Sete escolas de samba desfilaram no grupo especial do carnaval de Vitória/ES nesta edição de 2020, verdadeira superação das muitas dificuldades financeiras que o carnaval vem passando pelo Brasil afora, mas o sambista de verdade não se deixa vencer por qualquer dificuldade, pois sua redenção é poder ver sua agremiação carnavalesca entrar numa pista de desfile de uma forma digna e respeitosa, com seu pavilhão tremulando nas mãos dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, que com seu bailar elegante e respeitoso, tem a grande missão de apresentar a bandeira, símbolo máximo de cada escola, ao público presente ao longo da passarela.
Muitos ensaios com certeza foram efetivados nas quadras e nas ruas, para que cada agremiação fizesse bonito na pista de desfile. Muitas noites de sono foram perdidas por aqueles responsáveis pela concretização de cada enredo, de cada sonho que precisou ser concretizado para passar frente aos olhos da platéia, sempre atenta e ávida por belos espetáculos.
Como um grande espetáculo que culmina com o desfile em um concurso oficial, espetáculo este que mesmo que seja muito ensaiado, acontece ao vivo, e que por isso dá vazão a que falhas inesperadas aconteçam nesse momento de apoteose, algumas falhas que conseguem passar despercebidas do grande público, mas que também adquirem grandes proporções, o que faz com que fiquem para sempre marcadas na memória do amante do carnaval.
O desfile do grupo especial das escolas de samba de Vitória, na noite passada, foi um misto de tudo isso, alegria, tristeza, perfeição, desolação, falha técnica e humana, dentre outras e são estas circunstâncias que vão decidir quem será a grande campeã deste carnaval.
Se quer que a regra de que ganha o campeonato quem menos erra consiga ser seguida e que tenha sido esta orientação utilizada pelos diversos julgadores, que tiveram a árdua tarefa de realizar o julgamento de cada desfile, com um olhar técnico e desapaixonado, situação esta que é um ideal que se tem que perseguir, para este tipo de avaliação.
A apuração dos resultados será na próxima quarta-feira, dia 19 de fevereiro, com horário marcado para iniciar às 15h00min no Sambão do Povo, quando serão desvendadas as notas atribuídas pelos julgadores aos nove quesitos analisados, que foram bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente e casal de porta-bandeira e mestre-sala.
Terminados os desfiles, depois da passagem das sete agremiações capixabas, observou-se que existem escolas aptas a serem favoritas para o título, assim como hão agremiações que muito remotamente poderão atingir o topo do pódio do carnaval do Espírito Santo.
Comecemos por aquelas que dificilmente poderão ter um resultado exitoso, frente aos desfiles que apresentaram e que de quebra precisarão de muita torcida para que no carnaval de 2021 não venham no grupo A, fruto de um rebaixamento para o grupo imediatamente inferior ao grupo especial, a elite do carnaval capixaba.
Em ordem de desfile, a Imperatriz do Forte, que apresentou o enredo “Das terras de Vila Rica à Vila Nova do Espírito Santo: Imperatriz engalanada apresenta a Rota Imperial de São Pedro D’Alcântara” do carnavalesco Elidio Neto e uma comissão de carnaval.
A escola apresentou problemas com o acabamento e concepção nas três alegorias apresentadas, além do tripé da comissão de frente. O tripé da comissão de frente apresentou problemas de acabamento e problemas de ordem mecânica, que hora e meia levavam o tripé para um dos lados da pista, com dificuldades para o alinhamento deste no centro da passarela. Observou-se dificuldades para o deslocamento deste tripé ao longo do desfile.
A ala de baianas da Imperatriz do Forte não tinha o número mínimo de componentes, que segundo o regulamento são trinta baianas agrupadas, obrigatoriedade que pode levar a escola a ser penalizada com a perda de nota.
