Vinte vezes campeã do carnaval do Rio de Janeiro, desfilando no grupo especial das escolas de samba, a Estação Primeira de Mangueira, fechou o carnaval de 1983 com uma quinta colocação com a apresentação do enredo “Verde que te quero rosa… semente viva do samba”, na estreia do carnavalesco Max Lopes na escola.
Naquela época o última campeonato alcançado pela escola tinha sido com o desfile do carnaval de 1973, com o inesquecível “Lendas do Abaeté” do carnavalesco Júlio Mattos.
A inauguração da nova Marquês de Sapucaí para os desfiles do carnaval carioca de 1984, parece que deu à Mangueira um fôlego extra para marcar aquele primeiro desfile da escola na nova pistas de desfile construída em tempo recorde durante o ano de 1983, segundo projeto do renomado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.
Diferente de tudo que já tinha acontecido até ali, para o carnaval de inauguração da nova Marquês de Sapucaí, o regulamento do concurso, ate então vigente foi alterado para que se fizesse um supercampeonato, onde haveria competição nos dois primeiros dias de desfile entre as escolas desfilantes em cada um dos dias, sendo que as três primeiras colocadas de cada dia partiriam para um supercampeonato no sábado seguinte.
Para o carnaval de 1984, de forma inédita, as escolas de samba do grupo principal do Rio de Janeiro foram separadas em dois dias de desfiles, com sete agremiações desfilando em cada um desses dias. Essa divisão em dois dias de desfile era uma reivindicação antiga dos dirigentes das agremiações cariocas, uma vez que até ali os desfiles, com muitas agremiações num mesmo dia de desfile, eram muito longos e cansativos.
Em seu segundo ano na posição de carnavalesco da verde e rosa, Max Lopes propôs o enredo “Yes, Nós temos Braguinha”, desfile este que trouxe para Max seu primeiro título como profissional do carnaval.
À tradicional verde e rosa coube encerrar os desfiles da segunda-feira, com o ineditismo de que ao chegar a Praça da Apoteose, espaço até então inexistente e que as agremiações tiveram dificuldades de preencher seus espaços, a Mangueira surpreendeu à todos dando uma meia-volta e retornando pela pista em direção à avenida Presidente Vargas, desfile este com componentes e alegorias da agremiação.
Segundo corre a boca pequena na época esse retorno ocorreu porque a Mangueira não tinha dinheiro para pagar pelo serviço dos empurradores de alegorias, daí a direção da escola optou pelo caminho mais curto de volta para o barracão, próximo ao início da passarela do samba do Rio.
Na apuração, a Mangueira ficou em primeiro lugar no desfile de segunda-feira, somando 208 pontos, contra 201 da Mocidade Independente de Padre Miguel. Na classificação geral do supercampeonato, ficou cinco pontos à frente da Portela, vencedora do desfile de domingo, e assim se sagrou supercampeã. Foi a primeira e única vez que o regulamento previu uma escola campeã para cada dia de desfile carioca.
Mesmo obtendo o supercampeonato com a Mangueira, Max Lopes deixou o cargo de carnavalesco da verde e rosa para o carnaval de 1985, tendo sido substituído por Elói Machado que desenvolveu o enredo “Abram alas que eu quero passar – Chiquinha Gonzaga”.
O desfile não alcançou o sucesso do carnaval anterior, tendo a Mangueira sido a sétima escola a entrar na pista de desfile no domingo de carnaval.
O samba para embalar esse desfile em homenagem a Chiquinha Gonzaga tinha um refrão forte e até hoje é muito cantado na quadra da escola – “Roda baiana levanta a poeira chão, roda baiana nas cores do meu coração” – samba que foi de autoria dos renomados compositores Jurandir, Hélio Turco e Darcy da Mangueira.
Para surpresa dos mangueirenses nesse ano Jamelão, intérprete oficial da escola, não chegou ao Rio de Janeiro a tempo para o desfile da verde e rosa, já que estava em turnê internacional nos Estados Unidos e o voo que o traria de volta ao Brasil foi cancelado na última hora, fazendo com que o samba fosse então cantado por Jurandir da Mangueira. Feita a apuração coube à Mangueira apenas o nono lugar, deixando a escola fora do desfile das campeãs cariocas. Os carnavais de 1986 e 1987 trouxeram de novo a verde e rosa ao topo do pódio do carnaval da Cidade Maravilhosa, tendo a agremiação alcançado um bicampeonato sob a batuta do carnavalesco Júlio Mattos com enredos que homenagearam dois grandes nomes, um cantor e compositor e o outro poeta e escritor. Para 1986 a Mangueira apresentou o enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, conquista que trouxe para a escola sua décima quinta estrela.
