Ainda sem data definida no Anhembi, as Escolas de Samba de São Paulo vem de forma tímida fazendo eventos alternativos, movimentando assim seus projetos para 2021. As diretorias tem usado de criatividade para trabalhar em forma de Lives e “Drive In“.
Ao contrário do que ocorre no Rio de Janeiro, boa parte das agremiações paulistanas optaram por realizar seus eventos sem presença de publico. Escolas como Águia de Ouro, Gaviões da Fiel e Dragões da Real escolheram seus sambas no formato de drive-in. A Rosas de Ouro foi uma das exceções, porém seguiu protocolos de segurança sanitária para realizar sua final de samba, realizada em Setembro.
A suspenção dos eventos afeta não somente a verba destas escolas, como também os informais que tradicionalmente trabalham com suas barracas nas portas das quadras paulistanas.
Criada em 2016 para angariar fundos para compra de camisetas de ensaios e de apoio para os Destaques da Vai Vai, a “Barraca dos Destaques” é administrada por Almir Alberto, que faz parte do time de Destaques da Escola do Bixiga, e emprega duas pessoas durante o período de ensaios da Vai Vai na Rua São Vicente.
“Parte do recurso uso para pagar duas pessoas, a Mara (45 ) e a Miriam (44 ). Uma outra parte uso nas minhas necessidades. Infelizmente aqui em São Paulo as Barracas de Escola de Samba não tem espaço reservado no entorno da Passarela do Samba como aí no Rio. O recurso que ganhamos nem sempre é o dobro que investimos. Devido a Pandemia tive que me reinventar porque sem carnaval, sem ensaio, sem barraca e sem um qualquer para ajudar no orçamento fica muito difícil. Talvez somente no meio do ano que vem, retornaremos as atividades. Enquanto isso sigo fazendo Delivery de Lanche e Porções de Pernil até tudo se normalizar“, explica o Destaque e empreendedor Almir Alberto.
Situação parecida vive a informal Gisele Alves, que trabalha há seis anos na porta da escola de samba Mocidade Alegre. Com a suspensão dos eventos na quadra da Morada, situada na Rua Samaritá/Bairro Jardim das Laranjeiras, Gisele tem se reinventado na venda de marmitas por aplicativos de Delivery.
“O impacto tem sido muito grande porque nós vivemos no carnaval e dos shows na quadra. Nos ensaios, nos eventos de piloto de fantasias, no aniversário da escola, vinte e quatro horas de samba, o pessoal sai da quadra e vai até a barraca para tomar um caldo, comer um cuscuz e bater um papo. Minha barraca é frequentada não só por sambistas da mocidade, ela também é conhecida por pessoas das outras escolas. Vila Maria, Rosas de Ouro, Peruche, Morro da Casa Verde, Independente, Dragões, Tatuapé, Mocca, Nenê, Vai Vai, Império da Casa Verde, X9, também são meus clientes. Estou sem barraca, mesmo com meu alvará, não posso montar nada. Se tentar e tiver aglomeração, perco minha licença”.
Gisele, que já foi destaque de chão da Mocidade Alegre, teve a ideia de montar seu negocio após ser demitida de uma empresa privada e não conseguir se realocar no mercado de trabalho. Hoje emprega a mãe de 66 anos que também vive da renda deste trabalho. A comerciante possui seis anos de casada e seu esposo também ajuda na montagem/desmontagem do empreendimento, que começou com faturamento de cinco mil reais por semana, mas nos últimos anos caiu para metade deste valor.
“Trabalho com a minha mãe, Maria Helena Xavier, desde o começo. Mesmo sendo minha mãe, ela é remunerada. Toda sexta feira e Domingo, ela recebe o cachê dela. Meu marido monta barraca enquanto eu fico em casa fazendo e terminando as coisas. Depois nos juntamos os três para vender. A economia no país começou a piorar de uns tempos, aí passamos a faturar muito pouco. Agora, com a pandemia, consigo vender trezentos reais por semana aqui, fazendo a Barraca da Gi na minha casa”, finaliza a comerciante.
Rosimeire Silva, que trabalha com venda de lanches, cervejas e porções na Porta da Sociedade Rosas de Ouro, teve impacto de 50% da sua renda afetada com a suspenção dos ensaios. A informal, de 55 anos, possui 28 anos de barraca, emprega cinco pessoas em estádios de futebol, nos ensaios da Roseira e também na Camisa Verde e Branco. Rosimeire, que entre o período de Setembro a Fevereiro, chegava faturar até três mil reais por semana, acredita que até o inicio do ano que vem o cenário melhore.
“Se a situação da pandemia atual permanecer em baixa, acredito que entre Fevereiro ou Março vamos ter uma melhora, tanto para o comercio quanto para o lazer”
Com a falta de uma vacina eficaz contra o covid-19, nas Escolas de Samba Paulistanas o que reina é a cautela. A tradicional Vai Vai já trabalha no enredo “Sankofa”, se adaptando a realidade do chamado “Novo Normal“, como explica Gabriel Mello do Departamento de Carnaval da Escola.
“A arrecadação financeira com os eventos de quadra e festas faz parte do planejamento de qualquer Escola de Samba. O cancelamento temporário dessas atividades, obviamente impacta no aspecto financeiro do VAI VAI e de todas as outras agremiações, contudo, não é exclusividade do nosso meio. O mundo hoje sofre com as consequências da Pandemia, e todo ambiente que, dê alguma forma, envolva atendimento ao público ou prestação de serviço está sendo obrigado a se adaptar nessa nova realidade. É isso que a gente vem fazendo! A construção do nosso projeto carnavalesco já foi pensada imaginando essas dificuldades, idealizando um desfile com materiais disponíveis no mercado (a grande maioria nacionais) e soluções menos custosas com alternativas que nos ofereçam um efeito de qualidade e bom gosto. Temos que tirar da cabeça aquilo que não temos no bolso – como diria Fernando Pamplona“, explica Gabriel.
Sobre a decisão da Prefeitura do Rio em autorizar, por decreto, eventos em quadras de Escolas de Samba, no que foi denominado como última etapa do Plano de Retomada das Atividades Econômicas da capital carioca, Gabriel prefere não avaliar, mas se mostra preocupado com o aumento dos números de casos de pessoas .
“Nós observamos o crescimento abrupto de casos nos últimos dias. Algumas autoridades já falam em segunda onda, inclusive. Então, fica difícil fazer juízo de valor sobre a situação carioca, uma vez que estamos em São Paulo e seguindo rigorosamente os protocolos de segurança que nos foram passados. À parte disso, o VAIVAI só retomará os eventos presenciais normalizados quando ficar claro que nossa comunidade estará segura. Zelar pela vida e bem estar do outro é uma missão nesse momento. Vidas não tem preço. Dinheiro a gente corre atrás“, finalizou o Diretor.