Para o enredo da escola imaginava-se um desfile mais requintado e com toques de suntuosidade, mas a realidade foi bastante diferente naquilo apresentado. Fantasias de alas bastante simples e em alguns casos de difícil compreensão sobre seu real significado.
O último carro alegórico da escola foi o pior em termos de concepção e realização, com falta de acabamento por completo.
A Imperatriz do Forte pelo menos desfilou dentro do tempo máximo de desfile segundo o regulamento, não devendo perder pontos nesta situação, mas pelo desfile apresentado dificilmente estará entre as primeiras colocadas.
Já a São Torquato, campeã do acesso em 2019, que encerrou os desfiles já com dia claro na capital do Espírito Santo, apresentou bom contingente de desfilantes, mas pecou também com referência às alegorias apresentadas pela escola.
O tripé da comissão de frente, mesmo que tenha funcionado para o fim a que se propunha, carecia de um melhor acabamento e concepção. O carro abre alas da agremiação acabou entrando fora da ordem do desfile, já que teve problemas mecânicos na concentração e para que conseguisse entrar na passarela, teve que ter elementos retirados no seu lado esquerdo, deixando aparente a ferragem que estruturava o carro e seu madeiramento, mesmo que fosse uma alegoria bem concebida e com esculturas bastante interessantes. Em determinado momento do desfile o carro adernou para a esquerda, quase atingindo a grade que delimita a passarela e foi difícil para os responsáveis de novo alinhar a alegoria na pista para continuar o desfile.
Além disso somente entraram na pista duas alegorias, além do tripé da comissão de frente, o que deve trazer prejuízo a escola em termos de pontuação.
Não bastando isso, a escola que demorou a entrar na pista para seu desfile, acabou estourando o tempo máximo de 62 minutos estabelecido no regulamento, o que deverá lhe tirar pontos preciosos na abertura dos envelopes, na apuração das notas.
O conjunto do desfile da São Torquato não lhe credencia a estar entre as primeiras colocadas.
A Novo Império veio com um enredo de cunho social, com relação aos direitos das crianças e dos adolescentes, garantidos pela nossa legislação, mas que muitas vezes não são respeitados como deveriam.
Interessante a concepção e realização do elemento alegórico da comissão de frente, aparentemente com acabamento satisfatório e não apresentando problemas técnicos ou mecânicos para que tivesse uma passagem tranquila no Sambão do Povo. A mesma coisa repetiu-se com o abre alas da agremiação.
Fantasias bastante interessantes e bem realizadas, com fácil interpretação de seu significado dentro do desfile realizado.
Tripé do carrossel também bem realizado e acabado, o mesmo se observando no carro dos doces e brinquedos e na última alegoria apresentada.
Pelo que se observou foi a escola com bateria com maior número de componentes a passar no Sambão do Povo.
Mas a Novo Império também estourou o tempo máximo de desfile, assim como aconteceu com outras agremiações, mas não teve problemas com a passagem das alegorias na passarela.
A nossa aposta é que fique numa posição intermediária pós apuração das notas.
A Boa Vista, campeã do grupo especial de 2019, veio homenageando músicos capixabas, tendo por isso muitos dos homenageados presentes ao desfile da escola.
Alegorias bem projetadas e realizadas, com acabamento satisfatório foram apresentadas pela escola. Esculturas muito bem concebidas e com movimentos bem realizados, dando uma ideia de realidade.
Fantasias bem concebidas e com leitura, na maioria dos casos, fácil, especialmente para quem tem intimidade com o mundo da música do Espírito Santo.
A Boa Vista é candidata ao título deste carnaval de 2020, depois do desfile apresentado, título que se vier depois da apuração, faz a escola ser bi-campeã do carnaval capixaba.
A Mocidade Unida da Glória, carinhosamente conhecida como MUG, não fugiu à regra e veio grandiosa, imponente para seu desfile.
Muito diferente de suas características, veio com uma evolução muito lenta, puxada por uma comissão de frente com apresentação bastante complexa e longa, mas que fez bem o seu papel dentro daquilo organizado e planejado pela escola. Elemento alegórico da comissão de frente grandioso, com interação com os componentes da comissão de frente.
Abertura imponente, com carro abre alas bastante alto, muito bem acabado e com concepção perfeita, assim como aconteceu com os demais carros e tripé apresentado pela escola. Os leões, símbolo da agremiação muito bem esculpidos e apresentados.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira nas cores da escola com bailado preciso e muito elegante na apresentação do pavilhão da agremiação.
Ala de baianas também de uma beleza impressionante, na cor verde.
Mas o fato é que a escola estourou e muito o tempo máximo que tinha para sua apresentação, devendo ser penalizada por isso, podendo ainda ter problemas nos quesitos harmonia e evolução.
Deve estar sim entre as primeiras colocações, mesmo com os problemas que sofreu durante o desfile.
A Unidos de Jucutuquara veio sem seu símbolo, que é a coruja, de forma absoluta no abre alas, como é de costume, tendo optado pela representação desta em sua última alegoria.
A comissão de frente da agremiação não tinha elemento alegórico, mas sim caixa preta, denominada de “baú de recordações”, tendo feito bem o seu papel e executado uma coreografia bastante interessante.
Carro abre alas majestoso, com excelente concepção e realização, com acabamento bastante satisfatório.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira com indumentária de acordo com o enredo.
Baianas leves, com saias confeccionadas em E.V.A. o que trouxe cores suaves, leveza e facilidade para que as componentes pudessem evoluir na pista sem dificuldade.
Segunda e terceira alegoria também bem realizadas e sem problemas para atravessarem a passarela.
Último carro teve problemas para finalizar a sua passagem pela pista do Sambão do Povo, já que adernou para o lado direito da pista, precisando de muita força de componentes da escola, para que voltasse a alinhar e terminar sua apresentação. Além disso, produziu fumaça estranha ao seu funcionamento, provavelmente por algum problema no gerador de eletricidade instalado no carro.
Fantasias no geral bem realizadas e de fácil interpretação.
A Jucutuquara também se credencia a estar entre as melhores colocações pelo desfile realizado.
Por fim, a primeira escola a entrar na passarela foi a Unidos da Piedade, com o enredo “Francisco’s”, com a finalidade de homenagear nove Franciscos, desde São Francisco de Assis até o atual Papa Francisco.
Destaque para a comissão de frente com uma coreografia cheia de movimentos e vibrante.
No tocante ao primeiro casal de porta-bandeira e mestre-sala, este não terminou seu desfile, já que foi avaliado somente na primeira cabine de jurados, uma vez que a porta-bandeira sentiu-se mal e acabou tendo que ser carregada para fora da pista de desfile, aparentemente desmaiada. Com esta situação, o segundo casal acabou tendo que terminar o desfile e ser avaliado em seu bailado até o final da pista do Sambão do Povo, o que poderá comprometer a classificação da escola.
Carro abre alas muito bem concebido e realizado, com ótimo acabamento aparente, realizado com materiais alternativos muito bem colocados pelo carnavalesco.
Ala de baianas muito bem realizada representando as águas do rio São Francisco.
A última alegoria teve dificuldades para entrar na pista de desfile, tendo sofrido avarias no tecido de revestimento da saia da alegoria bem como na escultura em seu lado esquerdo, já que chocou-se contra as grades localizadas na entrada da pista.
Ótimo samba, que muito auxiliou na ótima evolução da agremiação.
Mas o palpite é que se classifique em posição intermediária depois de passada a apuração.
Por fim importante que se explique que o maior respeito merecem todas as agremiações carnavalescas, pois o sacrifício para estarem na pista de desfile, honra a tradição do samba, que precisa cada vez mais ser preservado em suas raízes como patrimônio do povo brasileiro nesta nossa maior festa que é o carnaval brasileiro.
Por Sidnei Louro Jorge Júnior