Vamos Relembrar 30 anos da”Paulicéia Desvairada”! A noite do sacode da Estácio de Sá na Marquês de Sapucaí

No dia 02 de Março de 1992, a Estácio de Sá entraria para a história ao apresentar um desfile que literalmente levantou todas as arquibancadas da Marques de Sapucaí. Terceira escola naquela Segunda Feira, apresentando o samba-enredo “Paulicéia desvairada, 70 anos de modernismo no Brasil“, a Estácio de Sá, que já vinha obtendo boas colocações em carnavais anteriores, conquistaria seu primeiro e unico titulo no Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Em 1992, a expectativa no país era que o tricampeonato da Mocidade Independente de Padre Miguel era aposta certa. Apesar do favoritismo da verde e branco, a “Pauliceia Desvairada” da Estácio, que remetia à Semana de Arte Moderna de 1922, passou de forma avassaladora na avenida.

O samba, de autoria de Djalma Branco, Déo, Maneco e Caruso, muito popular na época e interpretado de forma histórica por Dominguinhos do Estácio, causou uma onda de euforia que seguiu por todos os setores até o final do desfile. O público em delírio abraçou a escola e ovacionou a agremiação com coreografias sincronizadas.

Presidida pelo controverso Acyr Pereira Alves, a campeã de 1992 tinha um elenco de peso entre as grandes escolas do Rio. Na bateria, Mestre Ciça e, no auge da carreira, a Rainha Monique Evans, Claudinho e Selminha Sorriso formavam o primeiro casal, o saudoso Dominguinhos, ausente desde 1989, estava de volta aescola. Os promissores, hoje consagrados, carnavalescos Mário Monteiro e Chico Spinosa comandavam o barracão vermelho e branco.

O desfile sobre os 70 anos do Mordenismo causou impacto já na abertura com a comissão de frente, comandada por Geraldo Miranda, composta por 15 integrantes da Intrépida Trupe vestidos de pierrôs, arlequins e colombinas sobre pernas de pau. Outra grande imagem da abertura foi o abre-alas, inspirado na estética modernista, todo vazado, que retratava o Theatro Municipal de São Paulo.

Todas as alegorias apresentadas pela escola eram de fácil compreensão, com destaque para a alegoria do Trenzinho do Caipira,  inspirado na composição de Heitor Villa-Lobos parte integrante da peça Bachianas brasileiras nº 2, que ia de um lado para o outro na pista e fazia o costumeiro “piuí”. Destaque-se não serem as alegorias da Estácio tão grandiosas quanto outras que passaram pela Sapucaí naquele ano, mas a mensagem que queriam passar foram de pronto assimiladas pelo público presente.

Miss Brasil em 1985, a modelo Márcia Gabrielle brilhou como destaque do carro “Palácio floral entre luzes elétricas”. Outra grande figura neste desfile foi a lendária Maria Lata D’Água, que fez história no carnaval desfilando com uma lata de 20 litros cheia de água, sobre a cabeça.

Um pausa para falar de Lucina Sargentelli

Filha de Oswaldo Sargentelli, que fez sucesso ao produzir inesquecíveis shows de mulatas nos anos 70 e 80, a passista Luciana Sargentelli tem um capitulo a parte neste desfile. A bela mulata comoveu toda a avenida ao sangrar, literalmente, durante a passagem vitoriosa do Leão. Após perder o posto de rainha de bateria, que ocupava desde o carnaval de 1989, para a modelo Monique Evans, criou-se uma enorme confusão na mídia apontando a vilã e mocinha da história. Sobre uma possível rivalidade, na época Luciana explicou que sua resposta seria na Avenida. Pouco antes do desfile uma chuva fina insistia em cair na região onde está localizada a Sapucaí. Desfilando em um tripé extremamente escorregadio, a solução criada por Luciana foi tirar a sandália.

A chuva fez com que os espelhos que que decoravam a varanda da alegoria se soltassem e pequenos cacos de vidro cortavam seus pés, Luciana, que não parou de sambar. Sambou e sangrou pela escola inteira e roubou a cena no desfile, tranformando sua perfomance em uma passagem heroica e consagradora pela Avenida.

Muita coisa mudou na Estácio de Sá após o histórico 1992

Após passagem de todas as escolas, a midia cravou que o sonho do tricampeonato da Mocidade estava ameaçado. E estavam certos, na apuração a Estácio de Sá, com 298,5 pontos, conquistou seu primeiro título na elite do carnaval carioca. Campeã nos dois anos anteriores, a Mocidade Independente de Padre Miguel ficou com o vice-campeonato com 297 pontos. Imperatriz, Salgueiro e Portela completavam, respectivamente, o pódio das 5 melhores de 1992.

Após o histórico campeonato de 92, Bicho Novo, baluarte e ex mestre sala da escola, declarou que “tinha certeza de que não morreria sem ver a vitória da minha escola!” faleceu em 1995. A Estácio de Sá viria obter péssimas colocações em anos posteriores, até sofrer o rebeixamento em 1997. O velho Leão entraria em uma crise que dura até os dias atuais, voltando ao Grupo Especial apenas em tres ocasiões e sendo rebaixada em todas elas.

Claudinho e Selminha se despedem da Estácio após o carnaval de 1996, hoje brilham na Beija Flor de Nilópolis

Dominguinhos do Estácio, falecido recentemente, saiu da escola após o carnaval de 1995, só retornaria em 2014. O casal Claudinho e Selminha Sorriso se despediram em 1996, rumo a Beija Flor de Nilópolis, e lá estão brilhando até hoje. Em 1997, Mestre Ciça fez seu ultimo desfile pela escola, foi comandar a bateria da Unidos da Tijuca no carnaval de 98. Depois de consagrada, Luciana Sargentelli abandou a avenida anos depois e hoje prefere o anonimato.

Consagrada como a imagem do carnaval de 1992, Luciana Sargentelli abanbdou a avenida anos depois e hoje prefere só assitir os desfiles

O Presidente Acyr Pereira Alves, aos 59 anos, foi assassinado em 2002 com um tiro na cabeça em um bar no Méier (zona norte do Rio). Sendo o segundo o segundo dos tês ex Presidentes da Escola que seriam assassinados. Em 1983, Antonio Gentil também morreu nas mesmas circuntâcias. Em 2006, Flávio José Eleotério, Presidente da vermelho e branco na época, também foi encontrado morto em seu carro com sinais de execução.

Os carnavalescos Mário Monteiro e Chico Spinosa tiveram uma desavença após o campeonato e desfizem a dupla. Chico ainda fez o carnaval da Estácio em 93, obtendo a sexta colocação, saindo da escola para assumir a plástica da União da Ilha em 94.

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