RJ – Henrique Filho, o Mago das Fantasias

Todo carnaval a apresentadora Sabrina Sato surpreende através dos figurinos usados nos desfiles das duas passarelas mais famosas do samba: O sambódromo do Anhembi e a Marquês de Sapucaí. O responsável pela beleza, detalhes surprendentes e acabamento das roupas é o badalado estilista paranaense, radicado no Rio de Janeiro, Henrique Filho.

Sabrina Sato – Reprodução

Dono de um badalado atelier, instalado em imóvel do século XIX, situado no bairro da Glória, zona sul do Rio, o sucesso para o estilista não veio por acaso. No inicio dos anos oitenta, o autodidata Henrique começou a trabalhar com artesanatos e bijuterias, ainda na sua cidade natal, Bela Vista do Paraíso, até começar na criação de roupas para amigos próximos. Logo depois, desembarcou no Rio de Janeiro, onde se tornou designer de moda para o mercado de luxo. Daí surgiu a oportunidade de desenhar roupas para Xuxa Meneghel. No auge da carreira, a Rainha dos Baixinhos usou várias roupas criadas pelo estilista em seu programa matinal na Rede Globo. Muitas destas criações, 500 peças, usadas no Brasil e em apresentações no exterior, ainda fazem parte do acervo da apresentadora.

Recentemente uma de suas criações, deste período, voltou aos holofotes. A cantora Anitta resolveu homenagar a apresentora no ultimo Grammy Latino, quando vestiu uma réplica do vestido usado por Xuxa no últimoXou da Xuxa“, em 1992. Trinta anos depois, a nova versão da peça também teve a assinatura de Henrique Filho.

Henrique entrou no carnaval por acaso, ao perceber que poderia melhorar sua renda e explorar mais sua criatividade. No inicio atuou na confecção de figurinos para destaques, até surgir a oportunidade de fazer sua primeira Rainha de Bateria, onde deixou uma marca no carnaval. No final dos anos noventa, o Stylist criou todos os figuinos da modelo Luma de Oliveira, lançando a moda da saia vazada de strass, copiada por outros até hoje. Antes da novidade, as Rainhas de bateria desfilavam somente de biquíni e sutiã ou maiô.

Na onda de Rainhas que se renderam ao talento do designer, depois vieram Luiza Brunet, Adriane Galisteu, Valéria Valença, a primeira dama da Beija Flor, Fabíola David, Aline Riscado, Geovana Angélica, Paola Oliveira, Claudia Raia, Cris Vianna, Raissa Machado, Juliana Paes, Gracyanne Barbosa Iza, Erika Januza e Lexa.

Fora do mundo das Rainhas de bateria, Henrique Filho também colocou sua marca nas inesquecíveis comissões de Frente da Beija Flor de Nilópolis. A parceria durou quase 10 anos consecutivos. Destaques para a transformação da Deusa Africana, em pantera, no carnaval de 2001 (A Saga de Agotime, Maria Mineira Naê) e a fauna brasileira que dançou cercada de beija-flores em 2002 (O Brasil Dá o Ar de Sua Graça: de Ícaro a Rubem Berta, o Ímpeto de Voar).

O trabalho com os figurinos da apresentora Sabrina Sato é um capítulo a parte na carreira de Henrique Filho. São onze anos confeccionando as fantasias para o reinado da Japa na Unidos de Vila Isabel e na paulistana Gaviões da Fiel. Em 2011, Sabrina encantou a Sapucaí, no Rio, vestida ao estilo Medieval, em figurino todo de metal banhado a ouro, com aplicações de pedrarias de aguas marinhas e cristais, e uma longa crina de cavalo original no costeiro. A aparição definiu a apresentadora como uma das Rainhas mais esperadas na avenida até hoje. Para o próximo ano, os dois já estão trabalhando para surpreender novamente.

“Já estou com o figurino da Sabrina de São Paulo pronto. O do Rio já está em andamento”

Batante requisitado, Henrique Filho trabalha anualmente com certo de numero de fantasias, e não abre excessões. Supertição é o motivo para limitar o número de clientes aceitas no periodo pré carnavalesco.

Erika Januzza – Foto Reprodução

Não trabalho mais como antes pela minha saúde mental e física. Hoje em dia faço sete roupas apenas, é meu número cabalistico! Assim evito problemas. No último carnaval deixei de fazer várias, pois deixaram para me procurar com poucas semanas do carnaval. Pode o ser o preço que for, não faço porque não quero me estressar e também não sai bem feito”.

Cantora Lexa já é cliente assídua do estilista – Reprodução

Para o carnaval de 2023, o estilista mantém seu número mágico de clientes. Além de Sabrina Sato, Henque Filho assumiu compromisso com a familia da cantora Lexa, Rainha de Bateria de Unidos da Tijuca. Além de novamente fazer a roupa da Rainha Tijucana, o profissional já trabalha nas fantasias da mãe da cantora, Darlin Ferratry, Rainha da bateria do Império Serrano, e de sua irmã mais nova, Wenny Isa, que ocupa os cargos de Rainha na Unidos de Bangu e princesa no Império Serrano. A ultima vaga, ainda é segredo porque o profissional está em fase de orçamento.

Lexa, Darlyn e Wenny – Trio de Rainhas vestidas por Henrique Filho – Reprodução

Fechei sete fantasias e não vou fazer mais, pois quero fazer um trabalho legal. Além de ser trabalhoso, estamos vivendo uma crise de material. Não se encontra mais no mercado uma pérola bonita, as penas naturais são caríssimas. Estou partindo para o artificial, porque tenho um profissionais de Minas que faz este trabalho de forma fantástica. Ele fez as penas da sabrina em seda, fez da Lexa no ano passado e vai fazer para esse ano

Fora do carnaval, Henrique Filho também brilha, suas obras já foram expostas no Hotel Copacabana Palace e na época renderam elogios de especialistas do universo da moda. Outro marco foi o vestido usado por Luana Piovani no lançamento da revista Playboy, que em 2016 tinha a atriz como capa. Criou vários looks usados por para celebridades no disputado Baile da Vogue. Também trabalhou nos figurinos do programa “Amor e Sexo“, comandado por Fernanda Lima, na Globo. Vestiu as cantoras Ivete Sangallo, Cláudia Leite e as norte americanas Ciara e Beyonce, esta última usou seus acessórios em visita ao nordeste brasileiro.

No último Miss Brasil Gay, o trabalho de Henrique Filho se destacou. É dele o traje, inspirado na heroína Anita Garibaldi, usado por Marina Melo, candidata do Rio Grande do Sul. A roupa rebeceu o premio de melhor figurino da noite (Vídeo Abaixo).

Sobre problemas no processo de criação de tantas peças com a mesma primazia, os anos de experiência fizeram o profissional entender como contornar cada situação.

“Todo atelier tem problemas, pois trabalhamos com a vaidade e já dá para imaginar o que é. Já aconteceu de uma cliente que não ia fazer roupa comigo, em cima da hora me pediu para que fizesse. Sem tempo, acabei aceitando. Só que ela não me informou que iria viajar no meio do mês de Janeiro e retornar de viagem fora de forma para as medidas da roupa. Tive quatro semanas para executar o serviço. Toda vez que ela vinha fazer prova da roupa, eu avisava que a dela seria a última a ficar pronta. No final a mulher arrumou uma confusão, dizendo que queria a roupa pronta no dia e horário que ela queria, um transtorno. Tivemos que fazer a roupa correndo e no final ela arrasou na avenida, porém nunca mais peguei trabalho desta forma”

Para cumprir com a demanda, o atelier de Henrique Filho conta com 20 profissionais, com escalas de trabalho de segunda a sexta. Próximo ao carnaval, o trabalho se estende aos sábados, com hora extra nos domingos. Todo o comando do processo fica por conta do estilista, que após a folia carnavalesca tem pouco tempo para descansar, até que toda a maratona pré carnaval retorne.

Com Juliana Paes – Reprodução

“Tudo passa por mim, os designers, os desenhos, o risco quem faz sou eu, toda a arte plumária eu que faço.”

Depois do carnaval quero descansar. Eu tiro um mês para descansar e começar a trabalhar com noivas, casamentos, festa junina. Sempre aparece um trabalho. Durante o carnaval eu escuto música clássica, todos os tipos de música, menos música  de carnaval por que me dá uma agonia. Por que se eu ouvir os sambas enredos durante o processo das confecções me dá a impressão que no dia seguinte já será o carnaval

Colaboração Waldir Tavares

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