Marcados para os dias 17 e 18 de Fevereiro, os desfiles da Série Ouro do Rio de Janeiro prometem grandes apresentações das escolas de samba que disputam uma vaga no Grupo Especial do carnaval carioca.
Sob a supervisão da Liga-RJ, agremiações tradionais fazem parte deste grupo. Das 15 escolas de samba que vão desfilar na Marques de Sapucaí na sexta e no sábado, 13 já estiveram no Grupo de elite, incluindo a a Estácio de Sá que foi campeã do principal grupo do carnaval do Rio, em 1992.
Veja os enredos que vão passar pela Série Ouro em 2023
Arranco do Engenho de Dentro
Após varios anos nos grupos de acesso, desfilando na estrada Intendente Magalhães, o Arranco do Engenho de Dentro está de volta ao Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A azul e branca, que tem a missão de abrir os desfiles da Série Ouro em 2023, vai falar da história do Carnaval através da figura de Zé Espinguela, líder religioso, compositor, arengueiro, jornalista, que juntou três agremiações e amigos sambistas para realizar aquele que é considerado o primeiro campeonato de samba. Na primeira disputa, a Deixa Falar (que se transformaria em Estácio), o Conjunto de Oswaldo Cruz (futura Portela) e a própria Mangueira. O evento aconteceu no terreiro de Espinguela, na atual rua Adolfo Bergamini, onde está localizada a quadra do Arranco.
O desfile será assinado por Antônio Gonzaga, artista que participou da criação de identidades visuais para várias escolas de samba, entre elas o Acadêmicos do Grande Rio.
Lins Imperial
Diferentemente de 1990, a Lins Imperial levará para a Avenida, uma nova abordagem e em forma de manifesto, a história de João Francisco dos Santos, o Madame Satã, nordestino, preto e homossexual, o “bicha malandro” que, durante a primeira metade do século XX, fez da Lapa o seu mundo. Hoje, suas histórias ainda habitam os becos e as vielas do bairro, sendo símbolo de (r)existência. A escolha também vai ao encontro da agremiação falar sobre personalidades pretas e celebrar a sua comunidade. O enredo faz parte da agenda dos 60 anos da escola, que será comemorado em março do próximo ano. Eduardo Gonçalves e Ray Menezes são os carnavalescos responsáveis pela releitura.
Acadêmicos de Vigário Geral
O Acadêmicos de Vigário Geral vai levar para Marquês de Sapucaí o enredo “A Fantástica Fábrica da Alegria”, desenvolvido pelos trio de carnavalescos Alexandre Costa, Lino Sales, Marcus do Val e pesquisa feita por Marcus Vinícius Sant’anna.
“A escola apresentará uma temática diferente do que nos últimos carnavais. A tricolor da Zona Norte vai narrar a vida do menino Samir, cria da comunidade de Vigário Geral, que sempre sonhou em encontrar o bilhete premiado e realizar todas as suas fantasias. Depois de dois carnavais com críticas sócias, em 2023 resolvemos trazer um enredo mais leve e inocente. Nesse enredo pretendemos conduzir à todos uma viagem a momentos que pelo menos uma vez trouxe aquele sorriso de canto de boca ou até mesmo uma risada. Vamos valorizar a alegria pelo simples prazer de ser feliz, despreocupado como uma criança” – explica o carnavalesco Marcus do Val.
Estácio de Sá
O velho e tradicional Estácio fará uma homenagem ao estado do Maranhão através do enredo “São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração!“, uma fábula criada pelo carnavalesco Mauro Leite.
“Criamos uma homenagem a São Luís , no entanto, o enredo é autoral. Nossa ideia é mesclar o pagão e o religioso através do encontro entre São João e São Luiz, que se encontram no céu e decidem vir à Terra na companhia de outros santos, com a missão de abençoar o festejo junino do Maranhão”, explica o artista.
A ultima vez que o Estácio de Sá venceu a segunda divisão e conseguiu a vaga para o Grupo Especial foi no ano de 2019, quando desfilou com o enredo “A fé que emerge das águas“, de Tarcisio Zanon.
