Em 2023, a Rosas de Ouro faz coro à busca por respeito e igualdade racial. A resistência negra através dos tempos vai ser retratada em um manifesto racial no sambódromo do Anhembi, com o enredo “Kindala – que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”.
“A gente queria uma palavra forte e chegamos em kindala, que no idioma bantu significa “agora”. Mas como a proposta é mostrar desde a ancestralidade até os dias de hoje, também buscamos algo atual, e agregamos a frase que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”, que é uma referência à música AmarElo, do Emicida, “um artista que tem muita coisa pra falar e precisa ser ouvido”, explica Paulo Menezes, autor do projeto.
A intenção, de acordo com o carnavalesco, é “colocar o dedo na ferida”. A Rosas de Ouro, portanto, cumpre sua função social e joga luz no racismo, de olho na contemporaneidade: “Podem esperar polêmica, por que vai ser impactante. Uma obra aberta, que será finalizada somente pouco antes de entrar na avenida, já que qualquer caso que possa ocorrer até lá será agregado ao projeto”, adianta Paulo Menezes.
Samba-enredo oficial
O enredo “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome” é de 2023, mas vai ser embalado por um samba que perdeu a disputa para o Carnaval 2006, quando a Rosas de Ouro levou para a avenida “A Diáspora Africana, um crime contra a raça humana”.
O processo de seleção de um samba-enredo, geralmente, envolve uma disputa com diversas parcerias e eliminatórias em quadra. Há ocasiões em que se unem duas ou mais obras, mas é mais comum que apenas uma saia vencedora em cada agremiação. Sendo assim, há sambas-enredos que nunca foram para o sambódromo do Anhembi. Este é o caso do “samba do arrasta”, como ficou conhecida a obra assinada por Arlindo Cruz, Fabiano Sorriso, Pedrinho Sem Braço, Paulinho Sampagode e Osmar Costa na disputa para eleger a trilha sonora do Carnaval 2006. Cerca de 17 anos depois, o samba-enredo aclamado pelos integrantes da Rosas de Ouro ganha uma nova oportunidade de brilhar na avenida.
Paulo Menezes já trabalhava a temática há pelo menos 10 anos. “Quando ouvi o samba na quadra, em um ensaio deste ano, na hora falei para nossa Comissão de Carnaval que eu tinha um tema que caberia nele. Todos abraçaram a ideia e tenho certeza de que será muito marcante”, conta o carnavalesco. A composição precisou de ajustes para se manter atual. Veja a letra oficial: