No período compreendido entre o carnaval carioca de 1976 e 1992 a Deusa da Passarela foi campeã por cinco oportunidades, todos sob a batuta do revolucionário Joãosinho Trinta como carnavalesco da agremiação.
Foram dezesseis carnavais recheados de muita imaginação, inovação e desfiles impactantes, que brindaram a plateia presente na Marquês de Sapucaí com momentos marcantes para nunca mais forem esquecidos.
Já quando chegou a Nilópolis, o gênio Joãosinho Trinta levou a Beija Flor de Nilópolis a um inédito tricampeonato dentre as grandes agremiações do carnaval carioca, colocando-a à frente das tradicionais Portela, Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro e Império Serrano, as grandes agremiações daquela época, que disputavam sempre as primeiras colocações.
Nilópolis, município da baixada fluminense, definitivamente despontava como grande metrópole em termos de possuir uma agremiação carnavalesca forte e que tinha pela frente um futuro promissor no mundo do carnaval carioca.
“Sonhar com rei da Leão” de 1976, “Vovó e o Rei da Saturnália na corte Egipciana” de 1977 e “A Criação do Mundo na Tradição Nagô” enredo apresentado no carnaval carioca de 1978, abriram definitivamente as portas do grupo seleto das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro para a Beija Flor de Nilópolis, que desde este tricampeonato somou mais onze campeonatos, num total de quatorze estrelas estampadas em seu pavilhão.
Os alicerces construídos pela diretoria da agremiação, contando com a foça da comunidade nilopolitana e a genialidade de Joãosinho Trinta serviram no passado para revolucionar o carnaval carioca, com enredos inusitados, muita criatividade e uma pitada de luxo.
“Pobre gosta de luxo, quem gosta de lixo é intelectual.” foi uma das frases ditas por Joãosinho Trinta que ficaram para a eternidade, confirmando ser ele um homem de personalidade forte e marcante, o que lhe trouxe uma série de desentendimentos com muitos daqueles que com ele conviveram durante a criação dos desfiles por ele concebidos.
Após cinco títulos juntos, dois no Salgueiro e três na Beija Flor, a dupla formada por Laíla e J30 se desfez, voltando a se juntar somente para o carnaval de 1989 da Beija Flor, com o inesquecível “Ratos e Urubus larguem minha Fantasia”.
No período de dezoito carnavais, tempo em que a Beija Flor contou com o trabalho de Joãosinho Trinta, a escola foi da primeira a sétima colocação dentre as grandes escolas de samba do Rio.
Em 1992, quando a escola nilopolitana apresentou o enredo “Há um ponto de luz na Imensidão”, com a perda de pontos por conta de um tapa-sexo que não tapou sexos e custou a perda de pontos à agremiação, fato este aliado a outros problemas envolvendo a atuação do carnavalesco no projeto social da escola denominado de “Flor do Amanhã”, João foi demitido da Beija-Flor.
Uma série de situações contribuíram para deixar Joãosinho Trinta fora do carnaval carioca de 1993, coisa que não acontecia desde o reinado de Momo de 1960.
Para o carnaval de 1973, Joãosinho Trinta chegou ao Salgueiro e substituiu a carnavalesca Maria Augusta Rodrigues que por lá estava, tendo levado o Salgueiro à terceira colocação.
No carnaval carioca de 1993 justamente o contrário aconteceu tendo Maria Augusta sido contratada pela Beija Flor para o lugar do carnavalesco Joãosinho Trinta e tal como na primeira troca entre os dois profissionais, de novo a terceira colocação foi alcançada, mas desta vez pela Deusa da Passarela.
Maria Augusta estava fora do carnaval carioca desde o ano de 1986, quando deu à Tradição o primeiro lugar do grupo 2-A da época com o enredo “Rei Sinhô, Rei Zumbi, Rei Nagô – Eu também tô aí, tô aí sim sinhô”, mas trazia ainda em seu currículo campeonatos pelo Salgueiro e Paraíso do Tuiuti e desfiles antológicos pela União da Ilha do Governador.