Unidos de Padre Miguel
A Unidos de Padre Miguel leva para a Marquês de Sapucaí, em 2023, o enredo “Baião de Mouros”. Um retrato da influência/ interferência Árabe, Mouras e Muçulmana no Nordeste brasileiro. O carnavalesco Edson Pereira desta vez conta com a parceria de Wagner Gonçalves no desenvolvimento artístico do tema.
Sempre favorita ao titulo da Série Ouro, o Boi vermelho da Zona Oeste manteve quase todo seu elenco do ultimo carnaval. A novidade fica por conta da chegada de Bruno Ribas para comandar o carro de som.
Acadêmicos de Niterói
Estreando no carnaval do Rio de Janeiro, após ganhar a vaga pós desistência do Acadêmicos do Sossego, o Acadêmicos de Niterói contratou o carnavalesco André Rodrigues para desenvolver seu enredo para o carnaval de 2023.
Na esteira da comemoração dos 450 anos da Cidade de Niterói, o Acadêmicos de Niterói vai levar o enredo “O Carnaval da Vitória”, que vai relembar o ano de 1946, retorno dos festejos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Um momento de revolução e de estabelecimento de paradigmas para o carnaval niteroiense.
Hugo Junior, Presidente da escola estreante, contratou toda base de profissionais que estavam no Acadêmicos do Sossego para disputar o carnaval do próximo ano.
São Clemente
O carnavalesco Jorge Silveira retona a escola e trabalha no enredo intitulado “O achamento do velho mundo“.
Em 2023 a São Clemente vai fazer uma viagem no tempo, propondo uma reflexão bem humorada da época das grandes navegações e descobrimento de novos mundos. A proposta da escola é reverter a história. E se fosse ao contrário? Desta quem atravessa o oceano para explorar são os indígenas, que nesta história não colonizam ninguém. Os nativos do carnaval da Clementianos são ultra descolados evoluidos e só querem fazer carnaval.
Com bastante irreverência, marca registrada da escola, a escola do bairro de Botafogo encerra o primeiro dia de desfiles da Série Ouro.
União de Jacarepaguá
Sem desfilar na Série A, atual Série Ouro, desde 2014, a União de Jacarepaguá retorna aos desfiles na Marquês de Sapucaí em 2023. A verde e branca vai abrir os cortejos na segunda noite.
E para iniciar o sábado com garra, a escola optou por um enredo histórico e forte, “Manoel Congo, Mariana Crioula – Heróis da Liberdade no Vale do Café“. Os carnavalescos Lucas Lopes e Rodrigo Meiners trabalham na história de Manuel Congo e Mariana Crioula, líderes revolucionários no comando da rebelião de escravizados em Paty do Alferes no Vale do Paraíba. A revolta, ocorrida em 1838, considerada uma das maiores fugas de escravos da região fluminense.
Unidos da Ponte
A tradicional escola de samba baseada em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, vai contar a saga contra o racismo religioso de uma das mais importantes Iyalorixás do Brasil, Mãe Meninazinha de Oxum. A narrativa celebra também a ligação da mãe de santo com a cidade de sede da agremiação.
O enredo desenvolvido pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, com a participação do pesquisador Tiago Freitas, contará a luta de Mãe Meninazinha que durou três décadas para libertar a coleção de objetos sagrados, apreendidos em batidas policiais, ocorridas durante o período do final do império até a Era Vargas, que foram parar em poder do Museu da Polícia Civil e depois transferidos para o Museu da República.
A agremiação promete emocionar com uma das mais belas e importantes mensagens a passar no carnaval da Série Ouro.
Unidos de Bangu
Sob o título “Aganjú… A visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”, de autoria do carnavalesco Robson Goulart, a mais antiga escola da Zona Oeste vai contar a história de uma qualidade de Xangô, o orixá da justiça, entrando nos ritos e festejos que são pouco conhecidos pelo grande público
– A escolha de falar de uma qualidade do orixá já se torna um diferencial na leitura, pois Aganju, por ser um Xangô menino, apresenta fatos e lendas relacionadas que pouco foram mostradas. Na nossa construção narrativa, vamos focar muito nos costumes e danças, deixando de lado o tradicional. Focaremos nos festejos relacionados a Aganju, passando pelo sincretismo, que é relacionado às festas de São João e São Pedro – explica o carnavalesco Robson.
Em Cima da Hora
Para o Carnaval de 2023, a agremiação do bairro de Cavalcanti contará a história de Esperança Garcia, mulher negra escravizada que, no século XVIII, no Piauí colonizado, ergueu-se como voz da resistência e lutou contra os terrores da escravização. A dulpa de carnavalescos Marco Antônio Falleiros e Carlos Eduardo desenvolvem o enredo.
Esperança, combatendo a estrutura opressora da época, aprendeu a ler e a escrever, e usou o saber como arma de enfrentamento: redigiu uma carta denunciando os horrores do Piauí escravocrata e as violências que sofria, documento hoje considerado uma das primeiras cartas de Direito.
Em 2017, foi reconhecida como a primeira advogada piauiense e sua carta é considerada uma das primeiras obras da Literatura Negra brasileira.
Unidos do Porto da Pedra
Atual vice campeã da Série Ouro, Unidos do Porto da Pedra vai tentar o titulo da segunda divisão do carnaval caioca com o enredo “Invenção da Amazônia”, tema baseado no livro A jangada: 800 léguas pelo Amazonas: 1295, de Júlio Verne.
Sem jamais ter estado no Brasil, Júlio Verne (1828-1905), o pai da ficção científica e de fantasia, escreveu um romance que se passa no majestoso e fascinante rio Amazonas.
Publicado em 1881 em formato de folhetim e livro, A jangada é um primoroso romance de aventura e mistério do grande autor francês e uma fina exploração literária da riqueza natural do Amazonas e da maior bacia hidrográfica do planeta.
O enredo é desenvolvido plasticamente pelo Carnavalesco Mauro Quintaes, que está de volta a escola de samba, após trabalhar na agremiação entre 1995 e 1998. Na época, ele conquistou o histórico quinto lugar no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, em 1997.
União da Ilha do Governador
Em busca do titulo da Série Ouro e seu retorno ao Grupo Especial, a União da Ilha do Governador será a sexta escola no Sábado, 18 de Fevereiro. Em 2023, a tricolor insulana vai prestar uma justíssima homenagem a Portela, sua madrinha, que no ano que vem completa 100 anos de fundação.
“O Encontro das Águias no Templo de Momo”, de autoria do carnavalesco Cahe Rodrigues, promete emocionar a Sapucaí.
Império da Tijuca
Cores do Axé é o enredo da escola do Morro da Formiga para o próximo ano e será desenvolvido pelos carnavalescos Júnior Pernambucano e Ricardo Hessez. A proposta dos artistas passa por todas as formas do Axé, sob o olhar do pintor argentino Hector Julio Páride Bernabó, mais conhecido Carybé, que soube reconhecer e se inspirar em um elemento tão potente e transformar sua arte. O enredo se baseia no universo religioso afro-brasileiro a partir da obra do artista.
Inocentes de Belford Roxo
Mulheres de barro” é o enredo da Inocentes para 2023. A Tricolor encerra os desfiles da Série Ouro contando a história das Paneleiras de barro de Goiabeiras Velha, no Espírito Santo. A proposta da escola é narrar a tradição vinda das mãos habilidosas de mulheres deste bairro antigo na parte continental norte de Vitória.
As técnicas utilizadas na confecção de panelas de barro vindas dos povos Tupi-Guarani e Una foram passadas de geração a geração entre as tribos e inspiraram as artesãs capixabas. O saber das paneleiras hoje é reconhecido como patrimônio cultural imaterial.
O enredo é desenvolvido pelo Carnavalesco Lucas Milato.
Lançamento do CD das Escolas Samba da Série Ouro 2023
A Liga RJ promove para dia 10 de Dezembro, a partir das 17h, na Cidade do Samba, a festa de lançamento dos sambas da Série Ouro. Na ocasião, as 15 agremiações vão fazer apresentações em forma de mini desfiles com todo elenco e segmentos.