Na manhã deste Domingo (23) se encerrou a apresentação das escolas de samba na Série A do Rio de Janeiro. Devido a falta de recursos para colocar o carnaval na rua, foram duas noites de desfiles de superação.
O desfile deste sábado teve inicio com atraso, após chuva que prejudicou a concentração das sete escolas que se apresentaram. Primeira agremiação a entrar na avenida, o Acadêmicos do Sossego prometia iniciar o segundo dia com o nível bem acima da ultima noite. Apesar do apoio financeiro da prefeitura de Niterói, a escola do Largo da Batalha não fez boa apresentação. O enredo “Os tambores do Olokun” fazia homenagem ao maracatu de Pernambuco e não teve boa plastica nas alegorias, além de diversas falhas de acabamento em fantasias.
O samba enredo que já era criticado antes do desfile, não funcionou. A Inocentes de Belford Roxo foi a próxima, e chegou para confirmar a previsão que naquele sábado pode sair a campeã de 2020. A Tricolor da baixada fluminense foi a grata surpresa da noite. Cantando a jogadora Marta, a escola foi correta em todos os quesitos. O carnavalesco Jorge Caribé saiu da zona de conforto dos quesitos afros e brilhou com alegorias criativas, sendo apontado com o responsável pelo melhor desfile até ali. No último carro, a jogadora foi o grande destaque, acompanhada da mãe, dona Tereza da Silva, e amigos. Depois do belo desfile da Inocentes, a pista estava liberada para a entrada da próxima escola.
Com o enredo “Memórias de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea”, a Unidos de Bangu contou os horrores da escravidão. Apesar da bela comissão de frente, a escola cometeu muitas falhas de pista, alem das alegorias com acabamento precário e iluminação falha.
A Acadêmicos de Santa Cruz viveu um drama na preparação do seu carnaval, devido a falta de estrutura do local onde confecciona suas alegorias, e era preocupação ate o momento em que se armou para entrar na avenida. Homenageando a cidade cearense de Barbalha, a verde e branca entrou imponente e surpreendente, mostrando que ali vinha o maior exemplo de superação dentro de um grupo de escolas guerreiras. O desfile corria bem até que o último dos três carros teve dificuldades para entrar na avenida e colidiu com grades de proteção. O incidente chegou a parar a escola por alguns minutos, mas a aguerrida agremiação conseguiu completar desfile dentro do tempo.
A Santa Cruz ainda estava no final do seu desfile, quando a Imperatriz Leopoldinense já causava comoção e alvoroço no setor 1 com sua comissão de frente, que fazia apresentação especial para aquele publico. Cotada como uma das favoritas, apos o rebaixamento no ano passado, a Rainha de Ramos entrou avassaladora com a reedição de “Só dá Lalá”. O conjunto de fantasias e alegorias foram os melhores do grupo até ali. O canto e evolução da escola foram impecáveis. À frente da bateria, a cantora Iza personificava a realeza leopoldinense. A escola fechou seu desfile com a sabedoria de uma agremiação com anos no grupo especial. O destaque Nelcimar Pires veio no abre alas com uma bela fantasia, porem o costeiro de penas caiu e ficou pousado no chão da alegoria até o final do desfile. Este incidente deve custar alguns décimos em alegorias na avaliação dos julgadores.
Sem se abalar com o excelente desfile da Imperatriz, a Unidos de Padre Miguel vinha para celebrar a capoeira no enredo “Ginga”. Já na concentração, o conjunto de fantasias do boi vermelho, chamava atenção pela beleza e excelente acabamento. A escola iniciou seu desfile com o nível lá no alto e prometendo fazer a avenida esquecer a ótima apresentação que a escola anterior havia realizado. O sonho do campeonato foi embora já na abertura da escola. O grande Abre Alas ficou parado na concentração por mais de 10 minutos para encaixar partes laterais da alegoria. Apos este período a direção da escola decidiu dar andamento no seu desfile e a decisão causou um grande buraco na avenida que só foi solucionado apos entrada da alegoria sem as 4 partes que não acoplavam e com acabamento prejudicado. Dali em diante a tensão tomou o desfile por completo e a correria final foi inevitável. Apesar da beleza plástica e do bom samba, a UPM pode perder pontos em evolução, harmonia e também em alegorias e adereços.
Já na madrugada de Domingo o Império da Tijuca encerrou os desfiles da Série A do Rio. A escola se colocou como favorita após desfile correto e regular. Belas alegorias contavam o enredo sobre educação. A verde e branca da Tijuca, sabendo que tinha chances, entrou cantando seu belo samba e fechou seu carnaval confiante que tem condições de constar nas primeiras posições após apuração na quarta feira de cinzas.
RESUMO DA SEXTA FEIRA
No dia 21 a noite foi aberta por uma grata surpresa, a Acadêmicos do Vigário Geral entrou na avenida com plastica modesta e chão de quem parecia que já desfila muitos anos naquela pista. Contando o enredo “O conto do Vigário” a escola surpreendeu uma avenida ainda vazia para receber a agremiação até ali cotada para cair. Ledo engano ou apenas mais um conto do vigário, pois a tricolor fez desfile de gente grande, deixando o fantasma do rebaixamento para outras naquela noite que já se desenhava como dramática. Apostando no enredo afro, o Acadêmicos da Rocinha tinha uma concentração das mais elogiadas para contar a história de vovó Maria Conga. O belo samba não rendeu e a escola não cantou prejudicando quesitos de canto e dança. Logo a seguir, a Unidos da Ponte manteve a frieza deixada pela coirmã e não conseguiu passar sua mensagem através do confuso enredo “Elos da eternidade”. Com plastica correta a escola deve perder pontos em alegorias devido a avarias na esculta do abre alas. Direto de São Gonçalo, as apostas de grande apresentação caíram nas costas da Porto da Pedra. O tigre de São Gonçalo porém, mostrou através de seu desfile, o reflexo das dificuldades financeiras que escola passou na preparação do seu carnaval. O enredo da escola prestava uma merecida homenagem à ala das baianas. A concentração tomou características de entrada de uma candidata ao campeonato quando a Acadêmicos do Cubango apontou com seu conjunto de alegorias e belas fantasias para homenagear Luiz Gama. Apos entrada forte, o lindo samba enredo se arrastou e não foi o único problema enfrentado pela verde e branco. O abre-alas perdeu a conexão entre suas duas partes e o imponente cavalo da segunda alegoria perdeu a pata na frente de uma das cabines de jurados. A Renascer de Jacarepaguá vem a seguir retratando as mazelas que tornam as benzedeiras necessárias e faz desfile nivelado por baixo como a maioria das escolas daquele dia. A vermelha e branca de Jacarepaguá, que chegou a pensar em não desfilar este ano, deve perder décimos em vários quesitos. Encerrando a noite o grande destaque negativo da noite. O tradicional Império Serrano, apos sofrer dois rebaixamentos seguidos, conseguiu a proeza de cometer tudo o que não se deve errar em um desfile de escola de samba. A bateria se salva do desastre e a falta de saia na ala das baianas vai demorar para ser esquecida na memória de quem presenciou cena das mais tristes do ano. O enredo sobre o empoderamento da mulher ficou em segundo plano na apresentação esquecível do reizinho de Madureira. Em resumo, a abertura da série A não teve um bom nível na média das apresentações, fazendo com que estas agremiações postulem do meio para o final da tabela.
Por Waldir Tavares