Para esse regresso ao carnaval diante de uma grande escola como a Beija Flor, Maria Augusta trouxe o enredo “Uni-duni-tê, a Beija-Flor escolheu: é você”.
A proposta de Maria Augusta com esse tema apresentado vinha totalmente na contramão dos desfiles arquitetados por Joãosinho Trinta para a Beija Flor até ali. Dessa vez a proposta de enredo não queria nudez, não precisava de alegorias gigantescas, um desfile no qual a agremiação veio leve, transbordando de alegria e com figurinos de variadas cores, tudo mostrando o extremo bom gosto da carnavalesca, mas algo repetia-se com o brio e garra tradicionais da comunidade da escola azul e branca sediada em Nilópolis.
Nas palavras da carnavalesca Maria Augusta “Uni= Universo, Duni= Dualidade, Tê= Integração” sintetizavam muito bem o sentido e o significado do enredo por ela apresentado.
A Beija Flor entrou na pista da Sapucaí com cerca de 4.500 integrantes, divididos em 47 alas e 12 alegorias.
O samba-enredo era de autoria de Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca, interpretado magistralmente por Neguinho da Beija Flor, que até hoje impulsiona os desfiles da escola com sua voz inconfundível.
“…Uni-duni-tê
Vem ver o sol no amanhecer
A Beija-Flor escolheu é você…”
(Trecho do samba enredo – Beija Flor de Nilópolis 1993)
Já para marcar esse desfile, o desfile iniciava com uma comissão de frente trazendo as cores do arco-íris em seus figurinos.
No carro abre alas muito bem iluminado o destaque era um grande pião prata que girava na base superior do carro – como referência ao verso do refrão do samba que narrava “Gira meu mundo pião”.
Beija-flores giravam, subiam e desciam na parte da frente deste abre alas, aliás esse mesmo pássaro pôde ser visto sobrevoando a ala das baianas da agremiação.
O abre-alas representava o UNI – O GERADOR DA VIDA, e reunia na sua concepção os nove planos da criação e os movimentos que impulsionam o universo. Era um carro com muitos efeitos especiais e muitos espelhos, espelhos estes muito usados também por Joãosinho Trinta.
O desenvolvimento do enredo foi exato de forma que todos saíram do desfile com a percepção clara da mensagem passada pela agremiação nilopolitana.
Tristeza foi a quebra do sexto carro ainda na concentração, alegoria que traria a representação do livro de onde saíam as histórias infantis. Aliás com este desfile a Beija Flor introduziu as alegorias motorizadas, sob o comando de motoristas, aposentando de vez os tradicionais “empurradores”.
Nesse desfile também ocorreu a estreia do novo primeiro casal de porta bandeira e mestre sala da escola, Juju Maravilha e Edmar que até o carnaval anterior estavam defendendo o pavilhão da Unidos da Tijuca.
Mestre Odilon comandava os ritmistas da agremiação, que mesmo com fantasias iguais, diferenciavam-se nas cores, colocando a carnavalesca mais uma vez as cores do arco íris no desfile, além de colorir também os instrumentos musicais.
À frente da bateria da escola reinava absoluta como Rainha dos ritmistas da azul e branco de Nilópolis a inesquecível Soninha Capeta.
Finalizada a apuração o Salgueiro sagrou-se a grande campeã daquele carnaval com o inesquecível “Peguei um Ita no Norte”, seguido pela Imperatriz Leopoldinense, ficando a Beija Flor de Nilópolis com o terceiro lugar, como já foi referido.
No carnaval seguinte Miltom Cunha estrearia como carnavalesco da Beija Flor, trazendo de volta uma série de características dadas à escola por Joãosinho Trinta, como alegorias grandiosas e luxo presente em alegorias e fantasias, bem ao gosto do torcedor da agremiação nilopolitana.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior