RJ – Sem Blocos em 2022, eventos fechados elitizam o carnaval popular com ingressos de até Mil Reais

Prefeitura do Rio decidiu, na ultima terça (04/01), suspender o carnaval de rua pelo segundo ano seguido, por conta do aumento de novos casos de de Covid decorrente da variante ômicron.  Após a decisão, de fato acertada, abriu-se um perigoso caminho para um movimento de resistência que vinha mantendo vivo o carnaval do povo, e feito para o povo. Ou seja, o carnaval de rua ainda é a única manifestação carnavalesca democrática, acessível e com a espontaneidade tão peculiar do carioca.

Bloco das Carmelitas – Foto: Fernando Maia | Riotur

O que resta para quem pretende curtir o carnaval em 2022, são ingressos, para eventos elitizados, que podem variar de R$ 400.00 a R$ 1 mil. Os mais concorridos anunciam shows de artistas do momento, como Barões da PisadinhaAnittaThiaguinhoLeo SantanaLuan SantanaBeloFerrugemWesley Safadão, além das bandas dos blocos que não poderão desfilar no próximo carnaval.

Bloco da Anitta em 2020 – Foto: Fernando Maia | Riotur

Empresários oriundos do entretimento já colocam seus olhos famintos por dinheiro na grande oportunidade que se desenha pela frente. Pego como exemplo a cidade de São Paulo. A capital Paulista vinha em tempos superando o Rio em numero de pessoas nos blocos da cidade. Em tempos de pandemia, como medida para o Carnaval de rua em 2022, a Prefeitura de São Paulo estuda transferir os blocos para o Autódromo de Interlagos. Grande oportunidade de parceria com gigantes do mundo dos grandes eventos pagos e restritos a um publico especifico. Um caminho que se percorrido, não existe oportunidade de volta.

Foto Riotur

Martelo batido: O folião que sonhou curtir os blocos de rua no Rio de Janeiro em 2022, terá que pagar, ou esperar por mais um ano. Tais eventos possuem acesso fora da realidade de um povo, que em sua maioria, nunca teve a oportunidade de participar. Em alguns dos já divulgados, a entrada reflete quase 50% do salário médio de um brasileiro.

Bloco Cordão da Bola Preta – Foto: Riotur

Há 10 carnavais levando diversidade e arte para os festejos de momo na cidade maravilhosa, quem curtiu o famoso Amigos da Onça em 2020, tem a chance de ver a banda do bloco em 2022 em evento fechado com ticket de entrada vendido por R$ 440 cada. No ultimo carnaval, o Bloco teve uma estimativa de publico contabilizada em 12.000 pessoas no calçadão da Praia do Flamengo, em evento gratuito.

Bloco Amigos da Onça – Foto: Fernando Maia | Riotur

Decanas e necessárias, as caricatas da Banda de Ipanema sofrem sérios riscos e ameaças de existência se, por obra do “acaso”, uma dia as ruas ficarem padronizadas para seu manifesto de forma definitiva. Estas pessoas maravilhosas não combinam com padrões impostos, portanto vão aguardar mais um ano para que se retire perucas e boás de plumas de seus “armários” fechados desde 2020.

Riotur

Blocos tradicionais como o Cordão do Bola Preta e o Cacique de Ramos, vão fazer suas festas privadas, e cobrando ingressos. Se a moda pegar, acho difícil a “Tradição” ganhar da “Arrecadação”, em alguns anos. Posso estar errado, mas fenômeno parecido ocorreu com os Desfiles das escolas de samba, hoje carimbado com a marca elitista que caracteriza o espetáculo desde a “Era Sambódromo”, iniciada em 1984.

Cordão do Bola Preta – Foto: Fernando Maia | Riotur

No inicio dos anos 2000, o grande público, que antes era dono do espetáculo dos Grêmios Recreativos Escolas de Samba, ficou restrito aos espaços segregados na avenida, que são os setores 1, 12 e 13 (início e final do desfile). Sem esquecer do relevante e sofrido grupo que madruga para tentar um lugar no famoso e ignóbil “setor zero”, na beira do canal do mangue que segue em paralelo a avenida Presidente Vargas.

Sambódromo – Foto: Alexandre Macieira | Riotur

Dentro do templo sagrado do samba, nos camarotes e caríssimos setores de frisas e arquibancadas, um festival de artistas, políticos, empresários e privilegiados desfrutando da festa que um dia foi em sua plenitude, popular. Dano irreversível para um Carnaval que se afastou das origens, para se tornar “profissionalizado”, patrocinado e elitizado.

Reprodução

Fica somente uma reflexão, totalmente aberta à criticas, já que não enxergo soluções diante do cenário. Não nego, sou um apaixonado por carnaval, porém abomino a elitização que assolou o espetáculo das escolas de samba, com motivo lógico da busca pelo patrocínio, e nos últimos tempos assedia na tentativa de “namorar” o carnaval de rua.

Cordão do Bola Preta – Foto: Fernando Maia | Riotur

Finalizo deixando claro, mais uma vez, que a decisão de não realizar “O Carnaval de rua nos moldes que eram feitos até 2020, e que já não aconteceu em 2021″, em tempos incertos quanto ao controle pandêmico que assola o mundo, foi acertada e muito bem calculada.

Foto: Fernando Maia | Riotur

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp