RJ – O Silêncio do Poeta: Compositor André Diniz dedica o desfile de 2022 ao pai

A crônica carnavalesca, focada em registros históricos, créditos e memórias, certamente apontaria que o samba mais importante da carreira de André Diniz seria o primeiro que ele assinou pela Vila Isabel, em 1994. Vencedor de Estandarte de Ouro, tema de um belo desfile da sua escola e um dos mais importantes da carreira do já falecido carnavalesco Oswaldo Jardim. Mas não. Afirmamos que o mais importante samba do compositor é o de 1985: “Parece que foi ontem”. E foi.

Parece que foi ontem que o menino foi levado pelo pai, na cacunda, e desfilou pela primeira vez na escola que adotaria como sua. Parece que foi ontem que foi criança e nesse olhar, poema que afaga, o arauto soprou uma cidade – ou um bairro – doce. A partir desse olhar, nasceram o Bonde, o Boulevard e a Confiança “que é doce recordar”.

Diniz dizia que seu pai vibrava e chorava em todas as vitórias da Vila Isabel e era apaixonado pelo samba que escrevera junto aos seus parceiros pata homenagear Martinho da Vila. O velho Diniz estava com 82 anos e negava-se a desfilar na Velha Guarda por estar jovem. Queria vir solto na pista, justo no ano em que seu filho é um dos autores do samba que homenageia o baluarte de sua agremiação. E não apenas isto. Será o ano em que o seu Flamengo tornará a ser enredo da Estácio de Sá. Ao falar do pai, o homem das palavras silenciou, mesmo que rapidamente. Na entrevista concedida ao autor do texto, André Diniz disse querer homenagear o Velho, naquele que seria o seu primeiro ano sem ele na Avenida. Sobre a ausência dele, com alguma ousadia, discordo. O homem estará lá. Pleno, solto e ocupando toda a pista. Etéreo, porém. Saudade não se mede em 700m de rua. Saudade é verso de samba que não foi escrito. É refrão que não precisa ser repetido para ser eterno.

 Torcedor apaixonado pela Vila Isabel, Roberto Magalhães Diniz, pai do compositor André Diniz, faleceu em Janeiro deste ano.

A Vila torna a pedir: “Desperta seu China, acorda Noel. Venha, Roberto, ver a sua escola desse branco azul do céu, pois o Zé Ferreira vem saudando a multidão“. A Vila e teu filho, que, contigo, de braço rodou, hoje te vê do azul do horizonte. Hoje é seu filho que traz na cacunda a nova Vila, que é de Isabel. Que num futuro dirá, com a mesma voz embargada, com o mesmo olhar e o mesmo poema que o arauto soprou uma cidade – ou um bairro – e dirá: “Parece até que foi ontem”.

Por Vitor Antunes

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp