Vinte e duas vezes campeã do carnaval carioca, a Portela que sempre desfilou no grupo principal das escolas de samba da Cidade Maravilhosa, veio para seu desfile no carnaval de 1984 como a vice-campeã de 1983, quando apresentou o enredo “A ressurreição das coroas – Reisado, reino e reinado”, dos carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo, dupla esta que esteve na escola de Madureira por três carnavais (1982-1983 e 1984).
Para o desfile de 1984, ano da inauguração do sambódromo carioca, coube a Portela desfilar no domingo de carnaval, dia 03/03/1984, competindo pelo primeiro lugar nos desfiles daquele dia com Império Serrano, Caprichosos de Pilares, Acadêmicos do Salgueiro, União da Ilha, Império da Tijuca e Unidos da Tijuca.
Para esse primeiro desfile na nova Marquês de Sapucaí, os carnavalescos da azul e branco desenvolveram o enredo “Contos de Areia”, que tinha por foco homenagear três grandes figuras da história da escola, Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes, os três representados pelos orixás Oranian, Oxóssi e Iansã respectivamente.
A morte de Clara Nunes em abril de 1983 deixou todos os portelenses muito sentidos o que fez os desfilantes e a plateia delirarem quando a bateria da escola fez o seu esquenta com sambas de Clara Nunes, que era figura frequente nos desfiles da escola desde o início da década de 70.
O desfile da escola já aconteceu com sol alto na Sapucaí, iniciando com a Bahia, por ser o berço dos Orixás, para em seguida acontecer a homenagem às figuras do enredo, iniciando por Paulo da Portela, seguido de Natal e por fim Clara Nunes, estando a escola com mais de 5.000 componentes. O samba-enredo de autoria dos compositores Dedé da Portela e Norival Reis emocionou à todos, já que muitos desfilantes cruzaram a Sapucaí com lágrimas nos olhos
Realizada a apuração, a Portela confirmou o favoritismo que alcançou desde o dia do desfile e acabou neste ano conquistando sua vigésima primeira estrela para colocar em seu pavilhão azul e branco, pela vitória alcançada no domingo de carnaval.
No desfile pelo supercampeonato, quando apenas os quesitos de desfile foram julgados, não havendo portanto avaliação de fantasias e alegorias, coube à Portela o vice-campeonato, ficando atrás apenas da Estação Primeira de Mangueira, que até hoje de forma exclusiva, ostenta o título de supercampeã.
Tirando este título alcançado pela Portela no domingo de carnaval no desfile de 1984, até o carnaval de 1993 a Portela nunca mais ganhou nenhum outro campeonato, tendo obtido como melhor colocação o terceiro lugar no carnaval de 1987.
Para seu desfile de 1985, a Portela contratou o carnavalesco Alexandre Louzada, que estreava então no carnaval carioca das grandes agremiações carnavalescas, tendo desenvolvido para a escola o enredo “Recordar é Viver”, com o objetivo de dividir o desfile em três partes, o sonho e a imaginação; os prazeres da noite e os encantos do circo.
A comissão de frente da escola, formada por integrantes de sua velha guarda, pedia passagem para a águia, símbolo da escola que vinha batendo as asas.
O samba da escola para esse desfile foi composto pelos compositores Noca da Portela, J. Rocha, Poly e Edir Gomes, sendo interpretado pela voz magistral de Silvinho do Pandeiro.
Como já era costume na época o desfile sofreu considerável atraso e a Portela entrou na pista já com o sol intenso do meio dia do verão carioca.
Ao final a Portela com este desfile alcançou uma quarta colocação, ficando atrás somente da Mocidade Independente de padre Miguel, Beija Flor de Nilópolis e Unidos de Vila Isabel.
Para 1986 o carnavalesco Alexandre Louzada foi mantido na escola, desta vez apresentando o enredo “Morfeu no carnaval, a utopia brasileira”, com o objetivo de apresentar uma crítica à realidade do nosso país naquele momento, propondo uma viagem pelo sonho e pelo pesadelo.
Esse desfile de 1986 da Portela notabilizou-se pelo extremo luxo nas fantasias e nas alegorias apresentadas pela escola, além de um colorido, que deixou para um segundo plano o tradicional azul e branco, cores oficiais da agremiação.
Mas mesmo tendo realizado um grande desfile, de novo a escola não passou de uma quarta colocação naquele carnaval, atrás da Estação Primeira de Mangueira, Beija Flor de Nilópolis e Império Serrano.
Para o carnaval de 1987 a Portela optou por mudar de carnavalesco, tendo então contratado Geraldo Cavalcanti, que desenvolveu o enredo “Adelaide, a pomba da paz”, enredo este que narrava a história da pomba Adelaide, que em sua viagem pela floresta vai juntando letras para no final formar a palavra AMOR e encontra o Senhor dos Rios.
Com este desfile a Portela foi a vencedora do prêmio do Estandarte de Ouro na categoria de samba-enredo, composição esta de autoria de Neném, Mauro Silva, Isaac e Carlinhos Madureira.
Depois de um grande desfile, a Portela terminou com a terceira colocação nesse carnaval, que como foi dito foi a melhor colocação da escola de 1985 à 1993.
No carnaval onde se queria comemorar o centenário da abolição da escravatura, a Portela manteve Geraldo Cavalcanti como seu carnavalesco, tendo proposto para esse desfile de 1988 o enredo “Na lenda carioca, os sonhos do vice-rei”, enredo este que teve como ponto de partida a história de amor entre o Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos de Sousa por Susana para destacar a região do Centro da cidade do Rio de Janeiro que engloba, além do Passeio Público, a Avenida Rio Branco, a Cinelândia e a Lapa.
De novo a azul e branco de Madureira entrou na pista de desfile já com o dia claro, com 4500 desfilantes divididos em 43 alas. Neste desfile novo mestre de bateria estreou a frente da Tabajara do Samba, Mestre Timbó, sendo que Dedé da Portela brilhou como primeiro intérprete da agremiação.
Esse desfile rendeu à agremiação, cujo símbolo é a águia, uma quinta colocação, fazendo com que a escola dispensasse o carnavalesco que vinha na escola desde 1987.
“Achado não é roubado” foi o tema enredo escolhido pela Portela para seu desfile no carnaval de 1989, desta vez sob o comando do carnavalesco Sílvio Cunha, que ficou na escola até o desfile de 1992.
O objetivo deste enredo apresentado pela escola foi o de falar sobre o “achamento” do nosso país, contrariando a tese de que fomos descobertos. Queria o carnavalesco e a escola fazerem uma revisão da nossa história oficial.
Foi objetivo também deste desfile portelense, celebrar os 65 anos de fundação da agremiação e esse festejo foi bem ao gosto do desfilante da Portela que gosta de vestir-se de luxo para entrar na pista da Sapucaí e lutar por mais uma estrela para colocar no pavilhão da escola.
O desfile da escola encerrou-se com o sol alto, tendo conseguido ao final ficar com a sexta colocação, classificação esta que a escola não alcançava desde o carnaval de 1967 quando apresentou o enredo “Tal dia é o batizado”.
Esse carnaval carioca de 1989 foi vencido pela Imperatriz Leopoldinense, seguida pela Beija Flor de Nilópolis que deixou a Sapucaí boquiaberta com seu Cristo mendigo.
O desfile portelense de 1990, pela péssima colocação alcançada pela escola, já que ficou apenas com uma décima colocação, trouxe como foco as manifestações populares de todas as regiões do nosso Brasil, através o enredo “É de ouro e prata esse chão” de Sílvio Cunha em seu segundo ano como carnavalesco da Portela.
Pela primeira vez na história da escola uma mulher figurou como compositora de um samba enredo apresentado pela Portela, tratando-se de Cila da Portela que juntamente com Espanhol, Sylvio Paulo foram os responsáveis pela composição do samba levado pela escola para a Sapucaí naquele ano.
Seguindo a tradição portelense, a comissão de frente era composta por membros da velha guarda da escola. O enredo foi dividido em três setores, sendo o primeiro setor o do Mercado, o segundo as festas religiosas e o terceiro trazendo o canto e a dança.
O pavilhão portelense era apresentado pelo primeiro casal formado por Tatu e Gisele, mas um problema com a armação da saia de Gisele impediu sua boa e correta evolução, o que influenciou muito na atribuição de notas baixas ao quesito defendido pelo casal.
Depois da apuração a Portela ficou com um inédito décimo lugar, tendo vencido aquele carnaval a Mocidade Independente de Padre Miguel, seguida pela Beija Flor de Nilópolis.
Mesmo com a péssima colocação alcançada pela escola, para seu desfile de 1991 a Portela decidiu pela permanência do carnavalesco Silvio Cunha desta vez trabalhando com o enredo “Tributo à Vaidade”, enredo este no qual a intenção era uma exaltação a todos os tipos de vaidade, especialmente a de ser torcedor da Portela.
Com o samba de autoria dos compositores Carlinhos Madureira, Café da Portela e Hiran Silva a escola foi premiada com o Estandarte de Ouro de melhor samba daquele carnaval, além de ter sido premiada em sua comissão de frente, ala das damas e revelação com o prêmio dado pelo júri do jornal O Globo.
Mesmo com o belo desfile apresentado a escola ficou apenas com a sexta colocação ao final da apuração das notas naquele carnaval.
Em seu último ano como carnavalesco da escola, Silvio Cunha para 1992 apresentou o enredo “Todo o azul que o azul tem” para o desfile da Portela.
O desenvolvimento deste enredo foi baseado nos setores do azul do céu; do azul do mar; do azul da natureza; do azul da morada dos deuses; do azul da nobreza; do azul dos poetas e finalmente do azul da própria Portela.
A Portela foi a sétima escola a entrar na pista da Sapucaí na segunda-feira de carnaval com samba enredo de autoria do trio de compositores Carlinhos Madureira, Café da Portela e Ary do Cavaco.
A comissão de frente portelense, com a mesma formação do ano anterior e elegantemente vestida de fraque e cartola, nas cores azul “portelense” e branco foi muito aplaudida e logo atrás vinha a tradicional águia, símbolo da agremiação carioca.
Mesmo com o belo desfile coube a Portela a quinta colocação no carnaval de 1992, carnaval este que foi vitorioso para a Estácio de Sá com sua Paulicéia Desvairada.
Para o desfile da Portela de 1993, a escola optou pela contratação de um novo carnavalesco, tendo esta função sido ocupada por Mário Monteiro que desenvolveu o enredo “Cerimônia de casamento”. Mário Monteiro foi o carnavalesco campeão no ano anterior com a Estácio de Sá.
Esse desfile foi mais um onde a modelo e empresária Luiza Brunet desfilou a frente dos ritmistas da Tabajara do Samba, posto este que Luiza ocupou na Portela de 1986 a 1994.
Para 1993 a Portela desfilou com 4.600 componentes, divididos em 40 alas e 10 alegorias. Como novidade o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Edson e Marciele, que foram escolhidos através de concurso realizado pela escola.
Foi nesse carnaval que a comissão de frente tradicional da escola , composta pela Velha Guarda da Portela e convidados, apresentou-se pela última vez, já que vinha sendo penalizada frente aquilo que estava sendo apresentado pelas outras escolas em termos de comissão de frente.
O samba da azul e branco de Madureira para o desfile de 1993 foi de autoria de Wilson Cruz, Cláudio Russo e Jorginho Estrela Negra defendido na avenida por Dedé da Portela.
A verdade é que o desfile apresentado pela Portela não caiu no gosto dos julgadores e de novo a escola ficou apenas com a décima colocação, ficando de fora do desfile das campeãs, como aconteceu no carnaval de 1990.
Nesses dez primeiros anos do sambódromo da Marquês de Sapucaí a Portela foi presidida por Carlinhos Maracanã, sendo que neste mesmo período a escola teve apenas dois intérpretes oficiais que foram Silvinho e Dedé da Portela.
Mestre Marçal comandou a Tabajara do Samba de 1982 a 1986 e Mestre Timbó assumiu o posto a frente dos ritmistas de 1987 a 1994.
“…Salve o samba, salve a santa, salve ela
Salve o manto azul e branco da Portela
Desfilando triunfal sobre o altar do carnaval…”