O seminário “Harmonia em evolução”, que reuniu, no último sábado, 22, profissionais renomados de algumas escolas de samba do Rio, na quadra da Viradouro, em Niterói, abordou alguns pontos que precisam ser aprimorados tanto na produção do espetáculo quanto na pista de desfiles.
Dudu Falcão, Jefferson Coutinho e Marcos Mendes, trio que comanda o departamento de Harmonia da vermelho e branco, foram os mediadores dos debates, com a participação, também, de Alex Fab, diretor de carnaval da Viradouro.
A primeira mesa reuniu os diretores de carnaval Moisés Carvalho, da Vila Isabel, e Cícero Costa e Lala Mara, da Unidos de Padre Miguel. O dirigente da Vila ressaltou a falta de segurança do entorno do Sambódromo e, sobretudo na área de concentração das escolas, como um ponto que deve ter atenção especial da Prefeitura do Rio e da nova diretoria da Liga Independente das Escolas de Samba. A escassez de mão de obra qualificada para a produção dos desfiles foi outra necessidade destacada pelos debatedores. Lara Mara, única diretora de carnaval entre as escolas do Grupo Especial, disse que, apesar de ter sido criada dentro da UPM e tendo passado por praticamente todos os segmentos, ainda enfrenta preconceito.
– Tem gente na escola que prefere levar pro meu pai algumas questões porque acha que não tenho capacidade de resolver. Eu tenho que me impor pra ser respeitada.
Na sequência, foi a vez de consagrados compositores de samba-enredo debaterem as dificuldades do quesito. Paulo Cesar Portugal, Samir Trindade e Claudio Russo concordaram que é preciso encontrar uma maneira de tornar as disputas de samba menos onerosas para as parcerias. Russo e Samir afirmaram, lamentando, que o fato de a maioria das parcerias vitoriosas atualmente ter compositores com formação acadêmica, talentos sem formação superior acabaram se afastando das disputas. Portugal, comparando os sambas antigos aos de hoje, disse que, pelas características do espetáculo atual, obras clássicas do passado não chegariam a ir pra Avenida.
– Não ganhariam hoje uma disputa numa escola – assegurou Portugal, ganhador de vários concursos de samba na Viradouro.
Qualidade do som na Sapucaí continua sendo problema
A terceira mesa reuniu os mestres do ritmo: Ciça, da Viradouro, Macaco Branco, da Vila Isabel, e Marcelo Santos, da União da Ilha. A deficiência do som nos desfiles, reclamação que se arrasta há décadas, foi unanimidade entre os debatedores como um ponto que precisa ser solucionado. Uma das queixas é que o técnico que equaliza o som desconhece as características dos instrumentos. A possibilidade de todas as escolas poderem contar, nos ensaios técnicos da Sapucaí, com os carros de som do desfile seria uma das formas de tentar minimizar as falhas.
Coreógrafos e casais e os tripés da comissão de frente
A utilização dos tripés nas comissões de frente que teve a funcionalidade questionada recentemente e que, por decisão das escolas, serão mantidos para o Carnaval de 2025, foi tema na mesa que reuniu os casais de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Taciana Couto, da Grande Rio, Julinho Nascimento, Rute Alves, Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, 1º e 2º casais da Viradouro.
Do debate do qual participaram, ainda, pela Viradouro, Alexandre Moreira, apresentador de casal, e a ensaiadora Juliana Meziat foi feita a defesa do elemento cênico. Os casais revelaram que o tripé “os protege” de um eventual imprevisto nas fantasias, por exemplo, possibilitando que seja corrigido fora do campo de visão dos julgadores, enquanto a comissão se apresenta em frente às cabines.
Os coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri, da Viradouro, Karina Dias, da Mangueira, e Marcio Moura, da União da Ilha do Governador, concordaram que os tripés ajudam na compreensão do que será mostrado pela escola e lembraram que o pedido para extingui-los não partiu dos julgadores e nem da Liesa. Todos, no entanto, afirmaram serem capazes de criar uma grande comissão sem tripé, mas reforçaram que o “cenário”, além de ser importante para o espetáculo, abre um leque de possibilidades para melhor elucidação do enredo.
Mudança na forma de avaliação do quesito Harmonia
A mudança no critério de avaliação dos julgadores do quesito Harmonia foi questionada na mesa que encerrou o seminário e que teve como debatedores os diretores musicais Hugo Bruno, da Viradouro, Alemão do Cavaco, do Salgueiro, o diretor de harmonia da Portela Julinho Fonseca, e Júnior Escafura, vice-presidente da Portela, integrante da comissão de carnaval da azul e branco, e que, na recém-empossada diretora da Liesa, ocupa o cargo de secretário.
De acordo com os debatedores, de uns anos pra cá, o carro de som virou protagonista do quesito Harmonia, com foco no desempenho dos cantores e músicos, e o canto dos componentes praticamente deixou de ser avaliado. Eles apontam que a mudança acarretou a desvalorização dos departamentos de harmonia das escolas. A solução seria a criação de um novo quesito para avaliação exclusivamente do desempenho dos profissionais do carro de som.
Ao final do evento, Escafura afirmou que pretende apresentar as sugestões dos debatedores à diretoria da Liesa. Um outro seminário vai acontecer no dia 3 de agosto, com a participação de carnavalescos, enredistas, profissionais de gestão de ateliê, de iluminação, de assessoria de imprensa e de redações.