Villa-Lobos e O mundo encantado de Monteiro Lobato, a tensão tomava conta dos sambistas, pois toda a harmonia estava visivelmente arruinada e os dirigentes não encontravam um meio de manter o ritmo dos componentes.

No desespero, Pamplona decidiu que o Salgueiro deveria levar o samba apenas na voz dos componentes, o que acabaria sendo a pior decisão de sua profissão como carnavalesco.

O samba, por ter um refrão repetido em dois momentos, fez com que cada parte da escola reentrasse cantando trechos distintos da letra, resultando em uma gigantesca catástrofe. O público, que, de início, até tentou apoiar o Salgueiro, começou a vaiá-lo.

Reprodução

Com fim da apresentação, Pamplona e Arlindo tinham ciência que sua permanência na agremiação era uma questão de tempo. Na apuração, a escola terminou com a 5ª colocação, a pior da trajetória dos carnavalescos até então. Depois de uma dramática reunião com a diretoria, Pamplona e Arlindo, que no Salgueiro conquistaram quatro títulos e três vezes vices, abandonam o Salgueiro.

Curiosamente, em anos recentes, este é um dos sambas mais cantados nos esquentas da escola, como se fosse uma singela homenagem aqueles sambistas vaiados em 1972 e aos mestres Arlindo e Pamplona.

Por Waldir Tavares

 

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