Já na comissão de frente da escola, baianas tradicionais da lavagem da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, pediam passagem para um desfile marcante pela empolgação e o belo samba da escola de autoria dos compositores Ivo Meirelles, Lula e Paulinho. A Bahia, presença marcante na vida artística do homenageado, esteve representada em todo o desfile da verde e rosa, com destaque para sua culinária e religiosidade. A Mangueira passou com 3700 componentes e cinquenta e sete alas. Concluída a apuração dos resultados desde ano, a Mangueira deixou para trás a Beija Flor de Nilópolis, o Império Serrano e a Portela. Já para o carnaval mangueirense de 1987, o carnavalesco Júlio Mattos trouxe para a Sapucaí o enredo “No reino das palavras, Carlos Drummond de Andrade”, outro tema biográfico desta vez exaltando a vida e obra de nosso poeta maior. O desfile aconteceu sob um sol escaldante já na manhã da segunda de carnaval, com as fantasias dos componentes com predominância das cores da agremiação.
Mangueirenses ilustres fizeram-se presentes nesse desfile já desde a comissão de frente da escola no qual veio o cantor e compositor Chico Buarque, que anos depois seria enredo da escola, além de Alcione, Beth Carvalho, Rosemery e outros. Tendo alcançado mais uma estrela para colocar em seu pavilhão com este desfile, a verde e rosa deixou para trás a Mocidade Independente de Padre Miguel, o Império Serrano e a Portela. Para o desfile de 1988, o objetivo da escola foi analisar os cem anos da abolição da escravatura no Brasil, com o enredo “Cem anos de liberdade, realidade ou ilusão?” de Júlio Mattos.
No abre alas da escola, veio Dona Zica, viúva de Cartola. A comissão de frente era formada por personalidades negras do campo das artes, cultura, literatura, teatro, esporte.
Um dos pontos altos desse desfile da verde e rosa foi o belo samba que trouxe a narrativa com a história do negro e de sua luta pela liberdade, conquistada no dia 13 de maio de 1988, com a assinatura pela Princesa Isabel da Lei Áurea, após intensa luta pela liberdade. esse samba era de autoria dos compositores Jurandir, Hélio Turco e Alvinho, trio de compositores que compôs belos sambas para a escola.
Ao final a Mangueira ficou com o vice-campeonato em 1988, atrás apenas da Unidos de Vila Isabel que venceu com o inesquecível enredo “Kizomba, a festa da raça”. Nesse ano em função de temporais que colocaram o Rio de Janeiro em alerta, não aconteceu o desfile das campeãs.
“Trinca de Reis” foi o enredo escolhido por Júlio Mattos para seu último ano como carnavalesco da verde e rosa e com este enredo a escola quis homenagear três figuras das noites cariocas como Chico Recarey, Walter Pinto e Carlos Machado
O certo é que grandes desfiles passaram pela Sapucaí em 1989, sagrando-se como grande campeã a Imperatriz Leopoldinense, seguida da Beija Flor de Nilópolis e seu inesquecível “Ratos e Urubus, larguem minha fantasia” do gênio Joãozinho Trinta. A Mangueira ficou apenas com a décima primeira colocação, resultado muito ruim, colocação nunca antes alcançada pela escola desde seu primeiro desfile no grupo principal das agremiações cariocas.
Para o carnaval de 1990, assumiram como carnavalescos da verde e rosa Fábio Borges e Ernesto Nascimento e executaram para o desfile da escola o enredo “E deu a louca no barroco”, com um samba mais uma vez de autoria do trio de compositores Alvinho, Hélio Turco e Jurandir, que compuseram belíssimos sambas enredo para a Mangueira.
Nesse enredo Sinhá Olímpia foi o fio condutor para mostrar o enredo com ambientação na cidade de Ouro Preto, grande centro de desenvolvimento do estilo artístico do barroco do grande Aleijadinho.
Esse é dos grandes desfiles trazidos pela verde e rosa para a Sapucaí, tanto que chegou-se a ouvir os gritos de “é campeã” da plateia, mas já no final do desfile a escola teve problema com uma alegoria que acabou prejudicando a saída das demais que vinham atrás e dessa forma a escola estourou o tempo máximo de desfile, conforme o regulamento existente, o que fez com que a escola ficasse nesse ano com um oitavo lugar apenas, ficando por isso de fora do desfile das campeãs.
Para a folia momesca de 1991 Ernesto Nascimento e Cláudia Rodrigues ficaram como carnavalescos da escola e o enredo apresentado foi “As três rendeiras do universo”, mas o desfile não foi aquilo que os mangueirenses esperavam e a agremiação ficou apenas com a décima segunda colocação, resultado este inédito até ali na história da escola.
Tidinha e Robertinho, primeiro casal de porta-bandeira e mestre-sala da verde rosa, com fantasia nas cores da agremiação, desfilaram como que flutuassem na pista, tal a alegria e elegância da dupla ao conduzirem o pavilhão mangueirense.
Mas o fato é que aquilo apresentado pela escola não foi suficiente para uma boa colocação e ao final a Mangueira ficou muito perto de ser rebaixada, como foram naquele ano São Clemente, Lins Imperial, império Serrano e Acadêmicos do Grande Rio.
A vencedora de 1991 foi a Mocidade Independente de padre Miguel, seguida pela Acadêmicos do salgueiro e Imperatriz Leopoldinense.
Para seu desfile de 1992 a verde e rosa trouxe para o posto de carnavalesco da escola Ilvamar Magalhães, que ficaria como carnavalesco até o ano de 1995.
Para seu primeiro ano na escola Ilvamar propôs o enredo “Se todos fossem iguais a você – Tom Jobim”, outro enredo biográfico, desta vez com a vida e obra do cantor, compositor e maestro Tom Jobim, mas esse desfile não foi suficiente para que a verde e rosa pelo menos retornasse no desfile das campeãs daquele carnaval, já que ficou apenas com a sexta colocação, tendo se sagrado campeã a Estácio de Sá om sua “Paulicéia Desvairada – 70 anos de Modernismo”.
Para este carnaval o posto de primeira porta-bandeira e primeiro mestre-sala da escola coube ao casal Ircléia e Marquinhos, sendo o samba de enredo mais uma bela composição do trio de compositores Hélio Turco, Jurandir e Alvinho.
Fechando esta coluna, já que o objetivo é falar dos dez primeiros anos de desfile na Sapucaí a partir da inauguração do sambódromo carioca, no carnaval de 1993 a verde e rosa trouxe o enredo “Dessa fruta eu como até o caroço” do carnavalesco Ilvamar Magalhães, em seu segundo ano consecutivo na escola. Dessa vez o enredo falava sobre a manga, fruto muito comum na localidade onde fica a quadra da escola no passado.
Logo depois da passagem da Beija Flor de Nilópolis, nesse carnaval de 1993, sob o controle da carnavalesca Maria Augusta que substituiu Joãosinho Trinta, a Mangueira entrou na pista de desfile grandiosa em termos de alegorias, além de estar muito bem vestida.
Para esse desfile, o samba enredo que embalou o desfile foi de autoria dos compositores Bira do Ponto, Eraldo Caê, Carlos Sena, Dirceu, Verinha, Preto e Gustavo.
Além das tradicionais figuras da Mangueira que todos os anos desfilam na escola, nesse ano o destaque foi Angélica, no alto do carro da caravela, alegoria esta que pela altura teve um pouco de dificuldade para transpor a torre de Tv.
Como a escola fechou o carnaval carioca nesse ano, foi seguida pelo bloco do arrastão com muita animação.
Após a apuração a grande campeã de 1993 foi o Acadêmicos do Salgueiro com seu enredo inesquecível “Peguei um Ita no norte”, seguida pela Imperatriz Leopoldinense e a Beija Flor de Nilópolis, ficando a Mangueira com a quinta colocação.
Jamelão foi o grande interprete da Mangueira nesses dez primeiros anos do sambódromo da Marquês de Sapucaí, com exceção do carnaval de 1985, como já foi explicado.
Desde o carnaval carioca de 1984 até o de 1993 a Mangueira teve cinco presidentes.
No carnaval de 1984, ano de inauguração do sambódromo no Rio, aconteceu o último desfile de Delegado e Mocinha como primeiro casal de mestre-sala e porta bandeira da verde e rosa, eles que vinham no posto desde 1981. Mocinha ainda desfilou com Lilico até o carnaval de 1988.
Mestre Taranta comandou os ritmistas da Estação Primeira de Mangueira nos dez primeiros anos da Marquês de Sapucaí, tendo ficado nesse posto até 1995.