RJ – Mulheres vencem machismo em disputa de samba-enredo da escolas do Grupo Especial

Elas têm que ser boas de samba. Mas só isso não basta. Precisam também vencer o preconceito, num mundo predominantemente masculino, para que suas vozes sejam ouvidas. Este ano, por exemplo, só duas mulheres conseguiram emplacar um samba-enredo nos desfiles do Grupo Especial — as outras 11 composições que vão brilhar na Avenida são de homens.

— É um ambiente marcadamente masculino. As mulheres nas escolas de samba participam, historicamente, de outros segmentos. E não é que não queiram, mas porque há predomínio masculino mesmo. Não faltam, por exemplo, sambas que exaltam belezas femininas com algumas demarcações de inferioridade que chegam a ser ridículas. Eu jamais faria um samba assim. É sempre desconfortável. Não faltam mulheres para compor, mas a gente tem que mostrar o tempo inteiro que está fazendo samba — lamentou Manuela Trindade Oiticica, a Manu da Cuíca para o jornal O Globo.

Manu da Cuíca, bicampeã na Mangueira

Ela foi uma das poucas, que, nos últimos tempos, conseguiu romper barreiras. E em grande estilo. Este ano, é de Manu o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira, que só tem duas mulheres desfilando na ala dos compositores, com 40 integrantes.

No ano passado, ela também foi uma das autoras do samba campeão da verde e rosa, mas não assinou a obra.

No próximo carnaval, a Mocidade Independente de Padre Miguel vai levar pela primeira vez um samba escrito por uma autora para a Avenida. A façanha é da compositora Sandra de Sá, que faz uma homenagem a Elza Soares — que, por sua vez, foi a primeira mulher a cantar um samba-enredo na Avenida, em 1969, no Salgueiro.

Na tradicional Portela, por exemplo, só um samba foi feito por uma mulher nos 96 anos da escola. O mérito foi de Cila da Portela, que, em 1990, compôs “É de Ouro e Prata esse Chão”.

Apesar de ainda ser muito tímida, a participação feminina na composição de sambas-enredo é antiga. Até onde os registros históricos permitem alcançar, o pioneirismo coube a Carmelita Brasil, compositora da Unidos da Ponte, escola de São João de Meriti que atualmente desfila na Série A. Entre 1959 e 1964, Dona Carmelita foi responsável pelos enredos e também pela composição dos sambas da escola. Ela também entrou para a história como a primeira mulher a dirigir uma escola: foi presidente da agremiação, de 1959 a 1979.

Dona Ivone

Papel importante também teve Dona Ivone Lara, a primeira mulher a vencer um samba em uma grande escola. Em 1965, ela assinou em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau os “Cinco bailes tradicionais na história do Rio”, quando a escola da Serrinha foi vice-campeã.

Por Waldir Tavares / Fonte O Globo

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